Rede D’Or e SulAmérica: fusão faz setor de saúde pressionar o Cade

A questão, neste caso, não é a concentração de mercado, mas o acesso à informações estratégicas e condições comerciais privilegiadas

O que diz a mídia

A fusão de Rede D’Or e SulAmérica provocou um pressão inédita do setor de saúde no órgão de defesa da concorrência brasileiro, o Cade. Nove empresas — os hospitais AC Camargo, Sírio-Libanês, Albert Einstein, BP- Beneficência Portuguesa, HCor, Oswaldo Cruz e Mater Dei e as administradoras de benefícios Supermed e Benevix — entraram com pedido de impugnação do negócio no órgão na última terça-feira.

A questão, neste caso, não é a concentração de mercado, mas o acesso à informações estratégicas e condições comerciais privilegiadas.

Um dos pontos críticos da operação é o fato de a Rede D’Or ser a maior acionista, com 29%, da Qualicorp, administradora de benefícios. Para os concorrentes, a administradora poderia vir a privilegiar a venda dos planos da SulAmérica e ainda oferecendo condições especiais. Outro é o acesso que o grupo teria a valores praticados por outros hospitais, o que poderia lhe dar uma vantagem competitiva.

A Diretoria de Normas e Habilitação das Operadoras (Diope) da Agência Nacional de Saúde (ANS), se posicionou contrária à fusão. A Rede D’Or entrou com recurso junto à diretoria colegiada do órgão. Do ponto de vista da agência, diz uma fonte próxima ao órgão regulador, pesa o fato de a administradora de benefício, a Qualicorp, e o plano de saúde, a SulAmérica, passarem a fazer parte do mesmo grupo. Tal prática é vedada por lei, pois cria um conflito de interesse já que a administradora de benefício deve agir como representante do interesse do consumidor frente ao plano.

Diante da pressão, a estratégia da Rede D’Or, em caso de imposição de restrições por ANS ou Cade seria privilegiar o negócio com a SulAmérica em detrimento da Qualicorp. E que sua principal meta é criar uma grande rede de assistência à saúde, dizem fontes.

A Rede D’Or tem confiança de que o negócio será aprovado. Analistas também apostam nisso, mas apontam três possíveis “remédios” a serem aplicados por Cade e ANS.

‘RISCO DE VERTICALIZAÇÂO’
O primeiro seria determinar a redução da participação ou até a venda das ações que a Rede D’Or possui da Qualicorp. Outro seria impedir que a administradora de benefícios venda planos SulAmérica. O terceiro seria garantir que todas as administradoras do mercado tivessem as mesmas condições para a venda de contratos da SulAmérica.

Fonte próxima às empresas que recorreram ao Cade afirma que a Qualicorp já oferece planos da SulAmérica com descontos de 40% a 49% a clientes que tiveram reajuste em planos de outras operadoras. “Essa é uma das provas que podem vir a ser apresentadas ao Cade”, diz, destacando que nunca houve reação semelhante no setor de saúde.

O risco de verticalização é citado por Maria Stella Gregori. ex-diretora da ANS: “Pelo prisma da concentração, não acredito que vá ultrapassar os 20% do mercado estipulado pela lei. A operação prevê ainda que SulAmérica e Rede D’Or continuem operando separadamente, mas temo que isso possa se tomar uma verticalização disfarçada, para reduzir custos, algo que teria que ser monitorado”.

Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, diz que o mercado acredita que a fusão sai. Do contrário, pode haver efeito negativo sobre as ações das empresas. Ontem, os papéis ordinários da Rede D’Or, com direito a voto, fecharam com queda de 1,03%, a RS 29,82, e os da Qualicorp caíram 2,73%, para RS 12,13%. As units da SulAmérica cederam 3,17%.

Procurada, a ANS disse que operações societárias em tramitação são sigilosas. Rede D’Or e SulAmérica estão confiantes tia aprovação do negócio e dizem que ele segue a tramitação regular. Já a Qualicorp diz não ser parte mencionada na operação nem processo nesse sentido na ANS.

Fonte: O Globo / Luciana Casemiro