A terceira tertúlia do ano da Academia de Medicina de São Paulo ocorreu na última quarta-feira, 12 de abril, na sede da Associação Paulista de Medicina, de forma híbrida. Neste mês, o tema escolhido foi câncer de pênis, apresentado pelo professor Titular de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Antônio Carlos Lima Pompeo.
“O palestrante de hoje é um conhecido de longa data, desde a época de residente, há mais de 40 anos. Ele se destaca, basicamente, na subespecialidade de Uro-oncologia e, hoje, vai falar sobre um assunto pouco citado nos países desenvolvidos – e, infelizmente, um enorme problema em nosso País. Estou me referindo ao câncer de pênis, doença que a Sociedade de Urologia vem tentando mitigar. Aproveito para saudar todos os presentes e agradecer mais uma vez o nosso palestrante”, pontuou – o presidente da AMSP, Hélio Begliomini.
O câncer de pênis é uma patologia rara e com alta incidência nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, entre 10% e 15%. Nos Estados Unidos e na Europa, esse número representa menos de 1%. Paciente com lesão peniana apresenta mau aspecto e odor, resistente a tratamento local, ocasionando dificuldades no convívio social e interferindo na qualidade de vida. As pessoas acometidas, geralmente, são homens com mais de 50 anos e de baixo nível social. Entre as causas frequentes estão fimose, infecção por certos subtipos de papilomavírus humano (HPV), higiene, tabagismo, balanopostites – doenças inflamatórias do pênis e outras.
De acordo com Pompeo, o diagnóstico e o tratamento em geral são tardios, o que resulta em medidas terapêuticas mutiladoras. “As lesões iniciais podem ser curadas, já a moléstia avançada necessita de tratamento multidisciplinar. A qualidade de vida é comumente deteriorada, sendo importante e indispensável apoio psicológico. É necessária a participação efetiva das autoridades de Saúde e das sociedades médicas para a conscientização das pessoas sobre o tema.”
No Maranhão, foi realizado estudo com 116 pacientes com câncer de pênis, com idade em torno de 60 anos, que foram atendidos em uma instituição bem conhecida da região. Desses, 66% tinham fimose e 60% HPV, além de higiene baixa e doenças sexualmente transmissíveis. “O que mais impressionou foi a zoofilia, uma vez que 60% dos pacientes relataram em questionário terem relacionamento sexual com animais.”
Prevenção e Estadiamento
A prevenção do câncer de pênis se dá por meio de alguns cuidados, como higiene, circuncisão (fimose), preservativos (DTS e HPV), vacina HPV (SUS) e, nos casos de lesões genitais, procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS). “É possível prevenir este câncer e eu não tenho a intenção de alarmá-los, mas precisamos mostrar a importância desta doença”, esclareceu.
O urologista acrescenta que o progresso do tratamento é muito lento, em função do pouco investimento. “É extremamente importante a realização de campanhas de conscientização para os médicos, profissionais e sociedade. Vale lembrar que o mês de fevereiro é dedicado ao câncer de pênis. Por conta do tempo que o paciente leva para buscar ajuda, muitas vezes, a moléstia já está avançada”, frisou.
O estadiamento tumoral, além de orientar o tratamento, fornece informações sobre a probabilidade de cura e o prognóstico. O exame físico criterioso pode levantar suspeita sobre infiltração tumoral e metástase inguinal.
Lesão primária – tratamento tópico (5-FU-Imiquimod)
- Circuncisão – Penectomia parcial/total
- Laser – Radioterapia
- Emasculação
Linfadenectomia inguinal
- Sentinela – Superficial/Profundo/Pélvico
- Terapia neo/adjuvante (quimio/radio)
Tratamento de câncer avançado/metastático
- Quimioterapia – Imunoterapia
- Radioterapia
- Associações
Homenagem a Carlos Henrique Menke
Antes de dar início à Tertúlia Acadêmica, Hélio Begliomini homenageou o colega e ex-presidente da Academia Sul Rio-Grandense de Medicina, Carlos Henrique Menke, que faleceu no último dia 30 de março.
Menke teve uma trajetória de realizações importantes no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, entre elas a liderança do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia (1989 a 1993). Participou da fundação, em 1991, da Legião Assistencial de Apoio ao Paciente com Câncer do HCPA e fundou o Centro de Estudos do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia da instituição. Em 1993, atuou na Administração Central do hospital como adjunto da Vice-Presidência Médica durante dois anos.
Nossos sinceros sentimentos à família e amigos.
Texto: Alessandra Sales
Fotos: BBustos Fotografia