“A presença do Líbano no Brasil é marcante em todos os aspectos da evolução de nossa sociedade. Os tantos libaneses que nos privilegiaram ao escolher nosso País como sua segunda pátria, generosamente compartilharam conosco sua riqueza cultural que, no talento e no trabalho de seus filhos, tem contribuído imensamente na construção do Brasil. Ao Líbano e aos libaneses, a expressão da gratidão dos médicos brasileiros”, destaca o presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral.
A APM lamenta a grande catástrofe ocorrida em Beirute, capital do Líbano, em 4 de agosto, quando uma explosão no porto local deixou mais de 200 mortos e 6.000 feridos, além de ter provocado grandes prejuízos materiais. Estimativas indicam que os danos são da ordem dos 15 bilhões de dólares.
Um grupo de médicos brasileiros partiu, no último domingo (9), para Beirute, com 30 mil cm² de pele de tilápia para tratar os ferimentos causados por queimaduras na população local. O método pioneiro foi desenvolvido, em 2014, na Universidade Federal do Ceará. O Governo Federal também anunciou que enviará ajuda aos libaneses. Na última semana, na estátua do Cristo Redentor, em homenagem às vítimas, foi projetada a bandeira do Líbano.
Segundo a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, atualmente são cerca de 12 milhões de descendentes de árabes (sírios e libaneses principalmente) no País. Mais especificamente sobre a comunidade libanesa, a última estimativa do Senado Federal era de que havia cerca de 10 milhões de libaneses e descendentes em território brasileiro. Um número que impressiona, visto que pouco mais de 6,5 milhões de pessoas vivem, atualmente, no Líbano.
A presença da comunidade libanesa na Medicina local, inclusive, é massiva. O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP), fundado ainda na década de 1920, é o maior expoente do estabelecimento deste povo no Brasil, sendo um hospital de reconhecimento não só nacional, como mundial.
Campanha da Associação Médica
Outra representação de destaque é a Associação Médica Líbano-Brasileira (AMLB), presidida por Robert Nemer que, em conjunto com a Câmara do Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), tem arrecadado doações para tratamento das vítimas. “Com a pandemia, aumentou a lotação dos hospitais e três foram danificados pela explosão. Muitos feridos têm ido para cidades próximas porque esses hospitais foram interditados. Oferecemos a ida de médicos, mas o que eles precisam mesmo agora é de material” disse Nemer, ao jornal O Globo.
“As imagens mexeram muito com a gente, porque voltam à memória as cenas da guerra. Abraço é muito bom, mas não cura ninguém, e a ferida lá é muito grande. Temos 250 mil desabrigados, mas o momento de ajudar é este e tem bastante gente colaborando. Beirute foi destruída pela oitava vez na sua história, com mais de cinco mil anos, mas ela vai renascer”, completou o oftalmologista – que nasceu em Beirute e chegou em São Paulo aos 17 anos.
Segundo a AMLB e a CCAB, a campanha de doação irá continuar o tempo que for preciso para seguir ajudando no socorro e na reconstrução de Beirute, além de assistir às famílias desabrigadas e na reconstrução dos hospitais danificados na cidade. Haverá outros carregamentos por algumas semanas. Cada ajuda é muito importante. Doe o que puder e quiser. Ajudem a doar nesta campanha ou em qualquer outra ação confiável em socorro ao Líbano.
Depósitos na conta bancária abaixo:
Associação Médica Líbano-Brasileira
Banco Santander (033)
Ag 1199
c/c 13000982-5
CNPJ 08.326.792/0001-09
Histórico de imigração
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme publicado em sua seção “Brasil 500 Anos”, os libaneses (e árabes, em geral) emigraram por motivos religiosos e econômico-sociais ligados à estrutura agrária dos países de origem. No Império Otomano de fé islâmica, por exemplo, a comunidade cristã do Líbano, bem como a da Síria, foi perseguida.
No Brasil, a maioria dos imigrantes árabes se dirigiu para São Paulo. Número menor foi para o Rio de Janeiro e para Minas Gerais, com alguns poucos se estabelecendo no Rio Grande do Sul e na Bahia. Até 1920, mais de 58 mil imigrantes árabes haviam entrado no Brasil – 40% deles no estado paulista.
A primeira leva de libaneses se estabeleceu nos centros urbanos. Na cidade de São Paulo, nos anos 1930, estavam concentrados na Sé ou na Santa Ifigênia. Logo, muitos iniciaram atividades como mascates, introduzindo inovações que são vistas como traços típicos do comércio popular até hoje, como as práticas de alta rotatividade e quantidade de mercadorias vendidas, promoções e liquidações. Muitos, com o aumento de capital, abriram casas comerciais, sobretudo lojas de tecidos a varejo e armarinhos. A comunidade, então, partiu para o setor industrial.
Já no início do século XX, os imigrantes começaram a estabelecer o seu movimento associativo. Hoje, são dezenas de instituições de herança libanesa no estado de São Paulo. Além do citado Hospital Sírio-Libanês, destaca-se na capital paulista o empreendimento do Clube Atlético Monte Líbano.
Influências sociais
A contribuição libanesa para a cultura brasileira é mais do que evidente. Na culinária, por exemplo, ela está presente na popularidade de alimentos como quibes, esfihas, tabules, beirutes, coalhadas e outras comidas típicas, que já fazem parte, inclusive, de padarias brasileiras e/ou lusitanas e pastelarias de origem chinesa.
No campo das artes, a herança do Líbano também é sentida. São alguns dos principais autores brasileiros de origem libanesa: os paulistas Jamil Almansur Haddad e Raduan Nassar; e o amazonense Milton Hatoum.
É de um libanês uma das mais famosas filmagens do cinema brasileiro: uma gravação do bando do cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião, feita por Abrão Benjamin. O fotógrafo foi, posteriormente, tema de uma película sobre o cangaço, “Baile Perfumado”. Walter Hugo Khouri e Arnaldo Jabour são outros cineastas famosos da comunidade.
Na política nacional, também há proeminência libanesa. Levantamento de 2015, por exemplo, mostrava que 8% dos parlamentares no Congresso tinham ascendentes do Líbano. O ex-presidente Michel Temer, agora convidado para chefiar a missão de ajuda a Beirute, é um dos representantes da comunidade, que também tem famílias famosas no âmbito parlamentar, como Haddad, Maluf e Kassab.