Impacto assistencial e econômico na rede hospitalar com a Covid-19 é tema de Webinar APM

Na última quarta-feira (10), o impacto assistencial e econômico na rede hospitalar e as mudanças repentinas no sistema de Saúde, brasileiro e mundial, foram os temas debatidos no Webinar da Associação Paulista de Medicina

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Na última quarta-feira (10), o impacto assistencial e econômico na rede hospitalar e as mudanças repentinas no sistema de Saúde, brasileiro e mundial, foram os temas debatidos no Webinar da Associação Paulista de Medicina. Apresentado por José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, teve os diretores Paulo Manuel Pêgo Fernandes (Científico), Álvaro Atallah e Paulo De Conti (Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências) como mediadores e transmissão pelo YouTube.

Um ano depois do início oficial da pandemia de Covid-19, em março de 2020, a disseminação das variantes descobertas em diferentes países e os altos picos de infecções pela doença fazem com que instituições de Saúde sofram com a baixa capacidade hospitalar, profissionais desmotivados e sobrecarregados, falta de medicamentos e colapso. Falando sobre o assunto, o palestrante convidado foi Francisco Roberto Balestrin Andrade, presidente do SindHosp e especialista em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

Balestrin baseou sua apresentação em pesquisas feitas nos hospitais da base do SindHosp com o objetivo de conhecer os impactos causados pela Covid-19 e oferecer elementos para a tomada de decisões por parte de seus gestores e políticas públicas. Os levantamentos foram feitos a cada 15 dias, para saber o que estava acontecendo no conjunto de hospitais do estado de São Paulo, nas mais variadas situações.

De acordo com ele, nos últimos 30 dias, o número de internações cresceu cerca de 180% nos 100 hospitais pesquisados. “Percebemos que, a partir de novembro e dezembro, tivemos uma diminuição e, em janeiro e fevereiro, sofremos o segundo pico, principalmente pelos aspectos que envolveram as aglomerações durante o final de ano, a impressão geral de que estávamos em uma situação mais adequada e os discursos políticos dizendo que a pandemia estava encerrada”, explicou o especialista.

O fato é que as aglomerações geraram, no mês de abril, um cataclismo no setor hospitalar, principalmente com unidades de terapia intensiva (UTI) lotadas de pacientes infectados, o que resultou em uma pressão enorme de pessoas à espera de leitos, com a necessidade de internações eletivas nos leitos gerais.

Variantes e impactos

Conforme ressaltou o palestrante, a variante P.1 do coronavírus – surgida em Manaus no final de 2020, sendo até 2,4 vezes mais transmissível que outras linhagens do vírus da Covid-19 – causou um aumento no número de óbitos de 353% entre pessoas de 30 a 39 anos, e 419% na faixa etária dos 40 a 49 anos, entre janeiro e março.

“Neste momento, a variante brasileira trouxe um fato novo do ponto de vista dos pacientes nos hospitais, com a diminuição da faixa etária dos pacientes e média de permanência nas unidades maior, o que gerou problemas logísticos, econômicos e operacionais nas instituições”, destacou Balestrin.

Além da falta de leitos, o presidente do Sindhosp explicou sobre o conjunto de problemas enfrentados na área da Saúde no combate à pandemia, entre eles fila de espera, cancelamento de cirurgias eletivas, falta de oxigênio, médicos e outros profissionais de Saúde e afastamento de colaboradores por problemas de saúde.

“Nos momentos mais críticos da pandemia, houve uma série de clamores para que os hospitais deixassem de fazer suas cirurgias eletivas para atendimento de pacientes com Covid-19, desde recomendação de que isso acontecesse até a proibição por parte das operadoras de planos de saúde. O grande problema no nosso País foi que não tivemos a profissionalização da propriedade hospitalar”, reforça.

Outro grande problema enfrentado com a superlotação de UTIs foi a falta e/ou aumento absurdo no preço de medicamentos do chamado kit intubação. “Nós praticamente tivemos hospitais que zeraram seus estoques de midazolam, fentanil e propofol. Além disso, tiveram aumento de preço de certa de 480%”, enfatiza.

O especialista ainda não deixou de citar a exaustão dos profissionais de Saúde. De acordo com as pesquisas realizados, 69% dos médicos se sentem desanimados e tristes, algo que poderia ser evitado com medidas de cuidados pessoais e coletivos. Muitos relatam o cansaço físico e mental com o aumento de casos e não escondem a tristeza com o comportamento da sociedade.

Reflexões

Um ponto levantado pelos moderadores foi sobre as dificuldades enfrentadas durante a pandemia em Santas Casas e instituições filantrópicas, com menores condições de lucro. Francisco Balestrin ressaltou que o Governo Federal procura sempre auxiliar essas organizações, pois atendem cerca de 55% do conjunto de pacientes do SUS. “Se não tivéssemos o SUS, imagino que poderíamos estar em uma situação muito pior. O Sistema engloba tudo, vacina, vigilância sanitária, Anvisa, atendimento médico e em instituições”, comenta.

Questionado sobre a necessidade da preparação de novos médicos para atuação nas unidades de terapia intensiva, o especialista responde que o Brasil tem uma oportunidade grande e importante, e que tem visto projetos a distância nos quais é possível levar aos profissionais conteúdo e conhecimento para operar nas UTIs. “A oportunidade de conseguir uma forma rápida de criar protocolos e levar os conhecimentos para grandes e pequenos centros de atendimento é uma grande virtude”, destaca.

“Sobre o colapso das unidades de terapia intensiva, quando fechamos todo o atendimento para atender apenas pacientes com Covid-19 e filas de espera começam a surgir, significa que o sistema já estava em colapso há muito tempo. O colapso é basicamente a falência do controle da disseminação da doença”, finalizou José Luiz Gomes do Amaral.

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