Entre os painéis mais notáveis do quarto e último dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health, que aconteceu em 16 de outubro, esteve o moderado por Fernando Cembranelli, médico e CEO do Health Innova Hub, cujo tema foi “Telemedicina e a Experiência com a Covid-19”.
O primeiro palestrante da mesa foi do médico Guilherme Weigert, CEO da Conexa Saúde. Ele destacou que, atualmente, o método de atendimento não é mais linear, pois o paciente tem participação ativa em seu tratamento. E adicionou que, através da Telemedicina, é possível reduzir idas ao pronto-socorro, encaminhando o paciente diretamente ao médico de família, visando sempre a alta e a resolução do problema.
Weigert também falou da efetividade que a Telemedicina traz aos profissionais de Saúde e aos pacientes. “É uma iniciativa que mexe muito com o mercado e isso já vem acontecendo desde antes da Covid-19. Nosso objetivo é mostrar para o Brasil e para o mundo os indicadores que refletem o tanto que a Telemedicina dá certo.”
Como exemplificou, através de aplicativos desenvolvidos pelo Conexa Saúde, é possível disponibilizar para o médico o monitoramento de pacientes que estejam afastados do trabalho por conta de doenças, oferecendo atestados médicos e serviços de telepsicologia, que contribuem para a analisar a saúde mental – que tende a ficar afetada em períodos de isolamento social por conta da pandemia.
Diante deste cenário, o palestrante mostrou que foi possível diminuir os custos dos serviços e aumentar a qualidade do atendimento, já que se evitou idas desnecessárias ao hospital. Isso fez com que apenas pacientes que se enquadravam em casos suspeitos de coronavírus fossem encaminhados ao atendimento presencial. Cerca de 95% do restante pôde receber atendimento remoto.
“Eu quis mostrar os resultados porque a gente fala do tanto que a Telemedicina pode gerar impacto e quando mostramos esses números para o mercado e analisamos como os indicadores atuam na prática, conseguimos provar que a
Telemedicina tende a ser apenas positiva. Ela é a solução para diversos problemas de saúde”, concluiu Weigert.
Cenários desafiadores
O responsável pela segunda apresentação do painel foi o CEO da Docway, Fábio Tiepolo, que abordou o tema “O Papel da Telemedicina em Cenários Desafiadores de Saúde”. Ele descreveu ao público virtual toda a trajetória da empresa e quais são os principais objetivos da corporação.
Fundada em 2015, a Docway tem foco em saúde, inovação e humanização. O intuito é transformar o sistema de saúde, cuidando de pacientes onde quer que eles estejam. Através do seu crescimento, no ano de 2019, os funcionários desenvolveram a teletriagem, unificando os canais da empresa e indicando que atendimentos em domicílio ou por chamada de vídeo tendem a ser muito eficientes.
O período da pandemia indicou a necessidade de a companhia criar uma plataforma direta com o consultório, até mesmo no sentido de englobar mais pacientes neste cenário.
“A falta de profissionais nos extremos do País ficou muito evidente na pandemia. O que podemos fazer para mudar isso? A Telemedicina proporciona um arsenal de possibilidades, como teleconsultoria, telediagnóstico, telemonitoramento, telerregulação, teleducação. Quando a gente se depara com isso, a gente consegue olhar além para resolver novos desafios.”
Sendo assim, na visão de Tiepolo, o Brasil pode utilizar os exemplos de medidas utilizadas por outros países no combate ao coronavírus, diminuindo a capacidade de circulação de indivíduos em estabelecimentos de saúde, reduzindo riscos de contaminação e propagação de doenças e penetrando em lugares de difícil acesso ou com estrutura deficitária.
O palestrante evidenciou que uma maneira de colaborar para o trabalho do médico durante a pandemia é organizar as ferramentas, oferecendo aos profissionais uma jornada digital efetiva dentro do sistema de saúde, que contribua para organizar toda a experiência no atendimento do paciente.
“A Telemedicina permitiu o funcionamento de parte do sistema de saúde durante o lockdown, minimizou o risco de infecção ao evitar que pacientes ficassem aglomerados, usou efetivamente o tempo médico já que o profissional pôde contribuir mesmo estando longe, proporcionou a distribuição do cuidado, chegou em locais que a Medicina antes não alcançava e trouxe alívio para a saúde mental”, finalizou.
