Mulheres Líderes participam de Warm Up do Global Summit APM

A participação feminina em papeis de destaque no mercado de trabalho é uma realidade cada vez mais constante em todo o mundo, e no cenário da Medicina, da Tecnologia e da Saúde Digital, este fenômeno não é diferente

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A participação feminina em papeis de destaque no mercado de trabalho é uma realidade cada vez mais constante em todo o mundo, e no cenário da Medicina, da Tecnologia e da Saúde Digital, este fenômeno não é diferente. Por este motivo, o segundo Warm Up do 5º Global Summit Telemedicine & Digital Health APM – aquecimento para o maior evento de Telemedicina e Saúde Digital da América Latina – foi realizado no auditório da Associação Paulista de Medicina na última terça-feira, 20 de junho, trazendo “Mulheres Líderes” como tema central das apresentações.

O evento teve Ana Cláudia Pinto, CMO de Saúde Digital do Grupo Fleury, como moderadora. Ela recebeu como palestrantes Lilian Hoffmann, CIO da Beneficência Portuguesa; Ana Clara Rabha, diretora médica da Tuinda Care; Isabela Abreu, CEO da empresa Red Fox; e a deputada federal Adriana Ventura, uma das responsáveis pelo desenvolvimento da Lei da Telessaúde.

Ana Cláudia iniciou a discussão relembrando a magnitude que o mercado da Saúde possui – só nos Estados Unidos, é responsável por movimentar mais de 4 trilhões de dólares – e das particularidades complexas que um sistema deste tamanho traz. A especialista trouxe uma publicação da venture care Andreessen Horowitz, em que se destacava a necessidade de inserir a Tecnologia no cuidado à Saúde. “Acho que temos elementos suficientes para fazermos esta discussão do porquê podemos tentar revolucionar a Saúde em 2023.”

O warm up também contou com a presença do presidente do GS, Jefferson Fernandes, e do copresidente do evento e diretor de Tecnologia de Informação da APM, Antonio Carlos Endrigo.

Interoperabilidade

De acordo com Lilian Hoffmann, a dificuldade em interoperar sempre esteve relacionada à falta de padrões, semânticas e conteúdos definidos – o que fazia com que profissionais do setor não se aprimorassem no tema. No entanto, diante das dificuldades vividas na Saúde e ao sanar as questões técnicas, é possível identificar que a interoperabilidade possui uma premissa de contribuir para o processo de não desperdício neste segmento.

“Para interoperar, como o próprio termo diz, é preciso que se tenha interesse no dado, para olhar para a informação e atender melhor o paciente, olhando para ele dentro de sua jornada em Saúde”, explicou a CIO, acrescentando que a Beneficência Portuguesa ganha em fidelização do convênio, prestando melhor assistência ao paciente – já que é possível utilizar os dados do cliente para, assim, fazer uma análise de preditores e, consequentemente, prever melhoras nos diferentes casos.

Para a especialista, a interoperabilidade permite que os modelos de negócio também comecem a se modificar. “A interoperabilidade não pode começar pela área da Tecnologia, senão vamos ter um problema. Quem precisa desejá-la é a área clínica, porque eu posso ter um dado, eu o interpelo como tecnologia e ninguém usa. Então, quem precisa desejar é o profissional de Saúde, é ele quem precisar querer que este dado aconteça, entender o paciente como um todo e usar isso para podermos, assim, alavancar neste quesito”, complementou.

Acesso

Pensando na aplicabilidade clínica que a incorporação de tecnologias pode ter, Anna Clara Rabha trouxe uma série de dados que comprovam o que é ser mulher neste cenário. Apesar de 91% das mulheres terem um médico de rotina, apenas uma em cada quatro tem o diagnóstico de doenças relacionadas ao sexo feminino. Além disso, 20% desta população relatam que os profissionais da Saúde não ouvem ou menosprezam as queixas, o que é preocupante, uma vez que estão se formando cada vez mais mulheres na Medicina e é fundamental ofertar qualidade no diagnóstico e tratamento.

“Entre 85% e 90% do consumo em Saúde é determinado pela mulher, e 75% delas são mais propensas a aderirem à Saúde Digital que os homens. Fico muito feliz com a iniciativa de colocarmos pessoas heterogêneas para conversar sobre este mercado, porque aqui somos as mulheres que estão decidindo para onde vai esta fatia, então é muito importante ver este movimento crescendo e estarmos assumindo lugares de liderança e de tomada de decisões, para que assim possamos olhar para este cenário por meio das nossas próprias dores”, falou.

