No dia 22 de agosto, ocorreu mais um webinar da Associação Paulista de Medicina, que teve como tema “Sinais precoce de risco para autismo no primeiro semestre de vida. Como intervir?”. O evento foi transmitido a partir do auditório da APM, tendo como palestrante a psicanalista Marie Christine Laznik, doutora em Psicologia e pesquisadora em sinais de risco de autismo nos primeiros meses de vida.
O presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral, que foi o apresentador do evento, agradeceu a participação de todos. “É uma enorme satisfação apresentar mais um webinar com um assunto tão relevante como este. Meus sinceros cumprimentos à Marie, nossa palestrante, e ao meu colega Saul Cypel, professor livre docente de Neurologia Infantil pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – que coordenará o webinar.”
Por sua vez, Saul Cypel reiterou seus agradecimentos à APM por realizar um encontro com características multidisciplinares. “É uma excelente oportunidade para reunir os profissionais que têm interesse nesta área. É um privilégio poder participar e poder ouvir a Marie com seus trabalhos em desenvolvimento”, complementou.
Sinais Precoce
Marie Christine Laznik, que é formada pela Universidade de São Paulo e radicada em Paris, compartilhou uma pesquisa realizada na década de 1990 e suas percepções sobre a doença. Contou que, nesta época, era considerada uma sonhadora, porque trabalhava com autismo há muitos anos e via diferença em atender uma criança de 2 e outra de 5 anos.
“Fizemos uma pesquisa científica com 600 pediatras e 14.500 bebês, que foi publicada em dezembro de 2017. Muitos outros estudos foram realizados e eu digo que é possível reverter o autismo com intervenções em bebês nos primeiros meses. E não sou a única a defender isso”, declarou.
De acordo com ela, os sinais de risco podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, mas é necessário o médico avaliar precocemente. “Se a gente puder intervir nos primeiros dois anos de vida da criança, conseguiremos atenuar a doença. Já em outros casos, até prevenir se agirmos nos primeiros meses de vida do bebê. O cérebro da gente se torna aquilo que a gente é. Com o decorrer do desenvolvimento, não é o cérebro que vai ditar os comportamentos, mas os comportamentos que vão determinar a função do cérebro”, explicou.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social. Quanto mais cedo identificado, mais rápida será iniciada a intervenção adequada, o que pode levar a melhores resultados a longo prazo para a criança.
Muitas vezes, o diagnóstico ocorre por volta dos 2 a 3 anos de idade, feito a partir de observações, entrevistas com os pais, entre outros. O TEA é resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro e está relacionado ao desenvolvimento motor, da linguagem e do comportamento. Um sinal de alerta – e recorrente – é quando a criança não olha para os olhos da mãe ou pai, causando uma sensação de recusa – o que não é verdade.
Equipe especializada
Uma equipe transdisciplinar que atua no Centro Especializado em Transtorno do Espectro Autista do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) trabalha para explicar a esses pais que aquele comportamento do bebê não tem a ver com eles.
A equipe é composta por cerca de 40 profissionais voluntários das diversas áreas: psiquiatras da infância e adolescência, psicólogos (neuropsicólogos, analistas do comportamento e terapeutas cognitivo comportamental), fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, neuropediatras, neurologistas nutricionistas e enfermeiros.
Saul Cypel complementou que é muito importante perceber que esse bebê de dois ou três meses tem uma movimentação assimétrica. “Realmente, observar não é simples. A equipe de multidisciplinaridade é fundamental nesta observação, que não é exclusiva apenas por médicos. É fundamental observar casos de crianças prematuras, crianças com baixo peso ou crianças prematuras e de baixo peso, além de irmãos de autistas. Importante, também, considerar o histórico da gestação, se foi planejada e como se desenvolveu ao longo dos meses.”
Para Marie Laznik, outro fator interessante é a irritabilidade da criança com autismo. “As mães se queixam – e com razão – que os bebês não suportam dor. Precisa tomar muito cuidado com refluxo gastroesofágico, porque eles se desorganizam brutalmente.”
Por fim, José Luiz Amaral elogiou e agradeceu, mais uma vez, a participação da palestrante. “É um tema muito relevante e peço que esta discussão não se encerre neste webinar. Seria muito bom se pudéssemos nos reunir e formar um grupo para trabalhar em um projeto sobre o assunto”, finalizou.
Fotos: Alexandre Diniz