Dando continuidade ao cronograma de reuniões com as Sociedades de Especialidades, na tarde da última terça-feira, 05 de julho, a Associação Paulista de Medicina recebeu representantes da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) no segundo encontro da série de reuniões promovidas durante todo o mês de julho.
A reunião contou com a presença de José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM e Jorge Assumpção, superintendente de Estratégia e Marketing. Representando a Sogesp, estava o presidente da instituição, Luciano e Melo Pompei e a secretária geral Maria Rita de Souza Mesquita.
Iniciando as apresentações, Gomes do Amaral ponderou que o principal intuito das reuniões é aproximar as entidades em um contexto diferente. “A Associação Médica, de forma geral, se expandiu e, à medida em que as especialidades foram construídas, os médicos se reuniram para discutir seus pontos de vista e interesses em comum. Com isso, foram criados departamentos de especialidades no intuito de discutir ideias para cultivarem e criarem uma sede própria para cada especialidade, e chegamos na situação atual, o que consequentemente resultou em um afastamento entre as áreas”.
O presidente da APM também destacou que acredita que seja uma desvantagem apenas uma pessoa representar todos os membros de uma sociedade. Se unindo à APM cada especialidade contará com representantes de São Paulo, por meio de um convênio elegível e membros indicados pelas próprias Sociedades. “A princípio, serão dois representantes por organização, presidente e coordenador científico que irão preparar eventos, sessões de debate e determinar o que pode ser feito em relação à eventos promovidos pela instituição. Caso precise, o coordenador poderá substituir o presidente.”
Prosseguindo com a pauta, Gomes do Amaral ressaltou que o segundo objetivo do encontro é ouvir sugestões para apresentar aos candidatos durante as eleições gerais, entre elas ideias, planos e expectativas das Sociedades participantes.
Interferências na prática médica
Sobre as sugestões e participação de médicos para com as sociedades, o presidente da Sogesp Luciano e Melo Pompei , se diz confiante em realizar projetos junto aos associados. “Acredito que poderíamos fazer um trabalho junto com os associados ao decorrer de congressos e ações realizados pela instituição e, eventualmente, aproveitar a oportunidade para receber sugestões de profissionais da Saúde durante os eventos.”
“Particularmente, tenho a preocupação com a proliferação de Faculdades de Medicina e a falta de interesse na área de obstetrícia e assistentes obstétricos. Hoje, é comum vermos pessoas que se denominam profissionais por fazerem cursos rápidos de Doula e acreditam poder interferir no conhecimento médico, o que interrompe o relacionamento entre médico-paciente”.
Pompei também pontuou que frequentemente os meios de comunicação influenciam outros profissionais a interferirem na prática obstétrica. “O grande problema é que quem interfere na prática médica se ‘formou’ em cursos básicos de poucas semanas, o que acaba minando uma relação estabelecida há meses entre obstetra e gestante.”
Do ponto de vista político, Maria Rita de Souza Mesquita, secretária geral da Sociedade, enfatizou que durante muitos anos a classe médica foi mal representada, e ressaltou as dificuldades enfrentadas com acusações voltadas para a violência obstétrica. “É fato que a violência médica é algo frequente e muitíssimo grave, e acredito que essas situações ficaram focadas no profissional médico. A violência ocorre por parte dos médicos, mas também parte de outros profissionais que acompanham, mas também parte dos demais profissionais que acompanham as mulheres durante a gestação.”
Ela salientou que existe um movimento social em prol de busca de direitos para profissionais sem formação médica. “Não entendo de onde vem o cume desta situação, de quando o médico deixou seu lugar de profissional e quando o bom senso foi perdido. Nós médicos fomos perdendo espaço ao longo dos anos, por isso a importância de representação política se faz necessária.”
A especialista também comentou sobre a presença de doulas como acompanhantes durante a gestação e sobre o Projeto de Lei 3.946/2021, aprovado pelo Senado em março deste ano, que regulamenta a profissão de Doula, caracterizada por uma pessoa que oferece apoio psicológico, conforto e suporte emocional à mulher durante o período de gravidez, parto e pós-parto, desde que tenha cursado o ensino médio e o curso técnico em doulagem.
“Diante desta situação, acreditamos que a melhor abordagem seria a implementação de uma equipe multidisciplinar, com intuito de ajudar a gestante como um todo. Neste sentido, é papel das sociedades estimular e ensinar ética para novos profissionais. Precisamos nos unir em torno da valorização do título de especialistas”, evidenciou a secretária geral.
Gomes do Amaral complementou a fala de Maria Rita frisando que acredita que a própria mudança das Sociedades tem obrigado os médicos a adotarem uma postura diferente, se desejam ou não fazer partos naturais, ou se determinada paciente necessita de outro atendimento além do obstétrico. “Hoje, é papel da educação continuada contribuir para que o profissional médico possa retornar ao papel de assistente durante o parto e, consequentemente, barrar projetos que têm dado autonomia a partos domiciliares, o que resulta em um aumento significativo de aumento de complicações durante o nascimento, tanto para a mãe quanto para a criança. Precisamos tomar cuidado com essas alternativas.”
O presidente da APM ainda destacou as vantagens das Sociedades ao serem parceiras da APM, entre elas a disponibilidade de cursos de extensão voltados para todas as especialidades. “Tenho a certeza de que a Sogesp tem muitíssima capacidade de promover ações em prol de estudos em relação a prática de ginecologia e obstetrícia, e estamos a disposição para isso.”
Destacou também sobre o foco central da Associação no momento, a telemedicina. “Em suas várias modalidades, a telemedicina se adapta, mas cada especialidade tem suas peculiaridades. Com isso, cabe a Sogesp definir o que será abordado durante a prática, como ações voltadas para acompanhamento pré-natal, monitoramento ou teleconsulta. Hoje, podemos contar com especialistas em telemedicina a nosso dispor, por isso precisamos estabelecer um programa conjunto para construir tecnologias e reunir ações para nos colocarmos à frente dessa nova tecnologia, prática que veio para ficar e continua evoluindo. É isso o que buscamos, evolução constante .”
Finalizando a reunião, Jorge Assumpção exibiu uma apresentação sobre a trajetória da Associação Paulista de Medicina, contando as principais melhorias realizadas recentemente para maior conforto de parceiros e associados. “Este ano, completamos 92 anos, período que culminou em mudanças e melhorias em toda a estrutura da Associação, agora temos mais lazer com Hotel Fazenda APM, educação continuada por meio do Instituto de Ensino APM (IEAPM), além de promoção de congressos, espaços para eventos e presente atuação política e associativa.”
Fotos: Marina Bustos