Na última semana, São Paulo ocupou, por cinco dias consecutivos, o topo do ranking mundial de cidades com a pior qualidade do ar. A concentração de poluentes atingiu 72 µg/m³ (micrograma por metro cúbico), valor 14,4 vezes acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esse cenário tem gerado aumento expressivo nas crises respiratórias, como destacou o pediatra e diretor de Defesa Profissional Adjunto da Associação Paulista de Medicina, Marun David Cury, em entrevista à Rádio Cidade Jundiaí, na quinta-feira, 12 de setembro.
Impactos na saúde
Cury explicou que a combinação de queimadas e mudanças climáticas extremas prejudica a qualidade do ar e diminui a umidade, provocando aumento de casos de doenças respiratórias, especialmente entre crianças. “Na clínica, estamos vendo cada vez mais casos de asma, bronquite, sinusite e tosse. Esse clima de deserto favorece a proliferação de micróbios, bactérias e vírus, o que impacta diretamente na imunidade das pessoas”, ressaltou o pediatra.
Ele alertou que esses fatores podem trazer consequências a médio e longo prazo. “A quebra do equilíbrio natural do organismo, a chamada homeostase, pode causar uma série de complicações respiratórias que persistem e se agravam com o tempo”, afirmou.
Entre os maiores riscos, segundo o diretor da APM, está o desenvolvimento de doenças crônicas nos pulmões, como a fibrose pulmonar, mesmo entre jovens e crianças. “A baixa umidade e as viroses podem inflamar os pulmões e causar doenças obstrutivas crônicas. Além disso, o desequilíbrio climático pode aumentar a incidência de vírus como Covid-19 e H1N1”, acrescentou.
Para minimizar os efeitos da má qualidade do ar, Cury recomendou cuidados essenciais: “É importante aumentar a ingestão de líquidos, evitar esforços físicos ao ar livre, manter uma alimentação leve e buscar orientação médica em caso de sintomas respiratórios ou digestivos”. Ele também destacou o uso de umidificadores de ar, além de soluções caseiras como toalhas úmidas ou potes de água para melhorar a umidade do ambiente.
Segundo Cury, o agravamento das crises respiratórias tem sobrecarregado os sistemas de Saúde público e privado. “Os prontos-socorros e UPAs estão lotados. Além das doenças respiratórias, a baixa umidade causa aumento de diarreias e vômitos, o que leva à desidratação e gera um desequilíbrio geral na saúde da população”, explicou.
Ele também ressaltou que essa sobrecarga não afeta apenas o SUS, mas também a saúde suplementar, resultando em um aumento significativo dos gastos com saúde. “Esperamos que a chegada das chuvas alivie essa situação, pois, quanto mais tempo isso se prolonga, maior será a incidência de morbidade e mortalidade por problemas respiratórios”, concluiu o pediatra.