Palavra do presidente – Consequências dos erros do “Mais Médicos”

Muito se discute sobre o número de médicos por mil habitantes. Por que não se debate a quantidade de profissionais em função das dimensões do sistema de saúde?

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Muito se discute sobre o número de médicos por mil habitantes. Por que não se debate a quantidade de profissionais em função das dimensões do sistema de saúde?

Os 34 mil alunos que entram todos os anos em uma das 337 faculdades de Medicina atualmente em funcionamento no Brasil têm cenário de prática, essencial para consistência da educação médica?

A legislação vigente determina que o acadêmico deve ter contato com o paciente desde o primeiro ano, mas as instituições não lhes oferecem pacientes para que isso aconteça, muito em função das dimensões limitadas do sistema de saúde brasileiro.

A graduação em Medicina está longe de ser um curso terminal. Ela tem de ser complementada por um programa de especialização/residência médica, que se faz dentro do sistema de saúde. Um sistema de saúde que não comporta 34 mil novos médicos residentes e especializandos todos os anos.

Isso se deve ao fato de que não existem equipamentos de saúde e supervisores em número suficiente. Nos últimos tempos, falar Mais Médicos é um sinônimo de cubanos de formação discutível atendendo no Brasil. Sim, isto é um problema grave, mas muito pequeno em face às distorções muito maiores que foram introduzidas na Lei dos Mais Médicos.

Os maiores problemas são a abertura indiscriminada de escolas de Medicina e a tentativa frustrada de expansão dos programas de residência médica. Assim, hoje nós oferecemos vagas e não qualidade.

Além dos 34 mil alunos que se formam no Brasil, não se pode esquecer a pressão exercida por brasileiros e estrangeiros formados no exterior, que buscam licença para praticar no Brasil sem demonstrar sua capacidade para tanto.

Escandaliza a atitude de muitos prefeitos que têm pressionado o Governo Federal para relaxarem os processos de revalidação de diploma e manterem facilidades especiais para a manutenção do programa Mais Médicos.

O tempo passa e cresce a nossa ansiedade ao vermos esse problema avolumar-se sem qualquer solução. A população brasileira precisa e merece ter uma assistência de qualidade.

Os maiores problemas são a abertura indiscriminada de escolas de Medicina e a tentativa frustrada de expansão da residência

José Luiz Gomes do Amaral – Presidente da APM

Matéria publicada na edição 712 da Revista da APM – Julho/Agosto 2019.