Tertúlia acadêmica discute a importância do Global Burden of Disease

Na última quarta-feira (11), a Associação Paulista de Medicina sediou mais uma edição da Tertúlia da Academia de Medicina de São Paulo, que contou com palestra de Linamara Rizzo Battistella, sobre “Medicina Física e Reabilitação na Perspectiva do Global Burden of Disease”

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Na última quarta-feira (11), a Associação Paulista de Medicina sediou mais uma edição da Tertúlia da Academia de Medicina de São Paulo, que contou com palestra de Linamara Rizzo Battistella, sobre “Medicina Física e Reabilitação na Perspectiva do Global Burden of Disease”. Além de diversos acadêmicos, o evento teve a presença do médico e ex-governador do estado de São Paulo Geraldo Alckmin.

Global Burden of Disease é um estudo feito sistematicamente, a cada cinco anos, para mostrar a prevalência das condições de saúde associadas com níveis severos de deficiências incapacitantes, que tiram o indivíduo da condição produtiva. “Quando você tem uma perda produtiva, há impacto para a família e para si mesmo. Vidas que são ceifadas precocemente e doenças que afastam o indivíduo da sociedade têm um peso enorme na condição do País e afetam o desenvolvimento sustentável”, explica Linamara.

Como exemplo, a especialista citou os casos de pacientes que sofreram AVC, doença de alta frequência que dificulta a fala, reduz a mobilidade e altera o sistema cognitivo. Ela evidenciou que este é o momento ideal para focar em tecnologias de apoio que auxiliem no tratamento dos enfermos e contribuem para recuperação da funcionalidade.

“A gente não pode mais aceitar que a pessoa saia do hospital para iniciar a reabilitação porque isso deve começar a partir do momento do diagnóstico. A assistência deve ir desde o momento hospitalar, que é a fase da UTI, garantindo a recuperação, até a estabilidade do paciente, se aproximando cada vez mais dessa curva que melhora a condição funcional”, evidencia Linamara.

Nesse sentido, ela apresentou os trabalhos de reabilitação da rede Lucy Montoro, que visam estimular a neuroplasticidade em fins de recuperação funcional e garantir a otimização das funções remanescentes e estratégias de abordagem para substituir a funcionalidade acometida. Isso significa que, se o paciente tem um déficit de um lado do corpo, é possível estimular o outro lado usando medidas voltadas à adaptação que auxiliam a reinseri-lo na sociedade e no mercado de trabalho.

No entanto, para garantir a evolução do tratamento, o desempenho do paciente depende efetivamente do controle dos movimentos anormais. Isso é feito com medicamentos de alto custo, mas que contribuem para encurtar o período de internação e melhoram a neuroplasticidade cerebral, garantindo melhores condições de marcha e movimentação. Graças a essa abordagem, o número de pessoas encaminhadas para os cuidados dentro de instituições foi reduzido.

Modelo brasileiro
As pesquisas desenvolvidas na rede Lucy Montoro garantiram que, em 2019, a instituição recebesse um selo internacional de reconhecimento que a considerou como o melhor hospital de reabilitação do mundo. Ele possui um grande investimento em tecnologias, sendo a robótica uma das áreas mais notáveis.

Os sistemas robóticos auxiliam de forma segura, fazendo com que não se tenha riscos para o paciente e para o profissional que está ajudando com a sua recuperação. Com esse método, é possível em três semanas obter os mesmos resultados que no passado dependiam de seis a oito meses de consultas.

“Os equipamentos robóticos não apenas dão uma garantia de qualidade de segurança e de repetitividade que não se consegue com as estratégias clínicas. Através deles, a gente elabora programas de amplo desempenho, nos quais o paciente faz um número de repetições eficazes e com capacidade de realizar um mapeamento cerebral. Assim, ativo áreas que estavam na penumbra, melhoro a atenção, percepção e a função dos membros superiores ou inferiores”, complementa Linamara Battistella.

De acordo com ela, a terapia robótica é responsável por uma série de vantagens e benefícios, como movimentação ativa, intensidade e tarefa orientada, além de dar ao paciente um feedback sobre o que foi realizado em cada sessão, podendo saber quais foram as melhoras alcançadas e quais atividades ele estará apto a realizar no próximo atendimento.

Como cada paciente tem as suas particularidades e especificidades, foi desenvolvida uma técnica que permite analisar o mapeamento das áreas cerebrais que estão sendo estimuladas, chamada de F-nirs. “Trata-se de uma espectroscopia infra-vermelha, pós infra-vermelho curto, que nos permite fazer imageamento cerebral durante a atividade. Somos o único centro na América Latina a usa-la”.

Por fim, a especialista demonstra que o cuidado é muito mais abrangente que a cura em si. “Estamos muito acostumados a pensar em cura, e deveríamos pensar mais em cuidar de cada paciente como se ele fosse único e como se fôssemos únicos paraeles.”

Texto: Julia Rohrer (sob supervisão de Giovanna Rodrigues)
Fotos: Marina Bustos