Apesar da celebração do Outubro Rosa — período do ano em que se faz a campanha contra o câncer de mama —, os números relacionados à doença não dão motivos para otimismo.
Isso porque dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostraram uma expressiva redução, em algumas regiões do país, na procura pela mamografia no Sistema Único de Saúde (SUS).
Por causa da pandemia de covid-19, na comparação entre 2019 e 2020 houve uma diminuição da demanda pelo exame de até 41%. Na comparação entre 2021 e o anterior, houve uma retomada, mas em algumas regiões os números continuam abaixo àqueles coletados dois anos antes.
A mamografia tem dois tipos de exame: a de rastreamento — para mulheres sem sinais e sintomas de câncer de mama, na faixa etária entre 50 a 69 anos, e que devem ser realizados a cada dois anos — e a de diagnóstico — destinadas às mulheres abaixo dos 50 anos e indicada, principalmente, para avaliar alterações mamárias consideradas suspeitas. O Inca explica que as principais baixas ocorreram no segundo tipo de rastreamento.
Desde 2016, Norte e Nordeste são as regiões que têm a menor adesão ao exame dos dois tipos.
Em 2021, foram feitos 65.130 e 518.680, respectivamente. Mas, em comparação com o Sudeste — que em 2020 ultrapassou um milhão de atendimentos e, no ano passado, superou a marca de 994 mil —, os estados nortistas e nordestinos continuam muito para trás.
“Norte e Nordeste têm menor número devido à dificuldade social, à ausência de compreensão da importância da mamografia de maneira sistemática. Apesar do avanço das políticas públicas, existem pessoas que moram muito distante dos grandes centros urbanos, que acabam postergando a realização do exame pela falta de informação. Além disso, muitas mulheres têm dificuldades de locomoção e de acesso aos locais de realização”, explicou Linduína Rocha, assessora técnica da Escola de Saúde Pública do Ceará.
Redução Porém, ainda que o Sudeste tenha atingido bons números, a queda vertiginosa dos últimos anos também afetou a região.
Em 2020, a procura pelos exames caiu quase à metade — de pouco mais de 1,2 milhão para 753.908 (veja o infográfico). Em 2021, a procura subiu para 994.625, ainda abaixo do número de dois anos antes.
“As mulheres estão ignorando o cuidado: quanto mais se faz isso, mais grave os casos se tornam. A pandemia aprofundou essa situação porque fez com que as pessoas se afastassem do serviço de saúde, desde a saúde básica até as mais especializadas.
Se não faz o diagnóstico precoce, a chance de o problema ser maior é muito significativa”, ressalta a especialista. O descuido com a doença e a fuga do tratamento também é uma questão cultural, segundo Linduína. “Uma das maiores dificuldades são as vulnerabilidades financeira, cultural e social das mulheres.
O governo precisa ter um olhar específico para elas e isso tem que vir por meio das políticas públicas.
Precisam criar caminhos para que as mulheres compreendam a importância do exame e tenham a locomoção aos locais facilitadas pelas políticas públicas”, salienta.
A principal consequência do descuido das mulheres é o surgimento de prognósticos graves de câncer de mama. “Médicos que atendem em hospitais ou consultórios especializados são unânimes em dizer que os casos que apareceram no ano passado, e neste ano, são mais graves do que poderiam ser. A postergação causou complicações bem mais graves do que os de antes da pandemia. O câncer demora para se manifestar, mas, quando se torna perceptível, a evolução é muito rápida”, adverte José Cechin, superintendente executivo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
Fonte: Correio Braziliense