Inteligência Artificial e aplicativos de consultas são tema do Warm Up São Paulo

Uma das novas tecnologias que deve causar grande impacto no setor é a inteligência artificial. Mas como o médico pode aplicar esse recurso em diagnóstico mais acurado de exames, ou há possibilidade de substituir o profissional? Essas foram algumas das perguntas feitas aos especialistas no Warm Up São Paulo

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Uma das novas tecnologias que deve causar grande impacto no setor é a inteligência artificial. Mas como o médico pode aplicar esse recurso em diagnóstico mais acurado de exames, ou há possibilidade de substituir o profissional? Essas foram algumas das perguntas feitas aos especialistas no Warm Up São Paulo – evento de aquecimento ao 2º Global Summit Telemedicine & Digital Health, que ocorre de 2 a 5 de junho de 2020 no Transamerica Expo Center -, realizado pela Associação Paulista de Medicina, em 30 de agosto.

“Vejo mais como uma ferramenta que pode ser agregada ao trabalho do médico. Quando se fala em substituição, de fato, haverá algumas mudanças nas funções do profissional, algumas patologias simples e altamente repetitivas serão diagnosticadas pela Inteligência Artificial, por exemplo, como já ocorrem em muitos casos hoje”, acredita o CEO e fundador da Neomed, Gustavo Kuster. Segundo ele, os especialistas terão de estar preparados para operar esses novos sistemas. “O médico servirá como operador da IA, um filtro para que as patologias mais complexas passem para a mão do especialista de fato.”

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Chao Lung Wen ressalta que a inteligência artificial precisa ser desmistificada, pois trata-se de um tipo de software. De acordo com ele, a capacidade de decisão do profissional também será ampliada com o recurso. “O fato de eu usar um aplicativo de rota como o Waze, por exemplo, não diminui a minha responsabilidade. Pelo contrário, preciso desenvolver técnicas e contextos. Além disso, saber ter opiniões relevantes, contextualizar, articular em equipe e ter empatia fundamentarão essa capacidade expandida.”

O termo inteligência aumentada, de acordo com o gerente médico de Telemedicina do Hospital Albert Einstein, Eduardo Cordioli, define melhor a capacidade da máquina melhorar a tomada de decisão do profissional médico. “Revisão sistemática nos mostrou em Dermatologia uma cura diagnóstica de 72%. Quando se faz teledermatologia, aumenta essa porcentagem para 80% a 90%. Com a junção do ser humano e da máquina, a cura diagnóstica sobe para 93%. Há diversas evidências científicas a respeito. Em resumo, o médico é importante e tem a sua responsabilidade no processo de cura do paciente, por isso, precisaremos nos reorganizar para essa realidade.”

Relacionamento
“Não basta apenas ter conhecimento técnico, é preciso empatia para lidar com o paciente”, sintetiza o diretor da holding Dal Ben Home Care & Senior Care da Clínica Althea, Rogério Rabelo. Ele inclui que a interação entre profissionais não será perdida. “As especialidades não desaparecerão, no entanto, os médicos precisarão conversar mais com os colegas para ajudar a traduzir uma informação do mundo clínico, por exemplo.”

Além de contribuir para melhorar o relacionamento entre pacientes, o diretor médico da Teladoc, Caio Soares, destaca que o uso responsável das tecnologias é essencial. “O papel da Associação Paulista de Medicina, dos conselhos médicos e das sociedades de especialidades é entender qual o limite de uso desses sistemas de inteligência avançada. Estamos vivenciando, atualmente, uma situação de casos de sarampo, e quem deve ou não se vacinar? Está aí um bom apoio para a tomada de decisões, ganharemos em tempo para nos reconectarmos com o mundo real.”

Aplicativos
Recentemente, algumas instituições, associações, hospitais, planos de saúde e entidades lançaram consultas médicas via aplicativo. A reação imediata do Conselho Federal de Medicina foi pedir explicações, uma vez que o código de ética não permite essa iniciativa. Especialistas explicam que o medo – nesse processo transitório de utilização das novas ferramentas – define a preocupação atual.

