Webinar da APM apresenta a evolução da ventilação pulmonar mecânica

Especialista proporcionou visão abrangente sobre o tema

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Na última quarta-feira (31), a Associação Paulista de Medicina realizou mais uma edição de seus tradicionais webinars. Desta vez, o tema abordado foi “Evolução da ventilação pulmonar mecânica”, com ênfase no desenvolvimento dos ventiladores, modos ventilatórios variados, tecnologia de monitoramento e ventilação não invasiva.

A palestra foi conduzida pelo engenheiro mecânico especializado em Ciências da Pneumologia, Jorge Bonassa. O 2º vice-presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, introduziu o tema; e o presidente do Instituto de Engenharia, José Eduardo Polyares Jardim, fez a abertura do evento. Paulo Pêgo Fernandes, diretor Científico da APM, e Jorge Luiz Valiatti, coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino, conduziram as discussões após a apresentação.

José Luiz Gomes do Amaral iniciou o encontro ressaltando a importância dos webinars para que a APM mantenha o contato com os médicos. Ele explicou que isso foi um fator chave para a aproximação da entidade com o Instituto de Engenharia, representado por Jardim. “Recentemente, notamos que eles [os webinars] seriam instrumentos interessantes para encurtarmos os laços com outras entidades que representam profissionais que dão suporte à Medicina”, argumentou.

Princípio

Em sua apresentação, Jorge Bonassa explicou que a evolução dos ventiladores mecânicos e da ventilação mecânica seguiu em vias paralelas. “O professor Robert Kacmarek, que foi um estudioso e pesquisador da ventilação mecânica, afirmou que a evolução dos ventiladores mecânicos espelha a própria evolução da Medicina Intensiva.”

De acordo com o especialista, na ventilação mecânica, há ventiladores que, por meio do circuito com dois ramos (inspiratório e expiratório), agindo de forma alternada, abrem uma válvula de fluxo e ao mesmo tempo fecham uma válvula de exalação, ocasionando o enchimento do pulmão. “Assim é feita a troca gasosa com os volumes correntes”.

A apresentação relembrou que as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) foram criadas há muito tempo, porém, apenas em meados da década de 1960 se organizaram e foram difundidas. A princípio, os pacientes críticos eram encaminhados para unidades em que havia especialização para um tratamento adequado. As pessoas que necessitavam de assistência ventilatória eram introduzidas à intubação com ventiladores de pressão positiva, prática considerada invasiva.

A partir desse primeiro contato e da evolução da ventilação, começaram as publicações científicas, descrevendo os métodos e problemas encontrados nessas práticas clínicas. Segundo Bonassa, a primeira UTI respiratória do Brasil foi inaugurada em 1967, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (HSE-RJ).

“Os ventiladores produzidos antes da década de 70, que eram equipamentos relativamente pesados, empregavam motores pistões; eram ferramentas difíceis de manipular, até que surgiu um equipamento revolucionário – não em termos de capacidade, mas pela sua usabilidade, praticidade e acessibilidade. O Bird-Mark 7 é conhecido pelos intensivistas até hoje”, destacou.

O Bird-Mark 7 foi desenvolvido pelo aviador estadunidense Forrest Bird e é composto por uma caixa compacta e com poucos controles, o que facilita a utilização. “Com sua experiência de aviador, ele colocou o conceito de usabilidade no equipamento. Quem estava começando na ventilação mecânica, ajustava da seguinte forma: 15, 15 e 15. Esta era uma escala relativa não calibrada, mas funcionava para iniciar a ventilação do paciente e depois os ajustes posteriores”, explicou.

O engenheiro afirmou que o instrumento até hoje é objeto de pesquisa, com a finalidade de facilitar o manuseio dos ventiladores.

Jorge Bonassa

Na atualidade

Bonassa enfatizou que, desde o final dos anos 90, houve um grande avanço tecnológico nos ventiladores pulmonares. “Passadas duas décadas, tivemos um ganho significativo em tecnologia, com a consolidação dos modos de controle de monitoramento e alarmes, além dos avanços nos microprocessadores, telas sensíveis ao toque, sensores digitais, conectividade, autonomia, baterias, circuitos SMD e fornecedores para os principais componentes”.

Atualmente, os ventiladores são equipados com duas válvulas principais, uma que controla o fluxo de oxigênio e outra de ar, permitindo uma mistura precisa de acordo com a demanda do paciente em diversos modos ventilatórios. “Uma válvula que antes servia para cada tipo de função, hoje é reduzida a um software que controla essas válvulas”, elucidou Bonassa, destacando a evolução para sistemas mais eficientes e integrados.

Outro aspecto fundamental abordado foi a estrutura regulatória que influenciou o desenvolvimento dos ventiladores, especialmente após a consolidação do mercado europeu e a criação de normas que se tornaram padrão, como a Lei nº 9.782 de 1999 da Anvisa no Brasil. Essas normas garantem segurança elétrica, desempenho, gerenciamento de risco e usabilidade dos dispositivos.

Apesar dos avanços, o palestrante ressaltou que a lesão pulmonar continua sendo uma área de estudo relevante. Ele mencionou a importância da ventilação protetora, que envolve o controle dos volumes ventilatórios, PEEP (Pressão expiratória final positiva, traduzida do inglês Positive end-expiratory pressure) e pressão elástica, mantendo-a abaixo de 15 cm de água. Segundo o engenheiro, estudos têm mostrado que o fluxo e a frequência respiratória também são cruciais para minimizar lesões pulmonares.

Fotos: Reprodução/Webinar

Texto: Ryan Felix (sob supervisão de Julia Rohrer)