Anna Clara também trouxe dois exemplos de startups que desenvolveram aplicativos que visam melhorar a qualidade de vida da mulher. Um deles possibilita a verificação do ciclo menstrual e o outro, por meio de uma luz de led, fornece melhor experiência sexual para mulheres que estão na menopausa. Porém, apontou que no Brasil, ainda faltam investimentos neste sentido.

“Trouxe muitos dados, mas acho que eles são importantes para o embasamento e a tomada de decisão. Nós temos a informação, temos o fato e sabemos qual é a solução. Agora, como podemos caminhar juntas e ofertar uma melhor Saúde para todas nós?”, finalizou com o questionamento.

Experiência do Paciente

Isabela Abreu pontuou que os pacientes têm estado cada vez mais informados, com inúmeros conhecimentos sobre suas condições. Além disso, eles também estão se tornando digitais, enquanto uma série de instituições de Saúde continua analógica, o que acaba não correspondendo à comodidade e facilidade que procuram. “O digital é o meio para tornar a informação, o produto e o serviço mais acessíveis. A tecnologia é utilizada para trazer mais acessibilidade, mais facilidade e para fazer diagnósticos precoces, mas não para ser o produto final.”

Além disso, Isabela também indicou que uma série de pacientes demonstra preferir o atendimento por meio da Telemedicina, pois sentem que o método os aproxima do médico, uma vez que em consultas presenciais, pode haver distrações no consultório, enquanto pelo meio digital, o médico deve se manter totalmente focado no que lhe está sendo relatado. Para a especialista, a melhor forma de equilibrar este sistema é trazendo melhor experiência e maior eficiência para as instituições de Saúde.

“A saída que eu vejo é trazer sim a tecnologia, que vai nos aproximar do paciente e fazer com que o conheçamos cada vez melhor. Que possamos detectar o quanto antes o que está acontecendo com ele. A tecnologia não é uma ferramenta que vai substituir o médico, mas, de fato, vai automatizar e melhorar processos repetitivos e manuais. Ela veio para ser um facilitador. O grande paradigma que temos que pensar agora é como melhoramos a jornada do paciente, trazendo melhor experiência, uma jornada mais fluida, uma comunicação mais transparente e reduzindo o custo das instituições”, manifestou.

Regulamentação

Adriana Ventura salientou a importância do diálogo e de ouvir as diferentes opiniões sobre o tema, para assim desenvolver uma construção efetiva de uma ferramenta que veio para contribuir positivamente tanto com médicos quanto com pacientes. A deputada, que iniciou o seu primeiro mandato em 2019, relembrou que ao entrar no Plenário pela primeira vez, identificou muita resistência por parte de outros parlamentares que eram totalmente contra a Telemedicina. No entanto, com a chegada de 2020 e, consequentemente, da pandemia de Covid-19, puderam conhecer melhor o tema e se adaptar a ele.

“Precisamos colocar a sociedade para falar, pois existe um abismo enorme entre quem faz a lei e quem vive as dificuldades diariamente. Eu fiz muitas audiências sobre a Telemedicina e todo mundo que discordava, eu colocava para falar. Então, falo que quando se tem motivação para fazer alguma coisa, isso tem origem em uma necessidade. Nós vemos que a experiência das pessoas traz outras demandas e necessidades, e quando aprovamos a Lei da Telessaúde, que hoje é permanente, o debate foi muito bacana, porque cada um, com a sua visão, fez parte daquilo”, recordou.

Para a deputada, em relação à regulamentação, o grande problema está no fato de que, quando um indivíduo passa a ser contra, todo o processo acaba ficando paralisado. “Hoje, eu coordeno a Frente Parlamentar da Saúde Digital, para discutirmos como avançamos em um assunto complexo e quando um interesse começa a se sobrepor aos outros, causando um bloqueio, nós temos um grande problema da sociedade para resolver. Tem questões individuais, de interesse público e que precisamos debater de uma maneira franca, pois atualmente tudo acaba sendo uma desculpa para não avançar. Precisamos dar um jeito de harmonizar tudo isso”, concluiu.

Fotos: Alexandre Diniz