Tertúlia acadêmica: Edivaldo Utiyama fala sobre experiência do HC na pandemia

Nesta quarta-feira, 10 de fevereiro, a Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) e a Associação Paulista de Medicina (APM) receberam, em mais uma edição on-line da Tertúlia Acadêmica, Edivaldo Utiyama, vice-diretor Clínico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

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Nesta quarta-feira, 10 de fevereiro, a Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) e a Associação Paulista de Medicina (APM) receberam, em mais uma edição on-line da Tertúlia Acadêmica, Edivaldo Utiyama, vice-diretor Clínico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), que falou sobre a experiência da instituição durante a pandemia.

Antes do início da apresentação, José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMSP e da APM, mencionou a satisfação de abrir a programação das Tertúlias em 2021. “Nos vimos, no ano passado, na contingência de mudar o formato de apresentação dos encontros, que tradicionalmente aconteciam presencialmente durante o almoço. Desde a metade de 2020, estamos conduzindo as reuniões on-line”, relembrou.

Na sequência, Utiyama fez uma rememoração dos fatos iniciais da pandemia de Covid-19, doença que teve os primeiros casos ainda em dezembro de 2019, em Wuhan (China). Segundo o gestor, a partir de janeiro de 2020, quando a preocupação no Brasil começou a crescer, o Hospital das Clínicas resolveu tomar uma atitude: ativar o seu comitê de crise.

“Esse é um comitê que acompanha e estabelece o seu planejamento baseado no protocolo Hospital Incident Command System (Hics). O adotamos em 2013, quando atendemos bombeiros vítimas do incêndio do Memorial da América Latina. Fomos retaguarda na Copa do Mundo (2014) e nas Olímpiadas (2016), atendemos 135 casos suspeitos de febre amarela em 2018 e, em 2019, as vítimas da tragédia dos ataques de Suzano”, detalhou o vice-diretor.

O grupo foi formado pelas gestoras médicas e especialistas em crises do HC, Maria Beatriz Perondi, Leila Suemi Letaif, Anna Miethke Morais e Amanda Cardoso Montal, e pelos professores Titulares da FMUSP Aluisio Segurado (presidente do Conselho Diretor do Instituto Central) e Eloisa Bonfá (diretora Clínica do Complexo HC/FMUSP), além do próprio Edivaldo Utiyama.

Primeiras ações
Conforme o vice-diretor Clínico do HC, a instituição passou a monitorar, após a ativação do comitê de crise, os casos de Covid-19, se preparando para o enfrentamento a partir do momento em que a doença chegasse ao Brasil.

O primeiro planejamento estabeleceu que cada um dos oito institutos do complexo teria áreas de isolamento para os doentes de coronavírus. Devido à alta transmissibilidade, entretanto, a ideia foi deixada de lado e o Instituto Central (IC) do HC foi transformado em um ambiente exclusivo para Covid-19.

“A partir deste momento, iniciamos uma megaoperação. Havia 460 pacientes no IC, 84 deles em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Parte deles teve alta e outros 250 foram transferidos a outros institutos em um processo de 12 dias. Os serviços de emergência não-Covid também foram distribuídos para o Hospital Universitário, para o Prédio dos Ambulatórios do IC, para o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e para o pronto-socorro do Instituto do Coração (InCor).”

Infraestrutura
Além do remanejamento, outras medidas foram necessárias. Antes, afirmou Utiyama, a equipe do HC acreditava que 100 leitos de UTI fossem suprir as necessidades da população paulista. Nos primeiros dias de atendimento, entretanto, eles verificaram que 60% dos casos estavam exigindo terapia intensiva. “Resolvemos, então, ampliar a oferta para 300 leitos. Transformamos 34 salas cirúrgicas em 76 leitos de UTI. Além disso, transformamos enfermarias em leitos.”

O vice-diretor Clínico relembrou que o hospital teve de estabelecer uma usina de oxigênio e outra de energia elétrica, aumentando, respectivamente, 105% e 100% o fornecimento. Equipamentos assistenciais também foram providenciados, o número de ventiladores cresceu em 120%, o de máscaras em mais de 450%, igualmente ao do suprimento de álcool em gel. O número de aventais descartáveis subiu 14.000%.

“Claro que todo trabalho só foi possível com parcerias e doações que chegaram a R$ 46 milhões”, destacou Edivaldo Utiyama. Entre financiamento, leitos, equipamentos, entre outros auxílios, apoiaram o HC: Rede D’Or, Grau, BTG Pactual, Hospital do Coração, Beneficência Portuguesa, Hospital Sírio-Libanês, Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e Hospital Israelita Albert Einstein.

Pontos chaves
Outros destaques feitos por Utiyama se referiram aos protocolos e à comunicação. Sobre o primeiro tema, o gestor afirmou que foram montadas equipes de suporte, chamadas times de resposta rápida, nas seguintes áreas: intubação com anestesistas, transporte de paciente crítico, passagem de cateter, traqueostomia, diálise, paliativos e pronação. Todos os procedimentos também continham tutoriais e foram treinados com as equipes.

Houve, ainda, preocupação especial com o atendimento dos colaboradores. “Oferecemos suporte psicológico a distância e presencial para quem sentia a necessidade desse apoio. E foi feito um centro de atendimento ao colaborador. Todos que tinham sintomas respiratórios eram encaminhados e orientados. Até janeiro de 2021, tivemos mais de 3.200 casos de Covid-19.”

Em relação à comunicação, Utiyama ressaltou a dificuldade diante do desconhecido naquele primeiro momento. Segundo seu relato, muitos planos que eram definidos no período da manhã tinham de ser alterados na tarde do mesmo dia, a depender da realidade que se impunha com o agravamento da demanda de atendimento de doentes. Para alinhar, os grupos

se reuniam duas vezes ao dia, repassando o que deveriam fazer durante aquele dia e analisando o que deu ou não certo.

Agradecimento
Ao fim do encontro, José Luiz Gomes do Amaral mencionou a emoção que ele e os demais confrades da Academia de Medicina de São Paulo sentiram ao passar de cada slide da apresentação do vice-diretor do HC/FMUSP. “Muito emocionante acompanhar esse resumo do que foi 2020 e o que está sendo 2021. Uma emoção positiva poder sentir, em cada uma das iniciativas e momentos, o valor das pessoas ali envolvidas.”

O presidente da APM e da AMSP ressaltou que a capacidade de se organizar, trabalhar em sinergia e transmitir esperança que foi apresentada renova as esperanças de que o êxito será alcançado diante desta pandemia e das demais dificuldades que a sociedade ainda irá enfrentar.

“Não poderia haver momento melhor que esse para reverenciar todos os que estão trabalhando na linha de frente, em prol do nosso futuro. Respeito a você e a todos que no Complexo do HC continuam trabalhando por nós – muitíssimo obrigado, mesmo! Os senhores escreveram páginas gloriosas na história do nosso País e da humanidade”, completou Amaral.