Quanto custa sua vida? Sua Saúde? Você estaria tranquilo em deixá-las nas mãos de uma Medicina suplementar mercantilista? É importante para nós, médicos e usuários, envolvidos na saúde suplementar, sabermos qual operadora trabalhamos e/ou contratamos.
A atenção deve ser redobrada para a consolidação de planos de saúde predadores no nosso estado. O sistema de saúde suplementar se encontra em um ponto crítico. A excelência da assistência médica aqui praticada nos transformou em um polo de competência reconhecido nacionalmente, porém, todas essas conquistas coletivas estão em perigo.
Infelizmente, operadoras com objetivo primordial de lucrar, com políticas financeiras cada vez mais agressivas, se tornaram gigantes na saúde suplementar. Com muitos milhões de beneficiários, inúmeros hospitais, centenas de clínicas e unidades de diagnóstico distribuídos pelo País, atuam de forma a depredar a Saúde, a Medicina e, primordialmente, a população.
Assistimos frequentemente nas mídias sociais denúncias gravíssimas de serviços e de profissionais de planos de saúde que atuam de forma impiedosa. Denúncias que vão de encontro com os direitos da população que contrata o serviço. A voz das nossas autoridades não pode ser calada.
Os Conselhos Regionais de Medicina devem investigar a má atuação de médicos que constantemente aparecem nas denúncias; a Agência Nacional de Saúde Suplementar e o Ministério Público, a atuação predatória destas empresas; e os usuários devem buscar seus direitos e procurarem as autoridades competentes para apurar os fatos.
Imperioso evitar que estas empresas imprimam aos seus colaboradores um treinamento sob subordinação, padronizado, excluindo a autonomia do médico, vital para qualquer tratamento. Necessário combater os riscos iminentes da verticalização, posto que quando não controlados, poderão colocar as vidas das pessoas em risco – coagindo o uso de medicamentos e de materiais de baixa qualidade e implantando meios ortodoxos por algoritmos para autorizar procedimentos e exames que levariam à interferência negativa no relacionamento médico-paciente.
O relacionamento entre as operadoras e a rede de prestadores deve ser saudável e não pode ser baseado em assalariamento, levando a uma perda total da prática médica como profissão autônoma. Também não poderá visar redução tributária de encargos trabalhistas, a “pejotização” e a criação de “falsas” cooperativas e de vínculos “temporários” de trabalho, que certamente desabonariam e diminuiriam os direitos trabalhistas dos médicos.
Desta forma, importante que cada médico atente para a importância de sua profissão e a influência que exerce na sociedade, que espera e confia a própria vida em suas mãos. Cabe a cada um avaliar suas parcerias, condições de trabalho e autonomia, posto que o crescimento do setor de saúde suplementar é uma realidade irreversível, e caberá aos médicos impor sua posição e seus conceitos adquiridos na sua formação, embasados no Juramento de Hipócrates.
A Associação Paulista de Medicina jamais medirá esforços para proteger a classe médica e a população de planos que corrompem a imagem e o serviço do médico e oferecem assistência de má qualidade. Intensificaremos cada vez mais a mobilização e os protestos contra as condutas e as práticas deste mercado maquiavélico.
Leandro Freitas Colturato, ginecologista e obstetra e diretor da 8ª Distrital da APM (CRM-SP 120.707 | RQE-SP 98.689)
Publicado na edição 742 da Revista da APM