O projeto acerto

Nos últimos anos, vários estudos têm se preocupado com a recuperação do paciente cirúrgico, para o desenvolvimento de estratégias que minimizem a resposta orgânica ao trauma, melhorem a qualidade do atendimento e acelerem a recuperação do paciente.

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Nos últimos anos, vários estudos têm se preocupado com a recuperação do paciente cirúrgico, para o desenvolvimento de estratégias que minimizem a resposta orgânica ao trauma, melhorem a qualidade do atendimento e acelerem a recuperação do paciente.

Programas multimodais, ou “fast track”, são um conjunto de intervenções que visam facilitar e acelerar a recuperação pós-operatória através de prescrições e cuidados modernos. Neste sentido, o projeto ACERTO (ACeleração da Recuperação Total pósOperatória) foi iniciado em 2005, no Hospital Universitário Júlio Muller, da Universidade Federal do Mato Grosso.

O conjunto de rotinas e prescrições do projeto ACERTO tem como base a Medicina baseada em evidências, em contraposição a cuidados tradicionais, muitas vezes empíricos e ensinados à beira do leito por gerações sucessivas de cirurgiões. Uso de sonda nasogástrica, drenos abdominais, preparo pré-operatório do cólon e jejum pré-operatório de 6 a 8 horas foram modificados no projeto, com base na evidência de estudos randomizados e meta-análises. Além disso, o ACERTO reforça a restrição de fluidos intravenosos e o uso de terapia nutricional no peri-operatório.

Na rotina do protocolo, pacientes recebem pré-habilitacão; fazem avaliação do risco nutricional e recebem, se necessário, terapia nutricional 5 a 7 dias antes da operação; fazem visita pré-anestésica; e têm o jejum pré-operatório modificado para 6 a 8 horas de sólidos e água com carboidratos até 2 horas antes da operação, salvo contraindicações.

No pós-operatório, a continuidade de fluidos intravenosos é limitada. A deambulação, no mesmo dia ou no dia seguinte, é estimulada e há retorno precoce da dieta oral no mesmo dia operação, na maioria dos casos. Sua aplicação desde 2005 modificou resultados, com queda significante de dias de internação e morbidade pós-operatória em mais vários estudos clínicos.

Para a criação de um protocolo multimodal e para torná-lo atuante, é necessário acreditar na evidência, ter vontade política, ter liderança e saber trabalhar em grupo. Um ponto fundamental é o conhecimento epidemiológico local dos resultados.

O processo engloba inicialmente uma ou mais lideranças, a apresentação do problema e o envolvimento da equipe para a realização de mudanças. Os progressos em cada rotina são importantes e a verbalização disso deve ser positiva. O resultado, certamente, será significativo para o hospital.

JOSÉ EDUARDO DE AGUILAR NASCIMENTO é diretor do Curso de Medicina do Centro Universitário (UNIVAG) e ex-Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).