Webinar da APM debate câncer de tireoide em gestantes e crianças

Exibição faz parte da campanha do Julho Verde da Associação Paulista de Medicina

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Na quarta-feira, 17 de julho, a Associação Paulista de Medicina recebeu em seu webinar especialistas para falarem sobre “Câncer de tireoide em gestantes e crianças”. O tema faz parte da campanha de Julho Verde da entidade e visa conscientizar a respeito da prevenção dos cânceres associados à cabeça e pescoço.

A edição recebeu o presidente da APM, Antonio José Gonçalves, como apresentador, acompanhado pela diretora Científica adjunta da entidade Marianne Yumi Nakai, que foi moderadora. Juntos, receberam a presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Fátima Mattos, e a endocrinologista Carolina Ferraz, também como moderadoras da edição. As palestras, por sua vez, foram ministradas pelas especialistas Fernanda Faro e Mariana Mazeu.

O presidente da APM salientou a importância deste mês para a Cirurgia de Cabeça e Pescoço. “É um mês particularmente importante porque é o da conscientização e prevenção. Vinte e sete de julho é o dia do câncer de cabeça e pescoço e todos os hospitais que atendem este serviço fazem eventos, seminários e posts, no sentido de divulgar a importância da prevenção deste câncer, que é o quarto mais frequente do nosso país. O câncer de tireoide, que é o assunto hoje, é o quinto mais frequente na mulher e existem algumas particularidades nele, particularmente na criança e na gestante, que serão abordadas neste webinar.”

Gestação

Fernanda Faro iniciou a apresentação indagando se vale a pena solicitar uma ultrassonografia de tireoide como exame de rotina para rastreio, relembrando que, na primeira metade da gravidez, há uma maior exigência do hormônio tireoidiano materno, ocasionando um aumento de 50% de sua produção, elevando, consequentemente, o volume da tireoide.

“A gente tem um aumento no volume dos nódulos tireoidianos. Só que apesar desse aumento de volume e de quantidade de nódulo, nós não temos um aumento no risco de malignidade. Então, não tem necessidade de ultrassonografia de rotina para toda gestante. Mas se é uma paciente que tinha um antecedente de nódulo de tireoide e que estava sem ser visto há alguns anos, nesses casos, a ultrassonografia é solicitada.”

A especialista destacou quais características indicam malignidade nos nódulos. De acordo com Fernanda, eles são sólidos; mais hipoecogênicos, ou seja, mais escuros; mais altos do que largos, com margens irregulares; quando estão saindo da tireoide com a extensão extratireoidiana e há muitos focos ecogênicos, sugestivos de microcalcificação; e, ainda, quando possuem metástase linfodonal.

Ela destacou que, seguindo os protocolos da Associação Americana de Tireoide e do Colégio Americano de Radiologia, a punção de tireoide pode ser feita em qualquer trimestre da gravidez – de acordo com a escolha da paciente. No entanto, não deve ser adiada nos casos em que o nódulo evolui muito rápido ou possui múltiplas características da malignidade. Também é preciso considerar se a paciente tem histórico familiar de câncer ou carcinoma medular ou alguma neoplasia endócrina múltipla.

Nos casos que requerem intervenção cirúrgica, a médica fez as suas considerações. “É seguro operar durante a gestação e temos muitos trabalhos que não mostram associação por complicação cirúrgica materna, abortamento ou má formação fetal. Mas não recomendo, porque por mais que tenhamos essa segurança, tudo que aconteça aí durante a gravidez pode levar a uma culpa da cirurgia, mesmo sem essa associação direta, então eu ia preferir se conseguíssemos evitar.”

Segundo Fernanda, os quadros em que devem ser operados, mesmo sem conseguir esperar até o fim da gravidez, são aqueles em que há suspeitas de carcinoma anaplásico de tireoide, carcinoma medular de tireoide ou quando a paciente tem um carcinoma papilífero. A especialista também evidenciou que a radioiodoterapia é contraindicada na gestação por poder causar hipotireoidismo no feto e má formação.

“Precisamos realizar a decisão sempre em conjunto com a paciente, pensando no que irá deixá-la mais tranquila, lembrando que, durante a gestação, já são inúmeras coisas na cabeça dessa mulher. É preciso pensar se a sua conduta irá mudar alguma coisa no prognóstico e, assim, tentar não fazer mais mal do que bem para a paciente”, concluiu.

Infância

Em seguida, Mariana Mazeu deu continuidade às apresentações. Ela demonstrou que o carcinoma diferenciado de tireoide é a neoplasia mais comum na faixa etária pediátrica, representando 3% deles. Assim como nos adultos, possui uma distribuição semelhante. A médica relembrou que, ao falar de nódulos tireoidianos e câncer de tireoide na infância, sempre foi levado em consideração as diretrizes dos adultos.

“A gente precisa de uma abordagem específica para a criança, porque pensamos no crescimento. Estão crescendo as taxas de reincidência em crianças, de nódulos e de câncer na tireoide na infância. A malignidade nos carcinomas pediátricos é maior – chegando a 26% quando comparada aos adultos. Além disso, a metástase a distância também acaba sendo muito maior, chegando a uma média de 20% a 25% nas crianças e 2% a 4% nos adultos”, explicou, relatando que o tamanho dos tumores costuma ser menores de 1cm nos adultos e maiores nas crianças.

De acordo com a médica, os maiores objetivos na abordagem específica para crianças são “colocar equilíbrio, reduzir complicações do tratamento e levar à baixa mortalidade”. Ela também indicou que alguns fatores de risco se dividem entre “aparecimento de nódulo, deficiência de iodo, exposição prévia à radiação, histórico de doenças tireoidianas anteriores e síndromes genéticas”.

Para Mariana, a recomendação para rastreio se consolida no exame físico anual em crianças com alto risco e no exame de imagem adicional, por exemplo, ultrassom. A palestrante destacou que avaliação de resposta é algo que ainda está escasso na pediatria e que os especialistas acabam acompanhando intuitivamente – sem necessariamente haver algo específico para crianças.

“O carcinoma de tireoide é raro na criança, porém, dados epidemiológicos mostram um crescimento. Os estudos ainda são escassos, mas vêm crescendo ao longo dos anos. A abordagem de nódulos é semelhante ao adulto, com maiores chances de cirurgia e, apesar de ser um excelente prognóstico, alguns pacientes possuem doença residual, então acabam tendo uma abordagem mais agressiva e o maior desafio é identificar qual é o equilíbrio para que consigamos o melhor resultado e entender os mecanismos moleculares para ajudarem nesse diagnóstico de tratamento em seguimento”, complementou.