Bastidores da pandemia

Em março deste ano, quando começaram a surgir os primeiros casos de Covid-19 no Brasil, os ambientes hospitalares, pronto-atendimentos e consultórios foram engolfados por uma realidade assustadora. As comunidades científicas e médicas de todo o mundo entraram em alerta geral para fazer face a uma situação de proporções inusitadas, nunca imaginadas pela nossa geração.

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Em março deste ano, quando começaram a surgir os primeiros casos de Covid-19 no Brasil, os ambientes hospitalares, pronto-atendimentos e consultórios foram engolfados por uma realidade assustadora. As comunidades científicas e médicas de todo o mundo entraram em alerta geral para fazer face a uma situação de proporções inusitadas, nunca imaginadas pela nossa geração.

Essa realidade fez nascer a necessidade de novos relacionamentos interpessoais, comerciais e sociais fora do cotidiano. Estamos vivendo em um ambiente muito similar à pandemia de 1918, conhecida como gripe espanhola, que varreu o Planeta e provocou cerca de 50 milhões de mortos, ceifando quase 3% da humanidade. 

Entre consultas e demandas médicas junto aos pacientes, me relembrei da história vivida por Elisa Alves Magnoni, minha própria avó. Portuguesa de nascimento, mas naquela época vivendo em Santos (SP) e com 15 anos, foi acometida pela gripe espanhola.

Não se nutria esperança quanto à sua sobrevivência. De forma semelhante à de muitas pessoas, Elisa estava à beira da morte, com febre alta, estado geral crítico e delirando muito. Durante seus delírios, pedia aos seus familiares um pedaço de bacalhau seco, que estava dependurado próximo ao seu leito.

Como seria dada como morta em poucos dias, atenderam ao que seria seu último desejo. Assim, foi se alimentando de pedaços do peixe, que ela saboreava com vigor. À medida que comia a carne salgada avidamente e bebia muita água, seus sinais vitais melhoravam. Ela viveu 95 anos e conheceu o neto, hoje nutrólogo.

Rotineiramente, envio a quase 2.000 amigos, familiares e pacientes pequenos textos semanais abordando temas sobre alimentação e estilo de vida. Com o isolamento, todos começaram a “curtir” avidamente os textos e a solicitar mais temas.

De outro lado, com a maciça utilização das mídias sociais, comecei a ouvir, relatar e comentar diversas situações de ansiedade, angústia, depressão, irritação e projetos de mudança de vida, empresariais e de adaptação ao novo que está por vir. 

Profissionais de Saúde que atuam nas áreas de emergência, prontosocorro, unidades de terapia intensiva e internação enfrentam e encaram de frente situações de insegurança e de dúvidas. Os casos gerados pela Covid-19 parecem, até o momento, não ter fim. 

A pandemia acelerou inúmeros processos e protocolos baseados em experiências recentes e adaptações de casos de sucesso. A vivência dos profissionais de Saúde durante a pandemia é um tema de grande relevância, repleto de experiências ricas e interessantes.

Em um futuro próximo, analisaremos o momento atual e devemos aprender com os acertos e com os erros. Mas, de forma muito contundente, deveremos repensar nossos processos de educação, atualização e, principalmente, de relações interpessoais e com os nossos pacientes.

Daniel Magnoni, coordenador da área de alimentação e nutrição da Sociedade Brasileira de Cardiologia e autor do livro “PANDEMIA – Relatos da Frente de Batalha. Dicas e orientações para a alimentação na nova era”