Ingestão de álcool por jovens não traz benefícios

Para os mais velhos, há alguns benefícios, a depender o perfil de consumo e consumidor.

O que diz a mídia

Um drinque —ou mais — pode ser um dos atalhos preferidos de jovens no mundo inteiro para desinibir. Mas não serve para muito mais, segundo a ciência. Um novo estudo com dados de consumo de álcool em diversas faixas etárias apontou que a ingestão de álcool não traz nenhum efeito positivo para a saúde antes dos 40 anos de idade. Para os mais velhos, há alguns benefícios, a depender o perfil de consumo e consumidor.

No trabalho, um time de pesquisadores analisou dados do Estudo de Carga Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco (GBD), uma ampla pesquisa que envolveu dados de pessoas entre 15 a 95 anos, de 204 países, coletados entre 1990 e 2020. Para avaliar os impactos do álcool, eles observaram 22 critérios de saúde, como doenças cardiovasculares, diabetes, risco de acidente vascular cerebral (AVC), câncer e até mesmo acidentes em veículos motorizados, suicídios e homicídios sob efeitos da bebida. Com isso, estimaram os limites em que a substância começa a trazer prejuízos.

DUAS MEDIDAS
Na faixa de 15 a 39 anos, esse limite foi muito baixo: um décimo de uma dose, algo como alguns goles, já era suficiente para ser considerado prejudicial. A medida da dose na análise é o equivalente a uma taça de vinho de 100 ml, com 13% de álcool: uma lata ou garrafa de 375 ml de cerveja, com 3,5%; ou um shot de destilado de 30 ml, com 40%. Logo. apenas 10% dessas unidades seria aceitável neste público, uma quantidade encarada como desprezível pelos pesquisadores.

Já naqueles com 40 anos ou mais, desde que sem problemas de saúde adjacentes, uma quantidade pequena da substância por dia levou a uma redução nos riscos de AVC, cardiopatia isquêmica e diabetes. Para os que tinham até 64 anos, esse limite variou entre meia dose e quase duas doses. Já nos com 65 anos ou mais essa tolerância foi maior: pouco mais de três doses ao dia. No geral, os autores do artigo defendem que o limite diário para os benefícios deve ser considerado em média 1,87 dose, aproximadamente 13 taças de vinho, latas de cerveja ou shots de destilados por semana.

Os responsáveis pelo trabalho, publicado na revista científica The Lancet sustentam que as diretrizes em relação ao consumo de álcool deveriam, portanto, ser focadas nas idades de 15 a 39 anos, especialmente homens, que foi o público mais afetado pelos efeitos danosos da substância.

“Nossa mensagem é simples: os jovens não devem beber, mas os mais velhos podem se beneficiar bebendo em pequenas quantidades. Embora possa não ser realista pensar que os jovens adultos vão se abster de beber, achamos importante comunicar as evidências mais recentes para que todos possam tomar decisões informadas sobre sua saúde”, afirma a autora sênior da análise, Emmanuela Gakidou, professora da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em comunicado.

A endocrinologista Paula Pires, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo, destaca que, além dos impactos já conhecidos na saúde, o início precoce do consumo também aumenta o risco para quadros de dependência ainda na juventude.

— Alguns estudos já evidenciaram que começar o consumo de álcool muito precoce na adolescência aumenta o risco de dependência alcoólica |á numa idade jovem, como nos 25 anos, porque o cérebro do adolescente ainda é muito vulnerável. E nós temos visto hoje que adolescentes começam a beber mais cedo — alerta.

O estudo é o primeiro do tipo a observar de forma tão ampla a ingestão de bebidas alcoólicas no mundo. Baseando-se em estimativas, os pesquisadores indicaram que 1,34 bilhão de pessoas ingeriram quantidades danosas da álcool em 2020.

Fonte: O Globo / Bernardo Yoneshigue