A vigésima edição do Congresso Paulista de Medicina do Sono está chegando – será realizada nos dias 5 e 6 de maio, no Espaço Villa Blue Tree, em São Paulo – e, por isso, a Comissão Organizadora está promovendo uma série de lives de aquecimento. Na última semana, foram três eventos pelo Instagram, nos dias 3, 4 e 5 de abril.
Na primeira live, foram debatidos Insônia e Sonolência, pelo psiquiatra Alexandre Azevedo e pelo neurologista Lucio Huebra. Azevedo destacou que há muita dúvida ao se falar sobre insônia, uma vez que os pacientes têm dúvidas sobre quando é, de fato, um sintoma e quando não é. Para o médico, é fundamental saber que todos estão sujeitos a terem noites de insônias, no entanto, a diferença para os critérios diagnósticos se dá quando tais episódios passam a ter uma recorrência frequente na rotina de noites mal dormidas.
“A insônia traz repercussões durante o dia por meio de sinais cognitivos, como déficit de atenção, concentração, memória; nos sintomas afetivos, causando irritabilidade e humor entristecido; mexe com os sintomas comportamentais, ocasionando impulsividades; nos sintomas somáticos, leva a problemas gastrointestinais, cefaleia e dores que repercutem no dia a dia do indivíduo”, explicou.
Já Huebra relatou que há uma série de estigmas relacionados à sonolência excessiva diurna, relembrando que, apesar de muitas pessoas acreditarem que este fator e a insônia sejam opostos, na realidade, estão muito próximos. O neurologista explicou que a sonolência excessiva, na maior parte das vezes, está relacionada a um evento secundário associado a alterações no ritmo circadiano, ao uso de medicamentos ou a transtornos mentais, por exemplo.
“É muito comum vermos pessoas se queixando, comentando de insônia, sofrendo de sonolência excessiva diurna por muito tempo, mas não buscarem ajuda médica, e isso está relacionado a alguns preconceitos da sociedade, que apontam esses indivíduos como sonolentos ou preguiçosos, mas não encaram como um distúrbio do sono e um problema de saúde. É muito comum essa percepção ruim em relação ao sono, então é frequente perguntarmos para o paciente se sente sonolência durante o dia e ele negar, mas ao aplicarmos questionários de impressões subjetivas, fica muito claro que sofre, sim, com este fator”, descreveu.
O especialista relembrou que a causa mais comum de sonolência excessiva está relacionada a pacientes que se privam de sono e que não têm uma quantidade mínima de horas para estarem completamente descansados. “O mais comum na insônia é manter um estado de hiper alerta, essa dificuldade de iniciar e manter o sono. E mesmo se tentar dormir durante o dia, caso se sinta sonolento, o paciente terá essa dificuldade.”
Bruxismo
A segunda live, na terça-feira (4), foi com a pneumologista Erika Treptow e a cirurgiã-dentista Thays Crosara, para um debate sobre bruxismo e comorbidades. De acordo com Thays, o bruxismo se configura como o aumento da atividade muscular mastigatória enquanto o indivíduo dorme. É algo fisiológico e todos têm movimentação da musculatura ao pegarem no sono, no entanto, o problema ocorre quando esta atividade aumenta em número ou em intensidade, causando consequências patológicas.
“Hoje, sabemos que o bruxismo é considerado um distúrbio do sono e causa consequências clínicas, musculares, articulares e dentárias, se está ligado a alguma condição sistêmica ou a alguma outra comorbidade. Se não está, o consideramos apenas como uma alteração de comportamento”, relatou.
A cirurgiã-dentista explicou que há uma diferença na prevalência do bruxismo em torno das idades, de modo que crianças têm maior tendência de ter esta condição, que vai diminuindo no decorrer da vida. Todavia, isso vem sendo questionado, já que os pacientes podem afirmar uma coisa, mas os resultados dos exames apresentarem outra.
