“Estamos vivenciando um boom na Neurogenética; e gosto sempre de lembrar que a área é formada por três palavras lindas: neurologia, gene e ética. Desta forma, esperamos vivenciar uma história diferente com novos exames, diagnósticos e tratamentos.” Foi com essas palavras que a presidente do II Congresso Brasileiro de Neurogenética, Sarah Teixeira Campos, abriu o lançamento comercial do evento, na última quinta-feira (12), na sede da Associação Paulista de Medicina.
O Congresso da Academia Brasileira de Neurologia será realizado de 26 a 28 de março de 2020, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. Conforme informou a presidente aos representantes da indústria da Saúde e patrocinadores presentes ao lançamento, a programação científica será dividida em módulos, com destaque para os temas: genética de populações, princípios de Neurogenética e neurociência, raciocínio e enfermidades em Neurogenética, semiologia em genética, neuropatias hereditárias e doenças mitocôndrias.
Ainda serão oferecidos 11 simpósios satélites. “No último dia, temas livres contemplarão estudos recentes realizados no Brasil de graduandos e pós-graduandos. Além disso, reuniremos os palestrantes internacionais para fazer um debate, com o intuito de compreender qual será a perspectiva da Neurogenética daqui a cinco, dez anos”, disse Sarah.
“A Neurologia é uma especialidade que no passado não tinha o alcance terapêutico que tem hoje. Isso depende e está dependendo em grande parte dos avanços em Neurogenética. Assim, a Neurogenética e a Neuroimunologia são duas áreas que têm crescido muito nos últimos anos, com novos conhecimentos, fármacos e terapias. Para nós, da ABN, o respaldo a este evento é integral”, destacou o professor titular de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenador científico da Academia, Ricardo Nitrini.
Histórico e expectativas
Em 2016, houve o I Encontro de Neurogenética da ABN, na sede da Associação Paulista de Medicina, com a participação de quase 300 pessoas, superando as expectativas da organização. Dada a repercussão, surgiu a ideia de realizar a primeira edição do Congresso Brasileiro de Neurogenética, que aconteceu em 2018. Mais uma vez, a comissão organizadora se surpreendeu com os 700 congressistas.
“Não é apenas o número de pessoas que nos surpreendeu, foi o choque de gerações, alunos, residentes, pós-graduandos e professores mais jovens, com experiência maior, e internacionais. Uma interação muito grande entre essas gerações fez a diferença do Congresso”, resume o neurologista José Luiz Pedroso, um dos organizadores do evento e que presidiu o I Congresso Brasileiro de Neurogenética.
Segundo Pedroso, nesta segunda edição, a união entre o desenvolvimento científico e o meio acadêmico é imprescindível, e o papel dos patrocinadores e laboratórios torna-se relevante no propósito de incentivar pesquisas na área. “É importante que saibamos aproveitar o momento, já temos quase 30 anos do início do projeto genoma. O resultado disso é a grande quantidade de novos genes descobertos, de doenças raras que não tinham um diagnóstico e a resposta que podemos dar hoje às famílias.”
Doenças raras
“Quando abordamos Neurogenética ou Genética, falamos de doenças raras. Há oito mil tipos diferentes delas, sendo a maioria relacionada à condição infantil”, explica o neurologista Jonas Saute, também da Comissão organizadora do II CBN. Em torno de 90% das doenças genéticas afetam crianças; 10% afetam adultos e têm relevância epidemiológica.
Saute acredita que a porcentagem menor corresponde de igual maneira à maior, porque são doenças que afetam pessoas em razão dos mecanismos de heranças. “Em oncogenética, uma em cada 400 pessoas tem mutação em genes associados ao câncer de mama hereditário. Isso é uma única doença que atinge um número gigante de pessoas”, exemplifica.
Por isso, a Comissão Organizadora, ao discutir os temas, contemplou doenças que afetam crianças e adultos. “Na prática clínica, tivemos uma mudança com a questão do sequenciamento de nova geração, painéis de genes, exoma e genoma”, acrescenta.
Por fim, ele afirma que talvez este seja o momento de discutir a fronteira do conhecimento, os dilemas éticos, o diagnóstico e o tratamento específico. “Estamos vivenciando um aumento importante do diagnóstico e da terapia, realmente é algo extremamente motivador, além de lidarmos com tecnologias disruptivas. E temos de estar atentos a todos os desafios éticos e os que implicam praticar a Neurogenética no sistema público e privado de Saúde do País”, conclui.
Fotos: Marina Bustos