Na última semana, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, divulgou uma edição especial de Boletim Epidemiológico, que apresenta o panorama da sífilis no Brasil. O órgão destaca que a doença permanece um grande desafio para a saúde pública. Em 2022, o número estimado de novas infecções em adultos entre 15 e 49 anos no mundo aumentou em cerca de 1 milhão.
O documento também salienta que o aumento das infecções por sífilis pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo a falta de conscientização sobre a doença, as desigualdades no acesso aos serviços de Saúde, as dificuldades no diagnóstico e tratamento precoce, além do estigma persistente em torno das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Sífilis adquirida
Entre 2010 e 2024, o Brasil registrou 1.538.525 casos de sífilis adquirida, com uma tendência de crescimento ao longo de todo o período da pesquisa, exceto em 2020, quando houve uma redução para 59,7 casos por 100 mil habitantes. No ano seguinte, o número voltou a crescer, atingindo 81,4 casos por 100 mil habitantes, e alcançou 113,8 casos por 100 mil habitantes em 2023, a maior taxa registrada no período.
Do total de casos notificados no País durante todo o mapeamento, 40,2% ocorreram na região Sudeste, 21,8% no Sul, 14,4% no Nordeste, 7,2% no Centro-Oeste e 6,3% no Norte. Em 2023, foram registrados 114.913 casos (47,3%) no Sudeste, 49.931 (20,6%) no Sul, 39.391 (16,2%) no Nordeste, 20.881 (8,6%) no Centro-Oeste e 17.710 (7,3%) no Norte.
Entre as unidades federativas, em 2023, Santa Catarina apresentou a maior taxa de detecção de sífilis adquirida, com 233,7 casos por 100 mil habitantes. Em seguida, aparecem Espírito Santo (187,8), Acre (182,4), Rio Grande do Sul (158,6), Roraima (137,9), Goiás (136,0), Rondônia (135,4), Rio de Janeiro (134,7), São Paulo (128,9), Mato Grosso do Sul (128,7), Tocantins (127,1), Paraná (125,9) e Distrito Federal (119,8).
Com relação ao perfil dos infectados, em 2023, homens representaram 60,9% dos casos totais, com taxas de detecção de 259,9 e 161,6 casos por 100 mil habitantes nas faixas etárias de 20 a 29 anos e de 30 a 39 anos, respectivamente.
Transmissão vertical e gestantes
O Ministério da Saúde define a transmissão vertical como a doença transmitida da mãe com sífilis – não tratada ou tratada inadequadamente – para a criança durante a gestação, podendo também ocorrer no momento do parto. O documento destaca que o contágio é evitável, desde que a gestante infectada receba o tratamento adequado.
Entre as gestantes, aproximadamente 68,6% tiveram a sífilis diagnosticada no primeiro ou segundo trimestres da gravidez. O estudo observou uma tendência positiva ao longo dos anos, com aumento do percentual de gestantes diagnosticadas no primeiro trimestre, passando de 25,6% em 2013 para 48,1% em 2023.
As regiões Sul (56,8%) e Sudeste (53,7%) apresentaram os maiores percentuais de diagnóstico da infecção no primeiro trimestre gestacional, enquanto a região Nordeste se destacou com 38,8% das gestantes diagnosticadas apenas no terceiro trimestre.
Em 2023, 60,1% das grávidas notificadas com sífilis estavam na faixa etária de 20 a 29 anos. Além disso, 20% dos casos ocorreram em gestantes entre 10 e 19 anos. Em relação à raça ou cor, mais da metade das gestantes notificadas com sífilis em 2023 se declararam pardas (53,1%), seguidas por brancas (28,8%) e pretas (12,5%).
Mortalidade por sífilis congênita
Entre 1998 e 2023, o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) registrou 3.554 óbitos por sífilis congênita em crianças menores de um ano. Destes, 1.493 (42,0%) ocorreram na região Sudeste, 1.070 (30,1%) no Nordeste, 438 (12,3%) no Norte, 340 (9,6%) no Sul e 213 (6%) no Centro-Oeste.
No âmbito nacional, o coeficiente de mortalidade infantil específica aumentou 39,4% entre 2013 e 2023, passando de 5,5 para 7,7 óbitos por 100 mil nascidos vivos. No último ano deste levantamento, foram registrados 196 óbitos por sífilis congênita, uma redução de 4,4% em relação a 2022, quando o coeficiente foi de 8,1 óbitos por 100 mil nascidos com vida.