Na noite desta segunda-feira, 14 de setembro, centenas de médicos de todo o País puderam conhecer mais sobre a nova gestão (2020-2023) da Associação Médica Brasileira e as ações que os novos diretores pretendem empreender para valorizar o médico a nível nacional. Eles estiveram em live, promovida e transmitida pela Associação Paulista de Medicina em suas redes sociais, com a participação de César Eduardo Fernandes e Luciana Rodrigues Silva, presidente e vice-presidente eleitos para a AMB, com 6.100 votos.
O neurocirurgião Júlio Pereira, um dos moderadores do encontro, iniciou o encontro apontando que, atualmente, debate-se muito em grupos de Facebook, WhatsApp, em conversas dentro de hospitais e instituições de saúde a falta de representação associativa nacional. De alguém que ocupe o espaço de luta em defesa do médico.
Com a palavra, César Fernandes ressaltou que a “Nova AMB” – nome da chapa eleita – considera que a defesa profissional deve ser o carro chefe do movimento associativo. “Queremos valorizar o exercício da Medicina. Temos que ter duas bandeiras. A primeira dela diz respeito à boa assistência da Medicina. Nossa profissão vem sendo precarizada e a população tem de estar aclarada sobre a longa formação acadêmica do médico.” A segunda bandeira, continuou, é a necessidade de os médicos estarem sempre atualizados, acompanhando a evolução diária de conhecimentos.
O presidente eleito da AMB também falou da importância de os médicos conquistarem uma carreira no sistema público, garantindo que essa será uma das bandeiras da instituição. “Hoje, o salário inicial de um médico é 1/10 de um de juiz. Que são, claro, pessoas muito capacitadas, assim como os médicos”, argumentou.
Ele ressaltou, ainda, que os médicos se enchem de orgulho ao serem considerados heróis – como tem acontecido em tempos de Covid-19 – mas, mais importante do que isso, é necessário que eles sejam respeitados e valorizados como profissionais responsáveis que são, sempre oferecendo a melhor atenção possível à população.
Trabalho nacional
Na sequência, Diana Santana, que também é neurocirurgiã e foi a outra moderadora do encontro, questionou Luciana Silva sobre como a “Nova AMB” pretende integrar o trabalho com as demais federadas.
“Queremos trabalhar juntos, pois o trabalho coletivo com o mesmo objetivo é aquele que dará bons frutos. Estou na segunda gestão [como presidente] da Sociedade Brasileira de Pediatria e temos feito várias ações de valorização da especialidade. Pois imaginamos que sociedades de especialidades, associações e federadas têm de se aproximar. Todo o grupo quer interlocução”, iniciou a vice-presidente eleita da AMB.
Ela também indicou que o trabalho conjunto será feito em favor do médico: de sua formação, de sua valorização e de sua remuneração, o que considera aspectos fundamentais. “Todos precisam trabalhar juntos para ampliarmos essas aspirações. Temos insistido diuturnamente na SBP: quando um estado aparece com alguma questão, estamos junto das federadas e dos conselhos dando apoio. Tenho certeza que a ‘Nova AMB’ irá trilhar esse caminho.”
José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, também falou sobre como a instituição deverá contribuir com a nova administração nacional. “Penso que da mesma forma que fizeram nossos colegas em 1951, ano em que inauguraram a sede atual da Associação e realizaram o 3º Congresso de Medicina de São Paulo. No evento, foi gestada a Associação Médica Brasileira”, relembrou.
Segundo o Gomes do Amaral, os médicos de São Paulo entendiam, já naquela altura, que era absolutamente que se agregassem aos médicos de todos os outros cantos do País. E que assim seriam mais fortes e iram mais longe.
“Entendemos hoje o que eles há tantos anos já viam. A Medicina brasileira só será forte quando reunir médicos qualificados em todo o Brasil. Não existe uma especialidade mais forte do que outra. Dependemos, para que nosso organismo viva bem, que todas as áreas estejam muito bem. Temos que contribuir para que tenhamos um País menos desigual, mais desenvolvido e com o futuro que todos merecemos”, completou.
Federadas
O encontro também contou a presença dos colegas Fábio Augusto de Castro Guerra, diretor de Defesa Profissional da SBP e presidente eleito da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), e Gérson Junqueira Júnior, presidente eleito da Associação Médico do Rio Grande do Sul (AMRIGS).
O médico mineiro ressaltou o trabalho que tem sido feito na Sociedade Brasileira de Pediatria em prol dos interesses dos profissionais de Medicina. “Temos que valorizar o associativismo. Mas só o valorizamos e implementamos com eficiência se valorizarmos o médico. É uma missão difícil, estamos em um momento em que as pessoas estão sem esperança, mas temos que trabalhar isso.”
