Na última quarta-feira, 25 de setembro, a Associação Paulista de Medicina realizou webinar sobre Setembro Amarelo. Com foco no slogan da campanha, “Se precisar, peça ajuda”, a conferência contou com a apresentação do presidente da APM, Antonio José Gonçalves, acompanhado pelo diretor de Comunicação da entidade, Marcos Cabello dos Santos, e da diretora Científica adjunta, Marianne Yumi Nakai, como moderadores; o encarregado pela palestra da edição foi o psiquiatra forense e diretor Cultural da Associação, Guido Arturo Palomba.
Para Gonçalves, o Setembro Amarelo busca quebrar tabus, abrir diálogos e incentivar o apoio entre aqueles que enfrentam questões emocionais. “No mês da conscientização sobre a prevenção do suicídio, a Associação Paulista de Medicina faz este importante webinar que discutirá a saúde mental e a importância de pedir ajuda em momentos difíceis. Abordaremos como reconhecer os sinais de que alguém está passando por uma crise, como oferecer suporte e quais são os recursos disponíveis para buscar ajuda.”
Cabello, por sua vez, fez um breve histórico sobre o currículo de Palomba e salientou o privilégio da APM em ter na sua Diretoria um dos maiores expoentes da Psiquiatria nacional. “Guido é um querido amigo, um mestre, ele é de uma simplicidade absurda – e a simplicidade é o último grau da sofisticação. É uma honra estar aqui ao seu lado e com todos vocês esta noite.”
História da campanha
O especialista iniciou a apresentação relembrando que o mês de setembro é o escolhido para reforçar a importância da prevenção ao suicídio por conta de um caso marcante ocorrido em 1994, nos Estados Unidos. “Era um jovem de 17 anos, ele tinha um Mustang amarelo e suicidou-se dentro do carro. No dia do enterro dele, foram distribuídos cartões com uma fita amarela dizendo ‘se precisar, peça ajuda’. Foi um trauma muito grande e isso aconteceu em setembro.”
A ação começou a se espalhar pelo mundo e no Brasil se tornou oficial no ano de 2015, no intuito de prevenir, estudar e lidar com este grave problema. O médico recordou que, salvos quadros psicóticos, as pessoas não se matam se não for por depressão – que é muito bem conhecida, estudada e diretamente interligada à melancolia.
Palomba defendeu que a doutrina psiquiátrica é formada por países europeus, além do Brasil, Chile e Argentina, ao passo que, nos Estados Unidos, a forma como lidavam com a Psiquiatria era muito distinta. O desenvolvimento do Manual Diagnóstico Estatístico é um exemplo disso, já que por meio deste protocolo o diagnóstico deixava de ser baseado na psicopatologia. Este fato contribuiu para os excessos de receitas de medicamentos e favoreceu a indústria farmacêutica.
Antidepressivos
Segundo o palestrante, as depressões se dividem entre endógenas e exógenas e, atualmente, existe uma pandemia generalizada no uso de antidepressivos, que reflete diretamente no aumento no número de suicidas. A incidência de suicídio, na estatística até 2022, diminuiu em 36% na Europa – isso acontece porque lá são mais comedidos ao utilizar esses medicamentos.
“Sabe onde aumentou? Nas Américas. Estados Unidos e Brasil aumentaram em 43% o suicídio e, hoje, o maior número é entre jovens de 10 a 24 anos, neste grupo aumentou em 29%. Agora, eu vou afirmar uma coisa importante, o jovem não quer se matar, ele quer matar aquela situação que ele não sabe lidar”, descreveu.
De acordo com o psiquiatra, a melhor forma de lidar com quadros depressivos não é exagerar nas doses das prescrições, mas sim, escutar e fornecer uma rede de apoio. “A rede de apoio é uma terapia, o psiquiatra precisa voltar a ser psicólogo, conversar, ter o olho no olho. Além de amigos e grupos de pessoas para estar junto, com quem o paciente se sinta bem. Outra coisa fundamental é ter uma rotina, com hora para acordar, ir para a cama, almoçar. E atividades físicas, elas fazem o sangue circular, oxigenam o cérebro e vão fazer o mesmo papel de um remédio, então é ótimo.”
Guido Palomba finalizou o webinar reforçando a importância do Centro de Valorização da Vida, uma das ONGs mais antigas do Brasil, que fica disponível 24 horas por dia e tem um papel primordial no acolhimento. “Eles curam porque escutam, aconselham. O suicida quer colo. […] Então, eu termino dizendo o seguinte, se precisar, peça ajuda.”
Fotos: Reprodução Webinar