Antibióticos: como evitar a prescrição desnecessária?

O uso abusivo e desnecessário vem crescendo. E outros efeitos nocivos de longo prazo vem sendo descobertos

O que diz a mídia

Os antibióticos representaram uma revolução na medicina. Sua eficácia no combate a infecções bacterianas permitiu a sobrevivência de milhões de pessoas a doenças que antes eram mortais e tornou as cirurgias muito mais seguras.

Mas o uso abusivo e desnecessário vem crescendo. E outros efeitos nocivos de longo prazo vem sendo descobertos.

A própria palavra já diz: anti-bios = contra a vida. Eles matam bactérias, e hoje sabemos que nossa saúde depende das trilhões que temos espalhadas em nosso corpo. Não somos indivíduos, somos comunidades em simbiose. Como os antibióticos matam também as boas bactérias, provocam alterações em muitas funções orgânicas. E no início da vida essa “comunidade” é especialmente sensível.

O uso de antibióticos está associado a muitos problemas. Estudos mostram que a utilização antes de 2 anos, especialmente se repetida. pode aumentar o risco de asma, rinite alérgica, obesidade, alergias alimentares, TDAH e dermatite atópica. Em adultos, pesquisas associam o uso a muitas doenças e a menor longevidade.

O uso excessivo traz também uma ameaça para toda a humanidade: o risco do desenvolvimento de superbactérias, resistentes aos remédios, que fariam a medicina regredir 200 anos.

Por isso é preciso tomar antibióticos apenas quando são ABSOLUTAMENTE necessários. Essa é uma decisão às vezes difícil para o médico e, infelizmente, a formação nos faz ser muito “liberais” com essas drogas, que acabam prescritas em “caso de dúvidas”. Especialmente nas emergências, onde o contexto, a pressão institucional ou da família geram prescrições desnecessárias.

A grande maioria das doenças febris infantis são virais, e antibióticos só servem para as bacterianas. Talvez a melhor forma de evitar a prescrição desnecessária seja esperar um pouco em casa. Se o estado geral da criança é bom, se os sintomas são leves, se sorri e se alimenta, aguarde de dois a três dias nas febres, resfriados, gripes, antes de levar à emergência. Fale sempre com o pediatra para monitorar. A exceção são crianças menores de 3 meses, que devem sempre ser examinadas.

Veja mais algumas dicas importantes:

  • As crianças terão febres e gripes, que não melhoram com antibióticos. Não tenha essa expectativa. As doenças virais melhoram sozinhas, com o tempo (de 3 a 5 dias em geral).
  • Evite ir à emergência sem necessidade. Uma criança em bom estado geral, comendo e brincando, com febres que melhoram com antitérmicos, pode esperar em casa. A exceção são os bebês com menos de três meses, que devem ser examinados com qualquer quadro febril.
  • Use tratamentos caseiros para as doenças do dia a dia. O principal é a água: hidrate muito, de todas as formas. Ofereça o tempo todo. Use soro nasal, vapor e bebidas quentes, além da boa e velha lavagem nasal com soro morno.
  • Banhos frescos podem ajudar a baixar a febre. Dê antitérmicos para febres altas ou se a criança estiver se sentindo mal.
  • Ofereça alimentos saudáveis, ricos em fibras. Alho, orégano, cravo e cúrcuma podem ajudar nas infecções. Evite açúcar e ultraprocessados. Ofereça mel para tosses nos maiores de 15 meses. Mantenha a higiene e vacinas em dia.
  • Pergunte ao médico se a doença do seu filho é bacteriana ou viral. Discuta os riscos e benefícios dos antibióticos: é seu direito.
  • Se um antibiótico for prescrito, use nos intervalos e no tempo recomendados. Não guarde antibióticos “para a próxima vez”. Fale sempre com seu pediatra.

Fonte: O Globo Online/Daniel Becker