O Proadi-SUS foi desenvolvido em 2009 em parceria com o Ministério da Saúde, no intuito de, por meio de uma série de projetos inovadores, aprimorar a saúde pública do País. A iniciativa engloba seis hospitais filantrópicos, que se dividem entre Beneficência Portuguesa, Oswaldo Cruz, Hcor, Sírio-Libanês, Albert Einstein e Moinhos de Vento, de Porto Alegre, e, neste meio, já beneficiou mais de 5.6 milhões de pessoas com seus mais de 750 projetos. Para saber mais sobre esta notável realização, a Revista da APM desta edição entrevistou Maria Alice Rocha, diretora-executiva de Pessoas, Experiência do Cliente, Marketing, Sustentabilidade e Impacto Social da BP, que descreveu como funciona o Programa na prática. Leia a seguir.
Como surgiu o Proadi e quais são os seus principais objetivos?
O Proadi já existe há 15 anos e surgiu como uma iniciativa de promover o desenvolvimento do Sistema
Único de Saúde por meio da contribuição dos hospitais filantrópicos como de excelência – com selo atribuído pelo Ministério da Saúde a partir de uma série de requisitos e processo de validação de cada uma das instituições participantes –, de modo que possam transferir a sua tecnologia e conhecimento para a rede pública, fazendo com que o SUS incorpore e adote essas boas práticas, ganhando autonomia
para seguir na busca de melhores resultados e desfechos no andamento das suas atividades.
Os principais objetivos de desenvolvimento são realizados por meio de modelos ligados à gestão. Os seis hospitais conseguem, com seu conhecimento e sua expertise, desenvolver projetos junto à rede pública, transferindo tudo isso para o Sistema Único de Saúde. Outros eixos importantes são o de ensino e capacitação, em que o grande alvo é fazer com que todos os colaboradores que estão hoje no SUS possam se habilitar, e o eixo da pesquisa, pois é nela que se promove o conhecimento, a incorporação de novas tecnologias e até mesmo a possibilidade de viabilizar novas metodologias no Sistema Único que tragam um desfecho favorável.
De que forma o Proadi atua junto aos hospitais participantes?
Como é que as coisas se regulam e como é o modelo de governança? Acho que isso é importante. Além da coordenação do Ministério da Saúde, o Programa conta também com a participação do Conass, que é o Conselho Nacional de Secretários de Saúde Estadual, e o Conasems, que é o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. O Ministério, a partir das necessidades que o País tem na Saúde,
começa a elencar suas prioridades. Os hospitais fazem suas proposições a partir das necessidades então colocadas dentro desse comitê gestor, que é tripartite. Todas as iniciativas só acontecem se nesse
comitê gestor houver a devida aprovação para que elas sejam executadas. Os projetos são avaliados, têm plano de trabalho a ser executado, cronograma e indicadores de resultado. A cada três anos, temos um conjunto de projetos aprovados, que podem ser individuais, de um único hospital, ou colaborativos, em
que se tem hospitais trabalhando simultaneamente.
De que maneira o Proadi arrecada recursos e investimentos?
Por serem filantrópicos, os hospitais do PROADI-SUS têm imunidade fiscal – uma atribuição que a Constituição Federal confere às entidades beneficentes de assistência social, que permite o não recolhimento de determinados tributos sociais (COFINS e cota patronal do INSS) para que esses recursos sejam aplicados em projetos que visam o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde e a promoção da melhoria das condições de Saúde da população brasileira.
O Proadi realiza e apoia uma série de projetos científicos e sociais. Como a sua participação tem se mostrado efetiva e quais têm sido os resultados obtidos?
Temos projetos de notória relevância, que são bastante conhecidos e já trazem um resultado efetivo dentro da rede pública. Quando falamos em lavagem das mãos, por exemplo, temos o Saúde em Nossas Mãos, projeto emblemático dentro do Proadi, que conseguimos realizar de maneira colaborativa e os seis hospitais participaram. No âmbito da pesquisa, há um projeto muito importante do Ministério da Saúde, que é o Genomas Brasil, em que se pretende ter sequenciamento genético do brasileiro, fazendo Medicina de precisão e conseguindo resultados muito mais efetivos. Temos, na área do ensino e capacitação, vários dos nossos hospitais de excelência que trabalham com programas de residência e similares, trazendo resultados muito importantes para a formação e capacitação dos profissionais da
rede pública. No âmbito da gestão, temos um projeto em que trabalhamos emergência nos prontos socorros públicos para melhoria dos fluxos e processos mais eficientes. São projetos de muita importância, que, ao serem incorporados, alteram a realidade lá na ponta.
Como esses projetos são desenvolvidos?
