Covid-19: Webinar APM aborda consulta clínica e testes epidemiológicos

Na noite da última quarta-feira, 8 de julho, a Associação Paulista de Medicina reuniu especialistas em mais uma edição de seu Webinar, transmitido pela TV APM, para debater os testes e os critérios de consultas clínicas usados para pacientes com Covid-19

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Na noite da última quarta-feira, 8 de julho, a Associação Paulista de Medicina reuniu especialistas em mais uma edição de seu Webinar, transmitido pela TV APM, para debater os testes e os critérios de consultas clínicas usados para pacientes com Covid-19. O seminário virtual foi moderado pelo Professor Adjunto de Infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), Paulo Roberto Abrão Ferreira.

“São discussões importantes que nos trazem muitas dúvidas com relação a melhor conduta que podemos ter com aquele paciente que está no ambulatório ou será internado em um ambiente de enfermaria; como conduzi-lo nesse sentido, inclusive sob o ponto de vista epidemiológico, agregando o ambiente hospitalar e a sociedade como um todo. Temos muitas dúvidas ainda sobre os testes, se são ou não de alta qualidade, e qual a melhor forma de aplicá-los em situações clínicas diárias”, introduziu Ferreira aos usuários virtuais.

O professor da EPM/Unifesp, Eduardo Medeiros, médico infectologista, traçou um breve panorama da origem do novo coronavírus, tendo os primeiros casos registrados em 31 de dezembro de 2019, em Wuhan, parte central da China.

“Isso chamou a atenção dos serviços de saúde daquela localidade. Alguns estudos apontaram o elo epidemiológico com o mercado de venda de frutos do mar e animais vivos, fechado em 1º de janeiro de 2020. As pessoas com o quadro de pneumonia grave foram isoladas”, relatou o professor.

O surto cresceu de forma importante, extrapolando a cidade e estendendo-se por toda a China, chegando aos demais países asiáticos e à Europa, acometendo principalmente a Itália.

“O país italiano tem relação direta com a epidemia no Brasil. Lá, a expansão do vírus ocorreu em fevereiro deste ano, coincidindo com o período de férias do Brasil e com as festividades carnavalescas. Muitos italianos vieram para São Paulo, muitos brasileiros e paulistas foram e retornaram da Itália”, relacionou Ferreira. O primeiro caso brasileiro, ocorrido em 26 de fevereiro, foi de um viajante que chegou da Itália a São Paulo.

O especialista criticou a negligência dos órgãos nacionais de não tomarem as devidas providências, naquele momento, sobre uma possível expansão do vírus. “A doença foi subestimada até por colegas nossos médicos que achavam que se tratava apenas de um quadro gripal e não deram a devida atenção. Isso cresceu de forma importante em São Paulo, inicialmente nos bairros nobres da capital, onde as pessoas vinham de suas viagens do exterior, tanto que os hospitais particulares foram os primeiros a ficarem lotados com as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) cheias.”

Hoje, como evidencia o levantamento epidemiológico da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, o vírus se espalhou e a região Norte do País é a mais acometida pela doença. “Aqui no Sudeste, onde a presença foi muito maior, os sistemas de saúde estavam mais ou menos organizados e se prepararam um pouco melhor”, afirmou Medeiros.

Técnicas de diagnóstico

“É importante a pré-solicitação de um teste e resgatar a história epidemiológica do doente porque sabemos que boa parte da transmissão ocorre no domicílio”, destacou a Professora Afiliada da EPM/Unifesp, Nancy Cristina Junqueira Bellei.

O teste RT-PCR, em que se utiliza técnicas de biologia molecular para detectar se o vírus está presente no corpo, é o mais indicado para quem está com sintomas da Covid-19.

“Já usávamos esses testes rápidos para saber se o indivíduo estava ou não infectado por H1N1. O que chamamos agora de testes rápidos são os sorológicos para detecção de gene, com a coleta de secreções respiratórias, com chance de ser positivo até o 10º dia de infecção, depois vai diminuindo”, explicou a professora, informando ainda que no primeiro dia de infecção o PCR pode ser inconclusivo, com apresentação falsa de resultado negativo.

A sorologia, exame capaz de detectar os níveis de anticorpos IgM e IgG ou IgA e IgG no sangue, também é uma novidade para a análise dos casos de doenças respiratórias virais. Há muitos testes de boa qualidade disponíveis no mercado, segundo a especialista. Para indivíduos suspeitos na fase aguda, os profissionais devem realizar o RT-PCR.

Por fim, Bellei retomou algumas considerações de sua aula: “Temos de ressaltar que todos os testes não guardam uma relação direta ou proporcional a anticorpos neutralizantes, estes são só feitos em laboratórios de pesquisa. Além disso, ainda não sabemos se há possibilidade de reinfecção por Covid-19, não temos respostas sobre a dinâmica imunológica; usar a sorologia para não usar máscara é algo que não recomendamos; e os inquéritos epidemiológicos em empresas e hospitais devem entender que o indivíduo está circulando no espaço público”.

De volta à normalidade?

A possível estabilização no número de infecções e mortes levou o governo da capital paulista a flexibilizar a reabertura de bares, restaurantes e comércio. “Estamos chegando a um platô de curva da doença, com a epidemia um pouco controlada, embora ainda haja muitos casos. No interior, ao contrário, a doença cresce, com ocupações de UTIs próximas a 90% em algumas cidades”, acrescentou Medeiros.

No entanto, ele informou que muitos países voltaram atrás quando viram o reaumento no número de casos, sobretudo, em cidades importantes. “É uma doença transmitida por gotículas, depositadas em locais e objetos. E as medidas mais efetivas de prevenção hoje são o distanciamento social, com a diminuição do contato físico, bloquear as gotículas com a utilização de máscara, lavar as mãos com a higienização correta, pois o vírus é sensível ao sabão e ao álcool em gel, e deixar locais sempre arejados”, alertou.

Bellei falou da importância de os médicos, principalmente aqueles que retornarão à atividade clínica no consultório, atentarem-se às novas situações preventivas.

“Independentemente da especialidade, todos nós em algum momento vamos lidar com pacientes suspeitos. Então, a nossa interação com os nossos pacientes começa antes mesmo do atendimento no consultório. O ideal seria quando a secretária agendar a consulta fazer um questionamento sobre a saúde do paciente, lembrá-lo de usar máscara e evitar acompanhante.”

Crianças podem ser agentes de saúde

Ao fim do encontro, o presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral, falou sobre a criação de um grupo, encabeçado por ele, que pretende levar informações, como forma de conscientização, sobre o novo coronavírus nas instituições de ensino. No momento, está se estreitando o diálogo com os sindicatos das escolas e com especialistas no assunto para a construção do conteúdo.

“Em muitos outros aspectos, as crianças foram transformadas em promotoras da saúde. Por exemplo, hoje elas não deixam os pais dirigirem sem o cinto. A volta às aulas é uma oportunidade de ouro para prepará-las a nos ajudar nesse enfrentamento. Quando tomarem conhecimento do quão importante é usar a máscara, elas não deixarão ninguém de seus lares sair sem a proteção.  Também podem sugerir àquela pessoa com tosse, febre ou dor muscular a procurar um médico”, concluiu o presidente da APM.