Recentemente, li um interessante texto sobre as expectativas de vida ao longo da história da humanidade. Quando começamos a descer das árvores, a média era de 20 anos. Na Roma Antiga, a expectativa de vida era próxima dos 30 anos.
Em 1900, uma criança, ao nascer, tinha expectativa de viver até pouco mais de 33 anos. Quem vem ao mundo hoje pode ultrapassar os 80.
Alguns imaginam que, em muito pouco tempo, talvez em 2050 ou 2100, possamos duplicar esses 80 anos. Seria possível?
Certos estudiosos creem que sim. Outros, no entanto, refutam esta possibilidade. Acreditam eles que nosso potencial de vida sempre foi o de hoje. De fato, 2 mil anos atrás havia pessoas que chegavam a idades avançadas.
Tem-se exemplo desse fato Augusto, primeiro imperador romano, que viveu 75 anos. Leonardo da Vinci viveu até os 67, e Nicolau Copérnico alcançou os 70 anos. São exemplos que, como outros muito viveram, eram considerados pessoas normais.
Em realidade, parece prevalecer o argumento de que se tenha conseguido reduzir as mortes prematuras por guerras, doenças e fome. Vê-se a diminuição de conflitos globais, atenua-se o impacto de muitas doenças e a produção de alimentos cresceu expressivamente.
A realidade até o momento pode ser interpretada como evolução notável, porém esperada frente ao progresso tecnológico. Poder-se-á, todavia, conduzir nossa existência em direção inusitada, a partir da possibilidade de alteração estrutural do homem por meio da engenharia genética. Neste caso, será provavelmente viável estender nossa existência.
Esse futuro aparentemente promissor é cercado de formidáveis ameaças. O equilíbrio político é instável e as grandes guerras não estão afastadas. As moléstias infecciosas têm dado o primeiro lugar às crônicas, mas coexistem e estão sempre presentes. Acrescente-se o impacto do desenvolvimento sobre o meio ambiente, que paira sobre nós como iminente catástrofe.
O que fizermos agora terá um impacto imenso no nosso futuro. A nós, os médicos, não nos é dado enfrentar apenas o imenso desafio de diagnosticar e tratar doenças novas ou melhor controlar as que já existem; a saúde do planeta é a saúde do homem.
Cumpre-nos sobretudo agir com responsabilidade e atenção para com os fatores que separam quase 200 países e seus mais de 7 bilhões de habitantes em tantas desigualdades sociais. Cabe-nos reduzir as diferenças nas oportunidades de acesso ao progresso e fazer com que todos possamos desfrutar da mesma qualidade de vida.
Entre oportunidades e riscos, vivemos horas decisivas.
Nosso desafio não é apenas diagnosticar e tratar doenças, mas reduzir as diferenças sociais
*Discurso proferido no 2o Encontro de Líderes da APM
José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da APM
Artigo publicado na edição 711 da Revista da APM – Junho/2019.