“Até pouco tempo, o diagnóstico de bruxismo se definia pelo relato do próprio paciente e em suas queixas, mas hoje a anamnese vai muito além, investigando as comorbidades associadas. Há muitas condições clínicas que precisam ser averiguadas para se chegar a um diagnóstico preciso, por isso, o bruxismo precisa de uma abordagem multidisciplinar, do contrário não conseguimos controlar aquele paciente”, declarou.
Thays Crosara descreveu também que um trabalho do Instituto do Sono conseguiu analisar que há uma sobreposição para mulheres com queixas de insônia, indicando que elas têm maior probabilidade de terem bruxismo. Além disso, a insônia está completamente associada aos níveis de estresse e ansiedade, o que também acontece com o bruxismo, por isso, em um dia de muita inquietação, é normal ranger os dentes.
“O paciente mais ansioso tem mais pré-disposição para a insônia e, consequentemente, para o bruxismo. Nós, dentistas do sono, precisamos de parceria de médicos, fisioterapeutas, precisamos trabalhar em conjunto. Para os médicos, é importante que investiguem as condições orofaciais dos pacientes, porque muitas vezes aquele indivíduo não sabe o que está sentindo de dor na musculatura e na articulação, de modo que isso pode estar associado ao distúrbio do sono, então é fundamental ter esse olhar multiprofissional”, finalizou.
Utilização do CPAP
Já na quarta (5), a otorrinolaringologista e presidente do XX Congresso Paulista de Medicina do Sono, Tatiana Vidigal, recebeu a fisioterapeuta Lilian de Paula para abordar o tema “Dificuldades na adaptação do CPAP”. Segundo a presidente, ao mesmo tempo que a utilização do aparelho CPAP se configura como algo muito desafiador, também é gratificante ver que um paciente conseguiu o adaptar em sua vida.
Lilian explicou o que consiste o CPAP, um compressor que pega o ar do ambiente em que se respira e entrega pressão por meio de uma máscara, deixando a garganta do paciente aberta por esse processo de pressurização. Este é o instrumento mais utilizado na adaptação de pacientes e vem com um umidificador, o que faz muita diferença para manter a via área bem umidificada e aquecida – principalmente nos dias frios –, como ela deveria sempre estar.
“A máscara é o objetivo principal de adaptação. Entendemos qual é a melhor opção para o nosso paciente e o direcionamos conforme a necessidade, porque ele precisa dormir com algo confortável, por isso, a máscara precisa atender a esses requisitos. Além disso, os profissionais, junto dos pacientes, precisam ter paciência e entender que é tudo parte de um processo. O indivíduo, às vezes, passou cerca de 60 anos da vida dormindo sem nada, então é um processo de adaptação e é natural que cause desconforto”, indicou.
Para a fisioterapeuta, por ser considerado padrão ouro no tratamento de apneia, o CPAP é a primeira escolha para lidar com os casos. No entanto, antes disso é necessário haver um acompanhamento detalhado, pois, nem sempre o aparelho poderá ser indicado, apesar de ser considerado ideal para grande parte dos pacientes. Além disso, ele também pode estar relacionado a queixas de claustrofobia, ressecamento nasal e constrangimento, já que engloba a questão da vaidade. Contudo, o trabalho do profissional auxilia na melhor forma de o paciente lidar com tais questões.
Ao finalizar a apresentação, Tatiana Vidigal relembrou que este trabalho é feito entre um time que engloba o apoio dos familiares, os médicos e o próprio CPAP, já que quanto mais utilizado, maiores serão os resultados positivos. “A Medicina do Sono está crescendo e estamos preparados para receber esses pacientes, a apneia do sono é uma doença extremamente prevalente, então precisamos olhá-los com muito carinho. É uma doença crônica, então são pacientes que precisamos acompanhar sempre a longo prazo”, completou.
Para realizar sua inscrição no XX Congresso Paulista de Medicina do Sono e consultar a grade completa da programação, acesse este link.