No segundo dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health – evento organizado pela Associação Paulista de Medicina no Transamerica Expo Center, de 3 a 6 de abril -, especialistas internacionais compartilharam experiências sobre o uso de tecnologia médica a distância em seus países.
Na primeira conferência do dia 4 de abril, o palestrante norte-americano Bernie Elliot, representante da American Telemedicine Association, reforçou a ideia de que a Telemedicina e a Saúde Digital reduzem gastos com o deslocamento geográfico e possibilitam maior acesso e resolubilidade dos pacientes.
“Quem tem filhos pequenos, por exemplo, sabe que pode aparecer um sintoma de febre, dor de ouvido ou garganta. E precisa reprogramar sua rotina para praticamente mais de três horas entre levar a criança ao médico, esperar a fila de atendimento e voltar para a casa. Com a facilidade virtual, isso seria resolvido em poucos minutos e já teria a receita médica.” Ele acrescenta que, através de tecnologia integrada, com preço mais acessível, haveria ainda redução de visitas aos prontos-socorros e maior acesso aos especialistas.
De acordo com ele, a partir de 2016 houve uma ampliação em termos globais de assistência, permitindo ao paciente acesso à rede virtual no ambiente domiciliar ou em outro espaço. A longo prazo, Elliot acredita que haverá uma expansão futura e integrada da Telemedicina e da Saúde Digital, com o oferecimento de cuidados para questões crônicas, e uma evolução no monitoramento remoto de pacientes.
O especialista belga Frank Lievens, diretor da Internacional Society for Telemedicine, fez uma síntese histórica sobre as transformações tecno-comunicacionais, passando pelo surgimento do telégrafo, do telefone e da Telemedicina. “Muitas máquinas foram construídas. Se não tivessem sido inventadas naquela época, talvez não estaríamos no grau evolutivo de hoje.”
Com um mundo cada vez mais conectado, além da inteligência artificial e da nano Medicina, Lievens diz que esses avanços são significativos e sem volta, mas que é fundamental garantir o controle das máquinas, e não ser dominado por elas. “Precisamos manter a tecnologia ao nosso dispor, com maior acessibilidade, segurança e qualidade, e facilitar o benefício para os usuários. Há muitos trabalhos, são criados 800 aplicativos todos os dias, realmente é uma selva eletrônica.”
Ele também parabenizou a iniciativa do GS Telemedicine & Digital Health, uma excelente oportunidade de se trabalhar em conjunto com outros países. “A Telemedicina é importante em termos de dimensão local, nacional e internacional. Precisamos compreendê-la e dominá-la, sempre tendo em mente os pacientes, que também são nós mesmos.”
Ao redor do mundo
O israelense Pi Ben-Elazar, diretor executivo da Mor Research Applications (IL), considera que a atenção à Saúde passa por um processo de “uberização”, com uma variedade de tecnologias e grandes plataformas, transformando todos os setores sociais. “A Saúde Digital possibilita aos pacientes empoderamento para cuidar da saúde, porque os usuários querem respostas imediatas e eficientes.”
O especialista falou da empresa Zebra Medical Vision, projeto piloto que evoluiu serviços de saúde digital em Israel, e exibiu os avanços da Pediatria on-line – que de 2009 a 2019 atendeu mais de 1 milhão de chamadas, com 74% de resolubilidade no atendimento a crianças menores de 4 anos, qualidade, acessibilidade, custo menor e satisfação dos casos.
Já o fundador do Strategy Institute for eHealth, Andreas Keck, apresentou alguns casos de países europeus importantes no uso de Telemedicina e Saúde Digital. No Reino Unido, por exemplo, houve uma diminuição de 80% nas internações hospitalares com o uso dos novos recursos tecnológicos a distância.
O palestrante norte-americano Robert Wah, ex-presidente e membro do conselho da American Telemedicine Association, explica que nos Estados Unidos houve uma nova regulamentação de prontuários digitais, com investimento de 30 bilhões de dólares para a transição do papel para o virtual. Na interconectividade, o país investiu 1 bilhão de dólares na ferramenta e, mais recente, tem aplicado recursos em tecnologia para informações digitais.
Entre os cuidados com a tecnologia, ele destaca a necessidade de se atentar à segurança dos dados privados do paciente. “As redes sociais são outro desafio. Lembre-se da confidencialidade e do que é exposto em mídia social. Muito cuidado com o que se fala dos usuários, porque pode voltar-se contra você.”
O palestrante alemão Tobias Zobel, gerente da Plataforma de Inovação em Saúde Digital D.hip, reitera que a segurança digital é elementar para que projetos de leis sejam aprovados. “Mais do que isso, é sempre necessário ouvir do paciente se está disposto a doar seus dados para pesquisa.”
Na Alemanha, em 2018, foi permitido o tratamento a distância, mesmo sendo o primeiro contato do usuário. “O próximo passo é pedir a liberação de receita eletrônica. Precisamos conversar com associações médicas de cada estado para avançar a discussão também neste processo de aprovação.”
Fotos: BBustos Fotografia