Entenda o que é o HIV; risco de infecção como resultado de transplante de órgão é baixo

HIV é o Vírus da Imunodeficiência Humana. Ele invade e enfraquece o sistema imunológico, que protege o corpo contra doenças

O que diz a mídia

Seis pessoas que estavam na fila do transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) receberam órgãos infectados pelo HIV e agora testaram positivo para o vírus. O incidente é inédito na história do serviço.

O HIV é o Vírus da Imunodeficiência Humana. Ele invade e enfraquece o sistema imunológico, que protege o corpo contra doenças.

Segundo médicos infectologistas ouvidos pelo g1, o risco de infecção como resultado de um transplante de órgão é baixo:

  • Isso porque o processo de rastreamento infeccioso é extremamente criterioso no Brasil, abrangendo não só o HIV, mas também hepatites, além de doenças bacterianas e virais.
  • No SUS, o sistema de transplantes é um dos que funciona com excelência.

“O teste de HIV é muito sensível e o risco de um teste falso negativo é muito pequeno. A transmissão do HIV, em transplante de órgao, é completamente inesperada e evitável”, diz Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

No caso do Rio de Janeiro, o governo do estado informou que o erro foi atribuído ao laboratório privado PCS Lab Saleme, localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

A Anvisa descobriu ainda que o PCS não tinha kits para realização dos exames de sangue nem apresentou documentos comprovando a compra dos itens, o que levantou a suspeita de que os testes podem não ter sido feitos e que os resultados tenham sido forjados.

“Os novos testes contra HIV têm uma janela de apenas quatro semanas, o que torna o risco de contaminação muito baixo, pois são altamente sensíveis para diagnosticar o vírus”, explica Álvaro Costa, infectologista do Hospital das Clínicas da USP.

“Nesse processo, é fundamental conversar com o doador, avaliar os exames e garantir que a investigação seja feita corretamente. O problema surge quando não se realiza essa avaliação completa no doador”, acrescenta Costa.

O vírus atinge principalmente os chamados linfócitos T CD4+Ele modifica o DNA dessas células e se replica. Após se multiplicar, o HIV destrói os linfócitos e continua a infecção em novas células.

Por isso, caso não haja tratamento, ele pode causar a Aids (termo para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, em inglês).

Mas pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA) com carga viral indetectável, ou seja, uma baixa quantidade de cópias do vírus, têm risco ZERO de transmitir o HIV por via sexual e podem viver um vida NORMAL.

ENTENDA: Esse é um conceito que a ciência vem reforçando nos últimos 20 anos visto que o tratamento antirretroviral previne a transmissão do HIV. Em outras palavras, quando a carga viral é indetectável, o vírus não se transmite durante relações sexuais.

Já pessoas que vivem com HIV/Aids que NÃO estão em tratamento ou possuem carga viral detectável podem transmitir o vírus a outras pessoas (entenda mais sobre o tratamento abaixo).

O caso ocorrido ainda necessita de investigações mais minuciosas, porém não representa a realidade diária de pessoas transplantadas. As chances [de uma transmissão do tipo], na prática, são muito baixas.

— Maria Felipe Medeiros, infectologista com foco em saúde LGBTQIA+.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Health Resources and Services Administration supervisiona a doação e o transplante de órgãos, garantindo que os doadores sejam devidamente testados antes de seus órgãos serem aprovados para transplante.

Desde 2013, as diretrizes de saúde pública no país exigem que todos os doadores, vivos ou falecidos, sejam submetidos aos testes mais sensíveis disponíveis para minimizar o risco de transmissão de HIV.

Como são feitos os testes?

No Brasil e em outros países, o teste padrão para detectar o HIV é o ELISA de 4ª geração, que identifica o vírus em 95% dos casos após 4 semanas. Após 6 semanas, a precisão chega a praticamente 100%.

De acordo com o Ministério da Saúde, o procedimento começa com esse teste inicial, chamado de triagem sorológica.

Ou seja, se o resultado for negativo, a pessoa é considerada livre do HIV e não precisa de mais exames. Mas, se o resultado for positivo ou incerto, a amostra passa por um segundo teste, diferente do primeiro, para confirmar.

Além disso, testes adicionais como imunofluorescência ou western blot (um método para identificar proteínas) podem ser usados para garantir o diagnóstico.

Isto é, se o diagnóstico for positivo, o laboratório deve pedir uma nova amostra do paciente cerca de 30 dias depois para confirmar. Se houver diferenças nos resultados entre os testes, o exame western blot será necessário para esclarecer.

Como ocorre a transmissão?

A transmissão pode ocorrer por meio de relações sexuais sem proteção, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, caso não sejam adotadas as medidas preventivas necessárias.

Assim, a maneira mais eficaz de prevenir o HIV é a prevenção combinada, que utiliza várias abordagens simultâneas para atender diferentes necessidades e formas de transmissão.

PrEP, por exemplo, é uma das principais formas de prevenção do HIV. Comprimidos são tomados em esquemas diferentes (PrEP diária e sob demanda) antes da relação sexual, o que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.

Em casos de situação de risco, como sexo desprotegido ou uso compartilhado de seringas, o Ministério da Saúde orienta a testagem contra o HIV. Se a exposição ocorreu há menos de 72 horas, procure informações sobre a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), um método de prevenção com o uso de medicamentos antirretrovirais após um possível contato.

Números do HIV e da Aids

A estimativa do Ministério da Saúde é de que um milhão de pessoas vivem com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino

Em 2022 (números mais recentes), o Ministério da Saúde registrou 10.994 óbitos tendo o HIV ou Aids como causa básica, 8,5% menos do que os 12.019 óbitos registrados em 2012.

Desse total, os negros representam quase o dobro de brancos.

Foram 61,7% mortes entre pessoas negras, sendo 47% pardos e 14,7% pretas.

Os brancos representaram 35,6% do total.

Apesar da redução, cerca de 30 pessoas morreram de Aids por dia em 2022.

Ainda segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2007 e junho de 2023, foram notificados 489.594 casos de infecção pelo HIV no Brasil. A maior incidência é entre homens e na faixa etária entre 25 e 39 anos.

Fonte: Roberto Peixoto/g1