Voluntários por Amor realiza mais de 4 mil consultas em mutirão de atendimento

Nos quatro dias de ação, 36 especialidades médicas atenderam a população em situação de vulnerabilidade social, sobretudo imigrantes e refugiados de países latinos

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“É um projeto que visa atenção integral à Saúde gratuitamente. Não pensamos apenas no aspecto físico de nossos assistidos, também levamos em consideração o apoio emocional de cada um deles”, ressalta a coordenadora do Voluntários por Amor, Sonia Flores Mamani. Foi com esse propósito que a organização não governamental realizou mais de 4 mil consultas em sua terceira edição de mutirão de atendimento, de 16 a 20 de julho, na Igreja Batista do Brás, em São Paulo.

Nos quatro dias de ação, 36 especialidades médicas atenderam a população em situação de vulnerabilidade social, sobretudo imigrantes e refugiados de países latinos. “Observamos a dificuldade de muitos pacientes que, às vezes, não têm dinheiro para se deslocar a uma unidade básica de saúde ou hospital. Como muitos moram e trabalham nesta região, foi acessível chegar até aqui. E sentiram-se em casa porque, na nossa equipe, somos em boa parte bolivianos e de outras nacionalidades de fala hispânica, falamos o mesmo idioma”, acrescenta a anestesiologista.

Ao todo, o grupo é composto por 160 voluntários ativos, que vão de médicos, enfermeiros e profissionais da saúde a equipe da limpeza, de alimentação, de segurança e de recreação. Bolivianos, peruanos, paraguaios, chilenos, uruguaios e brasileiros são a nacionalidade de muitos dos especialistas.

Dentre as áreas de atendimento, destacam-se clínica médica, cirurgia geral, pediatria, ginecologia e obstetrícia, cardiologia, urologia, oncologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, dermatologia, neurologia, psiquiatria, ortopedia e traumatologia e acupuntura, entre outros. Odontologia, fisioterapia, nutrição, enfermaria e curativos, farmácia, exames laboratoriais e de imagem e audiometria foram outros serviços prestados. Ainda foram doadas 20 próteses dentárias. Os atendidos também participaram de curso de primeiros socorros com brigadistas, tiveram espaço lúdico de educação e atividades artísticas infantil, oficinas de costura, espaço para corte de cabelo e almoço.

“Trabalhamos também com instituições muito fortes nos apoiando em todos os sentidos, como a Associação Paulista de Medicina, que nos ajuda a difundir a ação entre os médicos, a Federação dos Residentes e das Associações Bolivianas e as rádios Mega Fox e Centro de Comunicadores de Imigrantes (CCI), que atingem boa parte da população de imigrantes e refugiados”, informa Sonia.

Ser voluntário
Carla Lionela Trigo Romero formou-se em Medicina pela Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto, em 2017. Estagiou por seis meses na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e estudou por mais seis meses em uma Universidade em Tóquio. Três meses foram dedicados também a um estágio em Saúde da Mulher na Organização Mundial da Saúde, além de ter acumulado experiência no Médicos sem Fronteiras.

Esta é a primeira vez que participa do VPA, incentivada pelos pais que se integraram à equipe pela segunda vez: a anestesista boliviana Lionela Trigo Castro e o ginecologista, obstetra e ultrassonografista peruano Carlos Augusto Romero. Moradores de Santa Rita do Passa Quatro, eles e a amiga Natally, especialista em clínica médica, viajaram em torno de 5 horas para prestar o gesto de solidariedade ao grupo e aos assistidos.

Para Carla, é importante os médicos terem vivência em ações de Saúde, como o VPA propõe, de entender na teoria o que seria uma assistência ideal e como adaptá-la e aplicá-la na prática a uma determinada realidade. “Esse era um assunto muito recorrente na OMS, de tirar os estudantes/estagiários de Medicina de países desenvolvidos, como Suíça, e permitir que atuem em países subdesenvolvidos, movimento este inclusive do novo diretor-geral da instituição, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus. E faz muita diferença mesmo. Às vezes, vocês estuda em uma faculdade perfeita, no entanto, não tem contato com a realidade, de não ter infraestrutura em algumas unidades de saúde, filas longas de espera por uma consulta simples, demora para ter assistência e encaminhamento para especialistas. É muito rico participar de iniciativas como essa.”

“Eu vejo em cada voluntário um brilho em ajudar o próximo. Não importa o horário para o atendimento, muitos ultrapassam até a jornada. Sobre a localidade, há profissionais que chegaram do Chile e do Peru, por exemplo, e de outras cidades brasileiras, com esse espírito de amor pelo próximo”, conclui a coordenadora da ONG.

Atendidos
A costureira Magali Avalos ficou sabendo do atendimento pela rádio. Passou pelo clínico geral, ginecologista e dentista. Os dois filhos, de nove e sete anos, também tiveram atendimento bucal. “São pessoas muito atenciosas, que nos acolhem com carinho. É bom para a gente, eu me sinto dentro do meu país, eles explicam e falam o nosso idioma. Fico muito agradecida por essa campanha dos Voluntários por Amor.”

Já o costureiro Álvaro Adriano teve acesso às informações do mutirão através das redes sociais. “Passei na acupuntura, fisioterapia e dermatologia. Meus colegas do serviço também aproveitaram. Desde a portaria até entrar no consultório, você é bem recebido, é como se estivesse na sua própria casa, não nos sentimos estranhos aqui. Os médicos e os enfermeiros falam com a gente, numa linguagem amiga e ganham a nossa confiança. Agradeço por todo o atendimento.”

Fotos: Marina Bustos