Na última quarta-feira, 11 de outubro, a Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) realizou sua tradicional Tertúlia Acadêmica. Com palestra ministrada por Mario Luiz Grieco, o tema abordado pelo especialista foi “Cannabis medicinal: Fato ou Fake?”.
Além da palestra, o presidente da AMSP, Helio Begliomini, aproveitou a ocasião para inaugurar o novo site da Academia, que passou por uma reformulação completa e conta agora com 480 biografias de grandes nomes da Medicina, agenda de eventos, publicações acadêmicas e muito mais, de forma facilmente acessível.
Iniciando a sessão híbrida, realizada e transmitida a partir da sede da Associação Paulista de Medicina, Begliomini anunciou o palestrante convidado: “Mario graduou-se pela Faculdade de Medicina de Taubaté, fez clínica médica e depois o fellowship [programa de complementação especializada para médicos] em Medicina de Família nos Estados Unidos; além disso, publicou livros sobre o assunto que será tratado aqui e faz pós-doutorado sobre o mesmo tema”.
Casos apresentados
De acordo com Mario Grieco, assim que o medicamento à base de cannabis é prescrito pelo médico, a receita é encaminhada para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que analisa o caso, podendo ser ou não aprovado. “Uma vez que a receita é aprovada, o paciente pode fazer a exportação individual, ou pode comprar nas farmácias, mas, por incrível que pareça, o preço da farmácia é bem maior do que o importado”, explicou.
“A cannabis medicinal tem ajudado a melhorar a qualidade de vida. Não vou afirmar que ela tem o poder de cura, que é milagrosa. A maioria desses pacientes com problemas neurodegenerativos são ansiosos por natureza, alguns são mais velhos e têm outros problemas de dor crônica e só encontram alívio com a cannabis medicinal. Também é importante ressaltar que ela não mata neurônios, pelo contrário, aumenta”, salientou o palestrante.
No decorrer da palestra, o especialista apresentou alguns casos clínicos em que a utilização dos canabinoides medicinais foram aliados para o controle e tratamento de patologias como a epilepsia, a doença de Parkinson, o Alzheimer e a esclerose múltipla; e compartilhou ainda casos relacionados à síndrome das pernas inquietas, ao transtorno do espectro autista (TEA) e à ansiedade.
Um dos primeiros casos expostos por Grieco foi o de uma criança de 7 anos com síndrome de Dravet, um tipo raro de epilepsia caracterizado por convulsões recorrentes que têm início na infância. Segundo ele, o paciente tinha cerca de 40 convulsões por dia, e tentou tratamento com vários medicamentos, mas não obteve sucesso. Apenas com os medicamentos à base da planta foi possível controlar as crises convulsivas.
No caso do autismo, o conferencista trouxe o problema de um jovem de 23 anos que sofria com o transtorno no nível mais severo, era acometido com crises de raiva e agressividade. “Na casa em que ele mora, foram colocadas grades no quarto dele, pois ele era extremamente agressivo e quebrava tudo na casa, era uma situação muito difícil. Nós começamos um tratamento com uma pequena dose e fomos aumentando até o ponto em que o paciente se sente bem e sem efeitos colaterais. Esse caso foi muito difícil, mas conseguimos controlá-lo com uma dose alta, que mudou totalmente a personalidade dele.”
Para a doença de Parkinson, o tratamento com a cannabis medicinal não foi aprovado pela Anvisa, conforme o palestrante. No entanto, nos Estados Unidos, a erva pode ser usada para este fim terapêutico, diminuindo os tremores causados pela doença. O médico revela ainda que uma das principais estratégias utilizadas por ele é tentar retirar o maior número possível de medicamentos que já não estão funcionando tão bem e deixar apenas com a cannabis.
Prestes a concluir o raciocínio, o palestrante argumentou que “a ansiedade é a doença número um em que pacientes recorrem a cannabis medicinal como tratamento, mas, nestes casos, a dose baixa é suficiente e corresponde muito bem”.
Texto: Ryan Felix (sob supervisão de Giovanna Rodrigues)
Fotos: Alexandre Diniz