A Gastronomia tem o poder de despertar sensações e fazer seus apreciadores viajarem para diversos destinos simplesmente por meio da culinária. Esta rica arte é foco do mais novo programa da Associação Paulista de Medicina, que leva o nome de “Harmonização: Vinho & Comida” e teve a sua primeira edição realizada na última quinta-feira, 22 de setembro, com um jantar especial, harmonizado com vinhos argentinos.
O evento teve início na Pinacoteca da entidade, onde os convidados puderam conferir as obras de arte do acervo da sede da APM – que reúne importantes nomes, como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Recepcionados pela coordenadora Cultural da instituição, Flávia Negrão, os participantes foram afortunados com uma rica explicação acerca da história dos quadros e de que forma a Associação adquiriu cada uma das obras.
Em seguida, o superintendente de Operações e Finanças da Associação, Luiz Cláudio de Oliveira, assumiu a palavra, agradecendo a presença de todos. “Estamos muito satisfeitos em dar início a esta série de encontros. Queremos levar este projeto também para o Hotel Fazenda da APM, o que será muito interessante por conta do clima da região. Por isso, gostaríamos que os senhores, seus familiares e demais convidados possam estar sempre presentes, expandindo a ação”, disse.
A harmonização com os vinhos da Argentina foi realizada pelo sommelier da importadora Casa Flora, Renato Lutgens, formado pelo Senac São Paulo. Há 13 anos atuando no mercado, Lutgens fez estágios em diferentes vinícolas da Argentina, Chile, Espanha e Portugal. O jantar foi assinado pelo chef Josemar Sant’Anna, formado pela Escola de Gastronomia Le Cordon Bleu Paris e responsável pelos serviços de buffet da APM.
Iniciando a apresentação, o sommelier salientou que a cultura da Gastronomia esteve ainda mais acentuada durante o período de isolamento social ocasionado pela pandemia de coronavírus – de modo que o Brasil alcançou a marca de 2.7 no consumo per capita de vinhos, se classificando como o País que mais consumiu a bebida, com um crescimento de 200% do mercado.
Vinicultura argentina
Deste modo, o vinho argentino se faz presente nas taças de muitos brasileiros, visto que é um dos mais consumidos no País, especialmente o Malbec, por ser um dos mais populares. Exemplo desta relação é a Bodega Norton, vinícola com mais de 125 anos de história e cinco vinhedos em Mendoza, parceira da Casa Flora desde maio e responsável pelos vinhos servidos durante o jantar.
“Ela foi fundada em 1895, por Edmund James Palmer Norton, passando para Gernot Langes Swarovski, de modo que a Bodega Norton é pertencente ao Grupo Swarovski. Em 1991, Michael Halstrick passou a ser CEO da empresa, lidando diretamente com a expansão da vinícola. O que já era grande, passou a ser ainda maior, tendo um olhar para a exportação, já que 50% da produção anual de vinhos na Argentina são consumidos no próprio país, que valoriza muito a produção local”, explicou o especialista.
A Argentina é o quinto maior produtor de vinho mundialmente, sendo Mendoza um dos destaques. A cidade, que fica a cerca de 1.058 km da capital, Buenos Aires – aproximadamente a mesma distância de São Paulo a Vitória (ES) –, possui uma altitude acima dos níveis de cidades como Toscana e Nápole, na Itália, estando a 5.259 metros de altitude. E o impacto da altitude e o clima têm relação total na qualidade da uva e do vinho. Em regiões frias, há maior acidez na bebida; nas quentes, é possível saborear muita fruta e sentir o gosto acentuado do álcool; enquanto em lugares de temperaturas amenas e estáveis, os apreciadores de vinho constatam que o seu sabor é moderado.
“É o clima que irá determinar tais características sobre o vinho. Em Mendoza, por exemplo, o clima é de deserto, seco, o que protege bastante o vinhedo. Além disso, as uvas vêm com uma coloração profunda, de forte pigmentação. Há também influência na concentração de açúcar, cor, sabor e amadurecimento da fruta, pois as temperaturas da região costumam cair bruscamente durante a noite, indo de 35º a 12º, e as uvas sentem isso, propiciando sabores, acidezes e novos mecanismos”, detalhou Lutgens.
Anualmente, a Bodega Norton produz milhões de garrafas, alcançado 70 países em termos de exportação. Ela também conta com mais de 400 funcionários, que são movidos pela motivação e contribuem para que a Argentina seja referência na produção de vinhos. É a bodega mais premiada da região, acumulando cerca de 150 prêmios internacionais e contando com valores que ajudam a manter a excelência no serviço, como ética, profissionalismo, honestidade e valorização do trabalho em equipe.
A empresa também tem como vertente a importância do consumo familiar, possibilitando que pais e filhos possam apreciar um bom vinho juntos, por exemplo. Por isso, é uma grande fabricante de bebidas suaves, importantíssimas para contribuir na formação de novos consumidores. Ao levar em consideração que o Brasil é um mercado potencial, busca agregar pessoas que comecem no vinho suave e depois passem para o seco.
Características das bebidas
Durante o jantar, foram servidas quatro diferentes bebidas. A primeira delas foi o espumante Norton Extra Brut. O sommelier destacou que a bebida é descendente da região de Luján de Cuyo, em Mendoza, elaborado com as uvas Chenin Blinc e Chardonnay, passando por um processo de fermentação em que fica a 15º por 28 dias. É uma bebida festiva, fácil de beber e que abre portas para as refeições.
O segundo vinho servido foi o Norton Select Chardonnay. Conforme explicou o especialista, o vinho branco precisa ter acidez, pois ela é a espinha dorsal da bebida. “O vinho branco está sempre presente por ser mais leve, e isso é bem representado na nossa gastronomia, através dos vegetais, carnes brancas e pescados, sendo um caimento perfeito. A temperatura é fundamental para o vinho, pois uma bebida muito gelada mascara os seus defeitos e qualidades. Um vinho tinto muito gelado anulará as sensações, assim como um vinho branco quente terá o efeito contrário.”
Já o terceiro foi o Norton Barrel Select Malbec. A uva, originária da França, foi erradicada na Argentina, se adaptando à região e se tornando uma referência do país. “Ao desfrutarmos deste vinho, percebemos a compota típica de Malbec, sentimos aquela característica típica do álcool, mas muito saboroso. É feito com uma boa fruta, possibilitando acidez, tanino e um bom equilíbrio. Por ser um vinho classificado entre leve e médio, é bom tanto para quem gosta da bebida com pouca estrutura e podendo ser servido também para quem prefere o vinho encorpado, agradando a todos.”
Para acompanhar a sobremesa, os convidados foram servidos com o licor Carolans, possibilitando uma harmonização do chocolate meio amargo da mousse com a bebida. A próxima edição do programa “Harmonização: Vinho & Comida” está programada para acontecer no dia 20 de outubro, a partir das 19h, e terá a Itália como tema.
Texto: Julia Rohrer
Fotos: Marina Bustos