“Estamos vivendo uma transição no mundo, não só na área médica, como na política, na saúde, na educação. Temos de superar as resistências e assumir o nosso protagonismo como médicos para utilizar essas plataformas e pressionar nossos próprios conselhos e a sociedade para entender que somos aliados na abertura de novas perspectivas e ouvir o que o nosso paciente quer. Há um pouco de corporativismo, mas é preciso superar o medo atual”, afirma Rabelo.

“É uma mistura de tudo, tem um pouco de corporativismo, medo, mais do que isso, infelizmente, as tecnologias de comunicação em massa, como WhatsApp e Facebook, que permitem um entendimento muito superficial dos temas. E as pessoas tomam decisões baseadas em discussões irrelevantes”, acrescenta Cordioli.

“É medo do novo, da tecnologia, do que vai acontecer, do que não conheço. Não é corporativismo porque a sociedade médica não funciona como corpo. Daqui a 10 anos, vamos refletir, olhar para trás e dar risada dessas discussões intensas”, afirma Soares.

“Existe o medo da mudança, um comportamento humano de não entender e de rechaçar o que não entende. Quanto mais soubermos, e que fóruns como este sejam promovidos, com mais pessoas participando, mais as questões irão se clarear e as coisas tendem a melhorar”, concorda Kuster.

Wen alerta para entendimentos superficiais e a banalização no uso de aplicativos. “É apenas um software que deveria ser chamado de teleavaliação, teleorientação ou teletriagem referenciada, menos teleconsulta. Não podemos banalizar a Telemedicina como sendo apenas um aplicativo de consulta, temos o dever de explicar como é formada essa cadeia de cuidados.”

“Quando você faz a implantação de um serviço como teleorientação ou teletriagem, você tem de entender basicamente qual o propósito, não apenas colocar para funcionar porque está na moda e parece bonito tecnologicamente, os propósitos são diferentes para determinados públicos estratégicos”, avalia o diretor executivo do Siate, José Luciano.

Futuro
Quais são as aplicações práticas dos novos sistemas tecnológicos e onde podemos ir com eles? “Há vários wearables [dispositivos vestíveis] que são ferramentas já integradas para fazer captura de dados que podem contribuir lá na ponta. Teremos instrumentos novos que se juntarão a isso para permitir que o teleatendimento tenha dados diagnósticos”, acredita Rabelo.

“Não dá para saber onde vamos parar, é muito cedo para tirarmos conclusões porque estamos no começo de um processo de transformação grande; isso influenciará e impactará cada um de nós, de maneira a facilitar o acesso e a ter mais informação para tomarmos decisões mais seguras sobre a nossa vida e saúde. A prática médica, sem dúvida, estará muito envolvida na utilização de ferramentas para aumentar a própria capacidade de atuação”, responde Soares.

“Esses usos têm o potencial de agregar muito. No entanto, a tecnologia ainda não está tão acurada a ponto de separar o falso do positivo, principalmente quando se tem uma indústria tecnológica. Há uma grande onda de startups [empresas de desenvolvimento ou aprimoramento de modelos de negócio] por trás de wearables, monitoramentos crônicos e específicos, entre outras ferramentas”, informa Cordioli.

Já Wen acredita que o futuro da Telemedicina será centrado em casas inteligentes e conectadas. “Gestão no estilo de vida, na saúde pessoal e em cuidados paliativos (integrados) e recuperação em domicílio de forma eficiente são segmentos que crescerão muito na próxima década.”

Luciano presume que a usabilidade da Telemedicina ficará mais intuitiva, com possibilidade de acesso em qualquer local. “Por trás, haverá uma complexidade na segurança das informações. Temos a representação hoje de algumas tecnologias que já são realidade e que podem transformar a Telemedicina.”

Veja a íntegra no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=zTC47Kkn1lg

Fotos: BBustos Fotografia