Tatiana descreveu que o aparelho CPAP tem como objetivo tratar das apneias do sono, gerando um fluxo de ar e uma pressão que contribuem para abrir as vias aéreas dos pacientes enquanto eles dormem, melhorando a qualidade do sono e de todo o sistema respiratório. As apneias são identificadas através de consultas clínicas e exames de polissonografia que acompanham os movimentos do paciente enquanto ele dorme.
“As apneias são pequenas paradas na respiração enquanto estamos dormindo, que costumam durar no mínimo dez segundos. Isso, além de oscilar o oxigênio, começa a fragmentar a noite de sono. O CPAP, ao realizar essa pressão aérea, não deixa a faringe fechar, consequentemente, permitindo que haja um controle da respiração e que o sono não seja interrompido”, explicou.
A especialista indicou que o uso do aparelho é indicado em uma série de casos, como ronco; apneias leves, moderadas e graves; e casos de síndrome de resistência de via aérea superior. Além disso, de acordo com Tatiana, o CPAP pode contribuir para melhorar a qualidade de vida de pacientes que se encaixam em outros quadros clínicos, por exemplo, evitando a fibrilação arterial que pode levar a um acidente vascular cerebral, melhorando os prognósticos de AVCs, dos desfechos metabólicos e cardiovasculares, e elevando a rotina dos pacientes ao acentuar a concentração e tirar a sonolência excessiva.
“A gente sabe que a adaptação ao CPAP é desafiadora, são muitos os fatores que podem dificultar a adesão. Se o paciente começa a usar o aparelho com o nariz obstruído, ele vai arrancar a máscara no meio da noite; se ele tem uma amígdala muito grande, vai precisar de uma pressão maior para não colapsar. Hoje em dia a cirurgia tem evoluído muito também, então a gente consegue desobstruir a via aérea para facilitar o uso do CPAP, o que é sempre muito interessante”, disse.
Monitoramento a distância
O acompanhamento a distância do uso do aparelho do CPAP é algo que está em ascensão desde antes da pandemia de coronavírus se alastrar por todo o mundo. Os aparelhos contam com cartões de memória e transmissões de dados que guardam todas as informações sobre as movimentações do sono do paciente, preenchendo relatórios aos médicos que permitem avaliações remotas dos diferentes casos.
“Eu costumo falar que a Medicina do Sono é multiprofissional, a gente trabalha em um time. Então, junto com os fisioterapeutas, nós podemos ter acesso aos dados que os aparelhos nos enviam e assim podemos analisar as horas de uso
que o paciente está fazendo da máscara, se há vazamento de ar, quais dias da semana ele está usando. Com a pandemia essa estrutura vem aumentando bastante, mas antes dela nós já usávamos também. Esse acompanhamento a distância é fundamental para a gente fazer ajustes, verificar se o tratamento está sendo eficaz e propor novas terapias”, apontou.
Para a monitorização presencial dos pacientes, Tatiana indicou que o acompanhamento deve ser feito semanalmente no primeiro mês, depois trimestralmente e após todo o processo de adaptação, é importante que as consultas presenciais se tornem anuais. A otorrinolaringologista ressaltou também a importância de não deixar o tratamento de lado após completar o primeiro ano, tendo em vista que a apneia é uma doença crônica e estará para sempre presente na vida dos pacientes, portanto, o acompanhamento médico é fundamental para garantir qualidade em todos os aspectos da vida dos que são acometidos por problemas relacionados ao sono.
De acordo com artigos franceses, como expôs a convidada, os pacientes passaram a aumentar o nível de uso do CPAP durante a pandemia por conta de uma série de fatores, entre eles, a proteção contra o vírus. “Nós recomendamos que os pacientes continuem usando as máscaras para dormir durante este período e evidenciamos que o cuidado com a higiene deve ser redobrado nesta época, ou seja, o aparelho precisa estar sempre sendo limpo, com um cuidado maior para não transmitir partículas do vírus enquanto o CPAP está sendo utilizado, prestando atenção para não contaminar outras pessoas ao redor.”
Nos casos em que a qualidade do sono não é efetiva mesmo com o uso do aparelho, a médica recomenda fazer análises mais eficazes sobre as possíveis causas do problema. De acordo com ela, para o CPAP ser eficaz, ele precisa ter mais horas de uso. Caso o paciente utilize a máscara para dormir durante um período adequado e os relatório sobre o seu sono estejam em perfeitas condições, será necessária uma investigação mais crítica para conseguir resolver o problema.
“Quando um CPAP é bem indicado o paciente consegue benefícios incríveis nessa terapia, como evitar eventos cardiológicos importantes, de tentar controlar uma arritmia, de acordar mais bem disposto, com energia para fazer uma atividade física, conseguir perder peso etc. Junto com colegas da fisioterapia e da fonoaudiologia, o Brasil está tendo uma adaptação de cerca de 80% de pacientes que fazem o uso do aparelho, de acordo com dados recentes. O que é uma maravilha e é isso o que a gente quer ver no nosso dia a dia, nossos pacientes acordando bem, sem dor de cabeça, sem alteração de humor, bem dispostos”, encerrou.
Sleep Talks
A próxima transmissão da série acontece em 1º de setembro, às 19h, com a presença do neurologista Álvaro Pentagna. Ele falará sobre a relação entre “Sono e Imunidade”. Confira as demais datas:
– 15 de setembro, a neurologista Rosa Hasan esclarece todas as eventuais dúvidas referentes ao sono;
– 29 de setembro, o pneumologista Mauricio Bagnato traz “Dicas para dormir melhor ajustando o relógio circadiano.
Todas as lives são realizadas pelo perfil oficial da APM no Instagram e contam com moderação de Andrea Toscanini, presidente do XVIII Congresso Paulista de Medicina do Sono.