Poucos dias após a organização japonesa Nihon Hidankyo – formada por sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki e que luta pela abolição das armas nucleares – ter vencido o Prêmio Nobel da Paz de 2024, a Associação Paulista de Medicina recebeu uma delegação japonesa composta por médicos, sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e de Nagasaki e representantes oficiais do Japão.
O presidente e o vice-presidente da APM, Antonio José Gonçalves e José Luiz Gomes do Amaral, respectivamente, recepcionaram os convidados na última quarta-feira, 16 de outubro, e relembraram a parceria com a Associação Médica de Hiroshima iniciada em 2008.
“É uma satisfação recebê-los mais uma vez nesta casa, e é fundamental lembrar o que aconteceu em Hiroshima e em Nagasaki para que possamos evitar tragédias semelhantes no futuro. Contem conosco”, afirmou Gonçalves.
Amaral agradeceu a visita e destacou a forte relação entre os médicos brasileiros e japoneses, especialmente durante seu período como presidente da Associação Médica Mundial (WMA), entre 2011 e 2012. “Essa amizade fraterna é um privilégio, e o nosso desejo é que os sobreviventes possam viver longos anos com a gente”, comentou.
Já o presidente da Associação de Medicina da Província de Hiroshima e líder da missão japonesa, Makoto Matsumura, ressaltou o fato de que já se passaram 79 anos desde o lançamento da bomba atômica em Hiroshima. “Atualmente, são 71 sobreviventes vivendo no Brasil. Viemos em uma missão governamental para oferecer suporte a eles”, contou.
Apoio contínuo
Também presente no evento, a secretária do Serviço Social e Saúde da Província de Hiroshima, Kanako Kitahara, expressou satisfação de retomar as visitas. “Esse suporte é essencial e esperamos fortalecer nossa parceria ainda mais com vocês”, acrescentou.
Hiroshi Miyoga, diretor-executivo da Associação de Medicina da Província de Hiroshima, falou sobre sua primeira visita a São Paulo. “Sou grato de poder estar aqui hoje. Nosso compromisso é continuar apoiando os sobreviventes enquanto eles estiverem conosco, muitos com mais de 80 anos. Estamos tentando dar aconselhamento para essas pessoas”, afirmou.
O presidente do Hospital da Cruz Vermelha de Nagasaki, Masaya Shigeno, contou que pôde conversar com quatro sobreviventes de Nagasaki durante a visita ao Brasil. “Ouvi a verdade nua e crua daquele dia. Gostaria de reiterar o quanto é importante estarmos aqui para tratar dos sobreviventes. Quero continuar fazendo parte deste grupo”, reforçou.
Além deles, estiveram presentes no encontro Hiromi Sekino, Yoko Kawamoto e Tomoka Sera, do Departamento de Assistência às Vítimas da Bomba Atômica. Participaram também os sobreviventes de Hiroshima Kunihiko Bonkohara e Junko Watanabe, membros da Associação das Vítimas da Bomba Atômica residentes no Brasil. Junko, que mora no Brasil há 57 anos, é uma ativista e luta pela paz em um mundo sem armas nucleares. “É muito bom poder contar com a ajuda de vocês”, ressaltou.
Por fim, Bonkohara falou dos perigos da radiação e lembrou que muitos de seus familiares morreram de câncer. “As radiações são muito perigosas e, hoje, estou em tratamento do câncer de próstata. Bomba atômica nunca mais”, concluiu.
Exposição
Entre 2010 e 2019, a APM realizou a exposição “Hiroshima e Nagasaki: um agosto para nunca esquecer!” relembrando a história dos lançamentos das bombas atômicas, em 1945, que causaram a morte de milhares de pessoas. Além da sede da Associação, a mostra percorreu 14 Regionais e ocorreu também no Hospital Santa Isabel, em São Paulo, atingindo público superior a 25 mil pessoas.
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