Na última quarta-feira, 30 de agosto, a Associação Paulista de Medicina realizou mais uma edição de seus webinars, desta vez em parceria com a Regional de Santo André. Desta vez, o tema escolhido foi “Tromboembolismo venoso e pulmonar – avanços no diagnóstico e tratamento”.
O encontro foi apresentado pelo presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, e moderado pelo presidente e pela diretora Científica da Regional, Newton Takashima e Nadjanara Dora Bueno, respectivamente. Para ministrar as palestras, foram convidados o cirurgião vascular e endovascular Reinaldo Donatelli, que forneceu explicações claras sobre o tromboembolismo venoso; e a pneumologista Cristina Teixeira, que destacou pontos importantes com relação à trombose pulmonar.
Introduzindo o assunto, Takashima salientou: “Ao longo dos últimos anos, percebemos que este tema tem se desenvolvido bastante, mas há muito ainda para aprender. Precisamos nos basear em dois grandes pilares: saber fazer e querer fazer. Insistir no assunto, trazer detalhes. Uma palavra de motivação e sensibilização a mais para os pacientes que, sem dúvida, sempre ajuda”.
Tromboembolismo venoso
A trombose venosa é uma patologia que afeta principalmente pacientes com restrição à mobilidade, hospitalizados, no pós-operatório, no período de gravidez e indivíduos com câncer e doenças inflamatórias, mas podendo afetar também pessoas que não se encontram nestes estágios. Como apresentou Reinaldo Donatelli, em estudos publicados nos Estados Unidos, a incidência anual de novos casos é de 2 milhões, com mortalidade de 200 mil por ano. Além disso, frequentemente causa morte súbita e é a maior causa de morte evitável em ambiente hospitalar.
O palestrante apontou ainda que o quadro clínico do tromboembolismo venoso depende da localização. “Em membros superiores, pode ser profundo ou superficial, geralmente ligado a acessos venosos e compreensão extrínseca. Já em membros inferiores, está muito ligado às varizes”.
Ele argumentou que a grande maioria das comorbidades se apresenta nos membros inferiores, causando dores, produzindo edema, empastamento muscular, sinais de homans, presença de cianose, aumento da temperatura local e nos casos mais graves de tromboses extensas, a flegmasia alba dolens e a flegmasia cerúlea dolens. “A flegmasia alba dolens geralmente causa edema e dor, porém não tem cianose. Possui oclusão total do sistema venoso profundo ileofemoral, mantendo o sistema venoso superficial pélvico, o que explica a ausência de cianose. Já a flegmasia cerúlea dolens é um quadro muito mais grave, com o comprometimento da microcirculação, tem um espasmo arterial acentuado e acaba ocorrendo a trombose arterial secundariamente, levando ao quadro da famosa gangrena venosa, muitas vezes levando ao óbito.”
O cirurgião alertou ainda sobre os diagnósticos errados, uma vez que, nesse tipo de doença, os pacientes têm o mau hábito de se autodiagnosticar, podendo induzir o médico ao erro. Donatelli mostrou alguns dos sintomas e anormalidades que podem ser confundidos com trombose, por exemplo a celulite/erisipela com toxemia sistêmica em locais bem característicos; a ruptura muscular, de início súbito, gerando dor na panturrilha, podendo evoluir para uma síndrome compartimental; e seguindo o mesmo raciocínio da anterior, a ruptura de cisto de Baker, com um agravante similar a uma trombose pela compressão da veia poplítea com a estase venosa.
Conforme o especialista, a flebografia como método de diagnóstico hoje é pouco usual, dado que é um exame invasivo, realizado em ambiente hospitalar e de uso constante. Atualmente, o principal e mais recomendado pelos profissionais da Medicina é o ultrassom Doppler ou duplex scan – não invasivo, sem contraste e que pode ser feito em consultório -, havendo também outros que cumprem bem a função.
Tromboembolismo pulmonar
De acordo com Cristina Teixeira, nos últimos 10 anos, houve mais de 520 mil internações no Brasil devido à trombose pulmonar, e mais de 67 mil óbitos. “Em vários países, temos o aumento da hospitalização por embolia pulmonar, no entanto, no Brasil, é perceptível que o número de casos não tem crescido tanto desde 2008. Esse fator pode estar ligado ao subdiagnóstico de embolia pulmonar no País”.
Os fatores de risco predominantes apontados por ela estão interligados à imobilidade, obesidade, neoplasias, cirurgias de grande porte com anestesia prolongada, politraumatismos e doenças cardiovasculares, entre outros. Na detecção da patologia, o quadro clássico é composto por dor torácica, dispneia e hemoptise (considerada rara).
“A partir do momento em que se cogitar a possibilidade de o paciente ter embolia pulmonar – detectar em qual fator está e avaliar se há estabilidade hemodinâmica -, os exames mais comuns para serem usados são o Dímero D, que não é recomendado em todos os casos, pois não é muito específico; a Angiotomografia, considerada o padrão ouro, permitindo diagnósticos diferenciais, mas que possui o risco de falso positivo; e, por último, o Ecocardiograma, de fácil locomoção, o que possibilita a realização no leito”, revelou a pneumologista.
Quanto ao tratamento na fase aguda, ela citou a trombólise, a embolectomia e o anticoagulante oral como importantes aliados no combate à enfermidade. Dependendo do caso, o tempo de cada procedimento costuma variar entre 3 e 6 meses, e com o surgimento de reperfusão, o período é estendido.
Ao concluir o raciocínio, a especialista enfatizou as principais dificuldades: “A fase mais difícil da embolia pulmonar é o diagnóstico final; muito provavelmente, ela é subnotificada, pois precisamos de exames bem específicos, e os sintomas quase sempre são inespecíficos, podendo ser confundidos com pneumonia e asma. E, como já citado, assim que detectada, é crucial começar o tratamento o mais rápido possível”.
Fotos: Reprodução Webinar APM