Receitas digitais
A prescrição de receitas digitais é um dos grandes temas da Medicina atual. Quem falou sobre a utilização e a popularização destes documentos eletrônicos no País durante a pandemia foi Ricardo Moraes, CEO e co-founder da MeMed.
Falando sobre a forma que a MeMed foi criada, Moraes desenvolveu uma linha do tempo para relembrar a história da companhia. A criação da empresa aconteceu em 2012, quando ele e um dos sócios perceberam que um dos maiores empecilhos na vida do médico era a grande quantidade de papel utilizada em prescrição de receitas, pedidos de exames, atestados, receitas médicas etc.
“A receita digital já era uma realidade em diversos países. Na Dinamarca, por exemplo, ela já existia desde os anos 90. Então a gente passou a se perguntar por que essa não poderia ser uma realidade no Brasil também. A nossa missão é transformar o atendimento médico em uma coisa mais humana, a gente quer tirar do médico essa parte burocrática”, explicou.
A empresa, inicialmente, disponibilizava prontuários eletrônicos apenas para a área da Dermatologia. No entanto, em 2015, expandiu a possibilidade a todas as especialidades. Apesar do grande avanço no número de usuários e prescrições, porém, as farmácias ainda não aceitavam as receitas digitais e alguns médicos possuíam resistência em indicá-las.
A chegada da pandemia e do isolamento social proporcionou uma mudança no cenário. “O lockdown forçou para que as pessoas buscassem por alternativas. Então no período da pandemia a gente quadruplicou o número de contratos fechados e a nossa interação já cresceu mais de 765%. Temos parcerias com hospitais e convênios. Quando a gente tira essa dependência da receita no papel, aumentamos as possibilidades de melhorias na adesão ao tratamento médico. São diversas oportunidades que surgem quando tornamos as coisas mais digitais” disse.
Covid-19 em Portugal
Finalizando as apresentações esteve presente Daniel Ferreira, diretor do Centro Clínico Digital no Hospital Luz da Lisboa, em Portugal, que abordou o tema “Telemedicina em Portugal na Covid-19 e para além da pandemia”, tratando das medidas efetivas que o país teve para combater o coronavírus.
O médico afirmou que atualmente as pessoas já não precisam pegar filas para irem ao banco para pagar contas ou fazerem compras no supermercado, pois existe uma gama de aplicativos que permite que estas ações sejam realizadas no conforto do lar. Sendo assim, é necessário amplificar tal benefício para a área da Saúde e permitir que os pacientes não precisem se locomover desnecessariamente.
Durante a pandemia, o uso de Telemedicina em Portugal foi ainda acentuado. “Nós sabemos algumas coisas sobre a Telemedicina e podemos afirmar que ela é benéfica para intervenções de doenças específicas. Sendo assim, criamos alternativas remotas fazendo com que o impacto da atuação do trabalho a distância seja mais relevante.”
“Ao longo dos registros que criamos percebemos que nem todas as especialidades eram compatíveis para fazer atendimento remoto. Então, para resolver a questão, desenvolvemos uma tabela de modo que o médico pode assinar um termo e dizer em quais casos é recomendado o atendimento presencial”, adicionou Ferreira.
Atualmente, Portugal conta com videoconsultas em 41 especialidades que contam com médicos treinados para a Telemedicina. Além disso, o Hospital da Luz de Lisboa, referência no atendimento de Telemedicina no país, passou por uma grande reforma durante o período de pandemia, reestruturando suas instalações e investindo na educação dos profissionais.
“Os profissionais de saúde tiveram de ser treinados para atender virtualmente, ninguém estava preparado para isso. Tivemos que montar toda uma estruturação para a equipe conseguir atender diretamente de casa. Foi muito desafiador porque a nossa rede é muito grande. Muita gente teve que criar tudo do zero em tempo recorde, então temos que pensar em modelos abrangentes de Telemedicina em um cenário que vá além da pandemia”, encerrou.