Na última quarta-feira, 2 de outubro, a Associação Paulista de Medicina realizou webinar com o tema “Transtorno do Espectro Autista: Diagnóstico e Tratamento – Desafios e Avanços”. Os diretores científicos da APM, Paulo Pêgo Fernandes e Marianne Yumi Nakai, moderadores do encontro, receberam a psiquiatra e especialista em Infância e Adolescência, Rosa Magaly Morais, e o professor e coordenador da disciplina de Neurologia Infantil da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Paulo Breinis.
“É um prazer estar aqui com vocês para falar sobre TEA. Este é um assunto interessante, mas pouco discutido até recentemente. Hoje, ele domina a mídia até em questões de medicamentos e judicialização, tanto na Saúde pública quanto na privada. Este diagnóstico tem diversas implicações, e por isso é importante ouvirmos especialistas”, ressaltou Pêgo.
Antes de iniciar as apresentações, Marianne Nakai agradeceu a participação dos palestrantes. “Sem dúvida, este é um assunto que precisa ser cada vez mais debatido”, complementou.
TEA
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição de neurodesenvolvimento complexa que afeta comunicação, interação social e comportamento. Nos últimos anos, o número de diagnósticos e tratamentos tem aumentado expressivamente.
Rosa Magaly Morais iniciou sua apresentação citando uma importante discussão, principalmente na comunidade autista: se ele é um transtorno, uma deficiência ou uma diferença quando se fala em condição. “O primeiro ponto para discutir é sobre qual autismo estamos falando. Se a gente considerar o nível de comorbidade, se tem condições genéticas, podendo ser raras, alterações anatômicas, fisiológicas, variações cognitivas e mesmas altas habilidades, entendemos que há uma condição, mas é importante deixar claro que existe intensidade, frequência e perda com sintoma, e a gente trata como transtorno”, destacou.
De acordo com a psiquiatra, há uma epidemia de autismo. Segundo dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) de 2023, a cada 36 crianças que nascem nos Estados Unidos, 1 é autista. “Quando fiz o curso de Medicina, a gente não falava de TEA. Mesmo depois, nas minhas residências em Pediatria e, posteriormente, em Psiquiatria Geral, também não se falava em Transtorno do Espectro Autista. Comecei a estudar sobre o tema quando passei a fazer residência de Infância e Adolescência. Hoje é muito diferente, se discute muito mais a respeito.”
A médica acrescentou que, nos próximos cinco anos, cerca de 500 mil crianças nos Estados Unidos, que hoje são consideradas portadoras do Transtorno do Espectro Autista, se tornarão adultos do TEA. “Estamos preparados para lidar com esse público? Aqui, no Brasil, ainda não sabemos ao certo se essas proporções se aplicam, mas sabemos que há aumento de diagnósticos em mulheres e adultos”, pontuou.
Diagnóstico precoce
Paulo Breinis destacou, em sua apresentação, que na CID-11, última versão do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais de 2022 (DSM-5-TR), os diagnósticos de autismo passam a fazer parte dos Transtornos do Espectro do Autismo. Podem ser classificados em três níveis de suporte, conforme a possibilidade de autonomia: nível 1 de suporte (leve), nível 2 de suporte (moderado) e nível 3 de suporte (severo). Os níveis de autismo contribuem para entender a gravidade dos sintomas e identificar as necessidades de suporte, mas cada pessoa é única e pode apresentar sintomas diferentes de outros pacientes.
O neuropediatra explicou que o autismo primário representa 65% dos casos e ocorre em pacientes sem patologias associadas ou fatores biológicos que expliquem o TEA. Já no caso do autismo secundário, responsável por 35% dos casos, está relacionado a síndromes genéticas, infecções congênitas, prematuridade, anoxia, intoxicações, medicações, radiação durante a gestação, malformações cerebrais, erros inatos do metabolismo e epilepsia. “A genética é mandatória nos pacientes com autismo juntamente de fatores ambientais, que traduzem a epigenética”, afirmou.
Tanto o neuropediatra como o psiquiatra infantil podem realizar o diagnóstico do autismo. Rosa Magaly Morais reiterou que a avaliação do TEA precisa ser feita individualmente. “Com o diagnóstico precoce, você diminui o estresse parental, a possibilidade de fazer um diagnóstico comórbido ou diferencial, maximiza resultados, melhora o prognóstico, reduz custos e até contribui na identificação de familiares”, ressaltou.
No entanto, segundo ela, ainda existem alguns desafios para o diagnóstico precoce, como a falta de conscientização, ausência de marcadores biológicos, subjetividade diagnóstica, barreiras culturais e linguísticas, estigma social e financiamento limitado, entre outros.
Breinis, por sua vez, complementou que o tratamento do TEA não é medicamentoso, mas requer acompanhamento com médicos especialistas, como neuropediatra, psiquiatra infantil, geneticista, otorrinolaringologista, oftalmologista e nutrólogo. Outras áreas multidisciplinares também são fundamentais, como Psicologia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Psicopedagogia, Musicoterapia, Nutrição, Educação Física e Odontologia. “Não existe medicação específica para tratar o autismo. O aripiprazol e a risperidona são usados para controlar a irritabilidade e a agressividade do paciente”, concluiu.
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