Uma vez definido e trazido à tona quais são as grandes necessidades na área da Saúde para a saúde pública, são elencados uma série de temas e iniciativas de interesse do Ministério da Saúde para o setor
público. Assim, os hospitais conseguem compreender como podem colaborar mais fortemente com alguns desses temários e a partir disso, são feitas as propostas de como atuar nas questões colocadas pelo Ministério. Isso, então, se transforma em uma proposta, que é discutida com as áreas técnicas do Ministério, com a participação de Conass e Conasems, e depois é submetido para o comitê gestor que eu comentei. Aprovado o mérito e o plano de trabalho, entramos em um processo de execução, que é integralmente acompanhado pelas áreas técnicas do Ministério e termina com um relatório que é entregue com todas as informações relativas aos projetos executados.
Qual a abrangência do Proadi?
Além da assistência, gestão, capacitação, ensino e pesquisa, outro eixo de abrangência é que estamos em todos os estados do País e temos um direcionamento bastante claro, a partir dos vazios assistenciais existentes, que nos permite desenvolver novos projetos. Se pensarmos no advento da Telemedicina, por exemplo, pudemos, de maneira muito mais abrangente, alcançar regiões mais distantes e com mais dificuldade de acesso físico a equipamentos públicos. É interessante, porque é possível fazer uma teleinterconsulta, em que você tem um profissional de uma unidade básica de Saúde em outra localidade,
em contato com o médico especialista de um dos seis hospitais participantes do PROADI-SUS, que auxilia o colega lá na ponta para encerrar um diagnóstico de maneira bastante efetiva, rápida e que encurte os tempos de encaminhamento e de solução.
Como ele alcança as regiões mais afastadas? Além da Telemedicina existe algum outro programa em que vocês fazem a assistência dessas regiões mais remotas?
Nós temos diferentes projetos nessa direção. Hoje, o Programa tem atuação com a população indígena, muitas vezes com acesso físico a regiões remotas. Nós temos uma série de iniciativas nessa direção e isso só cresce. Então, vai desde a Telemedicina, em que se disponibiliza equipamentos para fazer essa conexão com as regiões remotas, como também, muitas das vezes, as nossas equipes que estão fisicamente, in loco, em regiões distantes, com soluções que possam ser levadas para elas.
Quais os maiores desafios que o Programa enfrenta?
É interessante porque ao mesmo tempo que é um desafio, quando você tem um projeto novo, a sua própria proposição já pressupõe que se faça uma grande mobilização em cada um dos hospitais participantes do Programa. Há uma primeira fase, que a partir da temática colocada, vemos qual é a nossa proposta de solução e de encaminhamento, exigindo um enorme engajamento de nossas instituições. Há a fase de discussão com as próprias áreas técnicas, que vamos dando clareza de quais são as proposições ali colocadas e o detalhamento disso. E uma terceira fase, que envolve propriamente a execução, e nela, sem dúvida nenhuma, além do engajamento, é preciso ter muita disciplina em cada entrega, para que consigamos ter medidas e mensurações efetivas nos resultados obtidos.
Acredito que engajamento seja a palavra-chave para fazer o Proadi dar certo. Engajamento dos profissionais das nossas instituições, dos conselhos que nos auxiliam junto aos gestores locais, dos próprios gestores locais, do Ministério da Saúde em fazer esse acompanhamento e essa troca de conhecimentos. É uma coordenação de esforços, interesses e necessidades, levando em consideração que
temos um País de extensão continental e que cada região tem suas peculiaridades. É preciso levar em
conta todos esses elementos, para que consigamos promover a solução adequada para cada necessidade específica. E mais, fazer com que isso seja, de fato, incorporado e permaneça no sistema como uma melhoria.
Qual a importância de se ter um programa como o Proadi, que foca no investimento em saúde pública, e como isso contribui para o desenvolvimento do País?
Como brasileira, eu entendo que esse programa faz toda a diferença. É um Programa em que se vê instituições privadas, com caráter filantrópico, que conseguem fazer esta ponte importantíssima da saúde suplementar com a saúde pública, de maneira que você consiga compartilhar as melhores práticas de maneira muito abrangente. Para nós, é uma via de mão dupla, porque também aprendemos muito no decorrer do processo, essas diferentes realidades nos desafiam constantemente e isso só promove o desenvolvimento para a Saúde no País. O Proadi é um programa muito bem estruturado, sério, com modelo de acompanhamento bastante rigoroso e detalhado. Durante a nossa jornada, cada vez mais, encontramos mecanismos de apuração mais precisos, em que conseguimos dimensionar o impacto que estamos gerando para os brasileiros.
Foto: Divulgação Proadi – SUS