A primeira Tertúlia do ano da Academia de Medicina de São Paulo (AMSP), realizada na última quarta-feira (12) na Associação Paulista de Medicina (APM), teve palestra do gastroenterologista cirúrgico José Eduardo de Aguilar Siqueira do Nascimento, sobre Aceleração da recuperação pós-operatória – projeto Acerto fundamentado na Medicina Baseadas em Evidências, aplicado ao cuidado perioperatório.
“Há muitos anos, Nascimento lidera um programa absolutamente fantástico no que tange à qualidade e à segurança de pacientes cirúrgicos. Aplicado a todas as especialidades, o Acerto otimiza o preparo, o acompanhamento e a recuperação operatória”, apresentou o presidente da AMSP e da APM, José Luiz Gomes do Amaral.
O gastroenterologista fez uma breve apresentação da filosofia do projeto Acerto, iniciado em 2005. Trata-se de um protocolo multimodal de cuidados perioperatórios, adaptado à realidade epidemiológica da América Latina. “Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico observado nos últimos séculos, ainda prescrevemos aos pacientes cuidados perioperatórios usados nas décadas de 1960 e 1970, como jejuns prolongados e antibióticos em excesso, mesmo com evidências científicas importantes para acelerar a recuperação do paciente”, relata.
No início do século, foi criado na Europa o protocolo Eras (Enhanced Recovery After Surgery), que consiste em um conjunto de medidas destinadas a melhorar a recuperação do paciente e diminuir o tempo de internação e as complicações pós-operatórias. “Mas, o custo foi oneroso para a sua implementação no Brasil”, rememora o especialista.
Em 2005, a partir de um treinamento em Seminário com a participação de docentes médicos e residentes dos serviços de Cirurgia e Anestesia, nutricionistas, enfermeiros e fisioterapeutas, surge o primeiro e experimental protocolo Aceleração de Recuperação Total Pós-Operatória (Acerto).
“Apresentado por mim ao Departamento de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário Júlio Muller, da Universidade Federal do Mato Grosso, foi a primeira tentativa de conhecimento sobre o questionamento de jejuns prolongados pré e pós-operatórios e a necessidade de uma realimentação precoce, com terapia nutricional, questionamentos sobre o preparo do cólon, incisões oblíquas, controle de náuseas e vômitos e uso de analgésicos”, explica Nascimento.
Desde então, o protocolo tem se adaptado às mudanças tecnológicas da Saúde. As principais condutas têm como ponto de discussão: incisões oblíquas em videocirurgia, auditoria com avaliação de resultados, informação pré-operatória, diminuição de uso de drenos e sondas, anestesia peridural, controle de dor e prevenção de NVPO, diminuição de fluidos IV intra e pós-operatório, abolição do preparo de rotina de cólon, suporte perioperatório, mobilização ultra precoce, abreviação do jejum pré-operatório e realimentação precoce no pós-operatório.
Avanços
Segundo o idealizador do projeto, a prática de uso do protocolo tem contribuído para diminuição de morbidade, tempo de internação e custos operatórios. “No Brasil, opera-se entre 6 e 9 milhões de casos no sistema público de saúde, por isso, diminuir em um dia o tempo de internação é muito significativo.”
No pré-operatório, estudos recomendam de 2 a 3 horas de jejum. “Quando há prescrição de 6 a 8 horas de jejum, as pessoas ficam muito mais exaustas e podem apresentar problemas metabólicos, agravando os casos. Uma amostra com 19 hospitais universitários no Brasil aponta que, de maneira geral, há atrasos cirúrgicos, levando o assistido a ficar até 18 horas sem comer. Isso agrava a resistência operatória e pós-operatória e a resposta inflamatória também aumenta. No entanto, temos visto um avanço importante com a aplicação do protocolo, sobretudo, para pacientes idosos, oncológicos e desnutridos”, avalia.
No pós-operatório, o Acerto recomenda a realimentação precoce, com a significativa melhora de complicações e redução do tempo de internação. “Um estudo realizado em Barretos mostra que é possível realimentar precocemente, mesmo após a cirurgia gastrointestinal. Outras evidências informam que a alimentação ainda na sala de recuperação anestésica, comandada por um anestesista, acelera a utilidade gástrica. A utilização de goma de mascar, medida extremamente simples, pode ainda contribuir para a recuperação rápida do paciente”, conclui.
O primeiro simpósio nacional do Acerto aconteceu em 2008. Nos dias 3 e 4 de abril, acontece o 13º encontro, com médicos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos e outros profissionais da Saúde, no Centro de Eventos Fecomercio.
Texto: Keli Rocha
Fotos: Marina Bustos