Fábio Guerra também abordou o seu desejo de realizar ações em redes, que comecem nas sociedades de especialidades, passem pelas regionais e federas e cheguem à AMB. “Também não é fácil, mas com planejamento conjunto, ouvindo pessoas, podemos fazer. Precisamos trabalhar na comunicação, fazendo chegar ao médico as ideias e pensamentos deles”, disse.
O presidente eleito da AMMG mostrou, ainda, a sua preocupação em relação à distância entre os médicos, apesar do número cada vez maior de profissionais. Em sua avaliação, um número pequeno de profissionais participa da vida associativa e é missão da AMB e das federadas pensar formas de atrair mais colegas para as entidades.
Gérson Junior, em sua intervenção, listou uma série de problemas da saúde pública e privada no Brasil, mas focou onde tudo começa: nas escolas médicas. “No RS, temos 20 escolas. No Brasil são mais de 300. Como queremos médicos com qualidade, se falta qualidade nas escolas?”, refletiu.
Segundo o médico gaúcho, muitas faculdades não têm campo de ensino adequado, não tem ambiente hospitalar, não contam com ambulatórios ou urgência e emergência, têm ações primárias e secundárias de saúde deficientes, além de corpo docente desqualificado e diretrizes curriculares não cumpridas. Tudo isso, exige uma vigilância e controle maior, em seu entendimento.
“Não adianta falar que faltam médicos no Brasil. Não é verdade. Temos em média 2,5 médicos por mil habitantes – números comparáveis ao Canadá, aos EUA e grande parte da Europa. Temos, claro, má distribuição demográfica. E não adianta mais escolas para resolver. A gente precisa entender o porquê de os médicos preferirem se centralizar”, adicionou.
Eleições
Diana Santana voltou a participar falando sobre o resultado das eleições da AMB, vencida pela “Chapa 2 – Nova AMB” com 6.100 votos (60,46%), vantagem de 2.111 votos em relação a outra chapa. Segundo a moderadora, mesmo com o recado das urnas, alguns médicos estão tentando desacreditar os fatos e disseminando fake news.
Sobre o tema, César Fernandes foi taxativo: “em qualquer eleição, tem de ser respeitada a vontade das urnas – elas enviam mensagens claras”. Para o presidente eleito, se houvesse satisfação com os rumos que a AMB tomou na última década, certamente o grupo da situação teria saído vitorioso das eleições.
“Isso não os desqualifica. Simplesmente não há aprovação da imensa maioria dos médicos brasileiros em relação às opções de gestão que foram feitas. Não quero, junto do grupo vencedor, me comportar como candidato, tentando convencer os colegas que pretendemos mudar os caminhos da AMB. Eles já acreditaram nisso e querem mudança. Não me parece, portanto, legítimos os acenos de não aceitação dos resultados das urnas de ou de busca, através de instâncias da AMB, de guarida para teses ilegítimas.”
Para Fernandes, em todas eleições há vencedores e perdedores, sendo inclusive uma boa prática aquele que perdeu ligar ao que ganhou desejando a ele que tenha todo o sucesso na gestão da instituição. “Temos que ter pensamento institucional. Não seremos ‘Nova AMB’ apenas àqueles que acolheram nossas ideias. Faremos uma AMB para quem votou e acreditou, mas também para que ainda tinha dúvida. E não é nossa intenção descontruir tudo que há na entidade – certamente há coisas boas que precisam ser acolhidas. Também não teremos federadas apoiadoras ou opositoras, todas vão merecer igual atenção”, defendeu.
Ele também defendeu a necessidade de AMB se politizar – o que é diferente de se ideologizar ou se partidarizar. Garantiu, inclusive, que a “Nova AMB” não deixará que a instituição se torne arauto de nenhum partido político, de qualquer matiz ideológica. “O que precisamos é estar próximo de todos os governantes, oferecendo críticas e levando sugestões. Ocupando um espaço em que o médico precisa estar na gestão da saúde.”
César Fernandes falou ainda sobre a veiculação das notícias que dão conta de um desvio de R$ 50 milhões dos cofres da AMB. “Nossa posição é clara: isso envergonha a Associação Médica Brasileira. Não podemos apontar nomes e culpados, esse não é nosso papel. Mas abriremos toda a AMB para que seja auditada, apresentando todos os documentos. Não poderia ser diferente. Não temos sentimento de retaliação, apenas queremos que seja tudo esclarecido e os responsáveis apontados para responderem.”