Setembro Amarelo: se precisar, peça ajuda

Mês é dedicado à campanha de prevenção ao suicídio

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Por que Setembro Amarelo? A resposta envolve um jovem americano, de 17 anos, e seu Mustang amarelo, ano 1968. Sim, há exatos 30 anos, Mike Emme tirou a própria vida suicidando-se dentro do carro que tanto amava. Por quê? Não se sabe, como também é desconhecida a forma que tal tragédia aconteceu, para que não se forme imitadores patológicos.

Porém, a surpresa foi tamanha que amigos e familiares distribuíram, no funeral, cartões com fitas amarelas e a mensagem “se precisar, peça ajuda”.

Isso foi se espalhando de tal forma que virou campanha de programa de conscientização e de prevenção do suicídio, adotada em vários países, entre eles, o Brasil.

Muito se tem a falar sobre o tema. Como médicos, poderíamos abordar a psicopatologia subjacente dos suicidas, sua prevenção, a incidência, como tratar pessoas em estado depressivo. São temas, todos, com múltiplas respostas. Porém, um fato é único: todos os suicidas estão, no momento do ato, em estado patológico extremo da mente, pois voltaram-se contra o primordial instinto de preservação, do qual todos os outros derivam (o instinto sexual: para reprodução da espécie; o gregário: a união faz a força; o instinto de alimentação: se não comer morre; instinto de defesa: para preservar-se; etc.).

Observe-se que hoje é cada vez mais expressivo o aumento do número de suicidas menores de idade. Por quê? Ora, tem algo muito errado, pois, retenha-se, o jovem não quer se matar. Mais uma vez, por questão de ênfase: o jovem não quer se matar. Ele quer, isto sim, matar uma determinada situação com a qual não consegue lidar.

Por exemplo, recebeu fora da namorada, foi zoado na escola, bulinado, cancelado na rede social, banido do grupo etc. Tudo isso dói muito e o jovem não tem ferramentas mentais para lidar com essas frustações. A vivência dolorosa o tortura, martiriza, deprime intensamente e não vê saída possível. Então, para matar a situação intransponível, suicida-se. Anote-se que muitas vezes procura ou é encaminhado a um desses psiquiatras da geração perdida e, depois de rápido exame, sai entupido de remédios, o que vale dizer, contido em “camisa de força química”. Mas, o cerne, o que o deprimiu, a situação de desespero, como o jovem não tem armas para combatê-la, permanece e, não raro, mesmo medicado, com remédios saindo pelos poros, não vê outra saída e se mata.

Com isso queremos dizer que esses jovens deprimidos precisam muito mais de diálogo olho no olho, de abertura de perspectivas, de alguém que lhe abra os horizontes, lhe assegure e ensine,  com firmeza, que se foi cancelado, se levou fora da namorada, se foi zoado, se isso e se aquilo, conte até dez, calma; se não deu, conte até vinte, mas calma: a noite está escura, sim, mas o amanhecer sempre chega, sempre!

No Setembro Amarelo, lembremos que o Centro de Valorização da Vida (CVV, fone 188) atende 24 horas por dia, gratuita e sigilosamente, em caráter filantrópico, e salva muito mais vidas do que psiquiatras que pensam que o psiquismo humano, no caso, a depressão, é um amontoado de neurônios banhados por neurotransmissores e sujeitos a psicofármacos. Não é nada disso.

“Se precisar, peça ajuda.”       

Por Guido Arturo Palomba, psiquiatra forense e diretor Cultural da APM