A Associação Paulista de Medicina realizou, na última quarta-feira, 18 de maio, a décima edição do ano de seu webinar, com debate do tema “A dor e sua abordagem pela Acupuntura”. Em parceria com a Associação Médica Brasileira, o evento teve transmissão ao vivo pelo canal da APM no YouTube. Apresentado por João Sobreira, 1º vice-presidente da APM, o webinar foi moderado por Claudia Missorelli, especialista em Acupuntura e presidente da Comissão de Dor da AMB, e Eduardo Guilherme D’Alessandro, especialista em Clínica Médica e Acupuntura.
Abrindo as apresentações, Telma Zakka, presidente do Comitê de Dor da APM e acupunturista, falou sobre “Avaliação, diagnóstico e tratamento”. A especialista iniciou sua exposição explicando que a tecnologia está disponibilizando cada vez mais exames e modernidades, porém, o grande diferencial do diagnóstico, que é a parte clínica, ainda está em falta.
“A definição da dor é a de uma experiência sensitiva, emocional e desagradável, associada ou semelhante àquela de uma lesão tecidual real ou potencial. A dor é uma experiência subjetiva, influenciada em graus variáveis por fatores biológicos, psicológicos e sociais. Dor e nocicepção são fenômenos diferentes, não se pode deduzir a experiência da dor pelas atividades sensitivas. As pessoas aprendem o conceito de dor e suas aplicações através das experiências de vida, e é preciso respeitar, aceitar e entender o relato do indivíduo sobre sua experiência dolorosa”, completou.
Eventos adversos, diagnóstico e tratamento
Telma ressaltou que a dor exerce um papel adaptativo, podendo desencadear uma série de eventos adversos. Além dele, o que mais afeta o indivíduo acometido são as limitações na funcionalidade e qualidade de vida. A palestrante destacou, também, que não é só a descrição verbal que mostra como a dor se identifica. A expressão do corpo e da face ajuda a identificar e compreender a dor do paciente.
“Um dos principais fatores é a falta de tratamento com a dor aguda, que atinge na maioria das vezes mulheres, idosos, pessoas fumantes, idosas, obesas e sedentárias. Além disso, o tipo de abordagem profissional desse indivíduo, a falta do sono e deficiência de vitamina D, resulta em quadro de dor importante”, salientou.
Em relação às questões psicológicas, a médica afirmou que depressão e ansiedade são quadros que se interligam à dor crônica. Ainda, segundo estudos, a dor crônica foi mais presente em indivíduos com depressão e bipolaridade, ocorrendo em 50% dos casos de transtornos de humor.
Sobre a caracterização da dor, Telma Zakka salientou que, na maioria das vezes, é definida quanto à sua duração, origem, etiologia e intensidade. Em relação à duração, a dor pode ser considerada como aguda caso manifestada até 3 meses, podendo ser sintoma de um processo inflamatório, fratura ou pós-cirúrgico. Já a dor crônica é caracterizada por ser contínua ou recorrente, persistindo mesmo após a resolução da doença e com duração de até 6 meses.
Sinais diretos ou indiretos podem ser indicativos de dor, entre eles franzir a testa e fechar os olhos. Em casos assim, normalmente são realizados exames laboratoriais, tomografia e ressonância. Entretanto, segundo a especialista, nada é mais importante do que o exame realizado pelo médico, que irá questionar sobre o que o paciente realmente está sentindo. “Nada faz o diagnóstico se não houver uma anamnese detalhada e avaliação geral com o doente, para identificar se a dor é visceral, se atingiu o sistema locomotor e se há indícios de psiquismo.”
De acordo com ela, analgésicos opioides e não opioides são as principais formas para o tratamento da dor. “Uma das coisas que nos orienta e traz base para possíveis tratamentos é a escada analgésica da Organização Mundial da Saúde (OMS), que se baseia na intensidade da dor e potencialidade do fármaco. Para a dor aguda, temos a distribuição dos fármacos por potência analgésica. Nestes casos, ações da Acupuntura promovem analgesia, relaxamento muscular, melhora do sono, do humor, da ansiedade e da depressão. Quando associamos fármacos à Acupuntura e vice-versa, conseguimos obter um resultado satisfatório, sendo importante também associar à Fisioterapia, ficar atento às moderações posturais e, principalmente, analisar o todo, com intuito central de beneficiar o nosso paciente”, concluiu.
Funcionalidades e indicações da Acupuntura
Em continuidade às apresentações, André Tsai, presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA) e vice-presidente do Comitê de Dor da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), baseou sua palestra no tema “Como a Acupuntura funciona? Quais indicações?”.
Iniciou sua fala contando sobre o desenvolvimento da Acupuntura no Brasil. Originada de um conjunto de conhecimentos teórico-empíricos da Medicina Tradicional Chinesa, a Acupuntura é um método terapêutico que consiste na estimulação, por meio de agulhas, em pontos específicos da pele. Os estímulos desses pontos têm como característica regular o fluxo energético, responsável pela fisiologia do organismo.
Segundo o especialista, as principais indicações são para dores do aparelho musculoesquelético, pós-operatório, região cefálica, condições oncológicas, condições pós-AVC, dificuldades para engravidar, sintomas de climatério, distúrbios de sono e transtornos de ansiedade e humor. “Tanto no Brasil quanto na China, a principal indicação para a prática tem sido na área da dor, sendo ela aguda ou crônica. Tem sido muito mais empregada em seu
diagnóstico crônico. Na dor aguda, segundo dados publicados pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, os números giram em torno de 8% a 10%.”
Além de oferecer tratamento para alívio da dor, a grande vantagem da Acupuntura é uma abordagem mais holística, de todos os sintomas que aparecem em conjunto, como alteração de humor, sono, níveis de ansiedade e, consequentemente, da qualidade de vida do paciente, de acordo com Tsai.
Os pontos, ou “acupontos”, são locais da pele em que se aplicam as agulhas durante a sessão de Acupuntura. Estão localizados no trajeto dos meridianos, próximos às estruturas em que existem diversas terminações nervosas, entre elas feixes musculares, tendões, ligamentos e articulações: “O ponto da dor nada mais é que espaços naturais que podem ser encontrados na palpação, ou seja, a separação entre dois ventrículos musculares ou dos tendões que se inserem no mesmo acidente ósseo”.
Para ele, a agulha é um bisturi na mão do acupunturista. A Acupuntura é o ramo cirúrgico da Medicina Chinesa. Quando a agulha é inserida no paciente, obtém-se uma sensação anestésica. “Quando usamos a Acupuntura para promover analgesia nos pacientes, a técnica é a de inativação dos pontos. A Acupuntura é um gesto analgésico eficaz para determinadas condições e, com certeza, exerce funções neuromoduladoras para a dor crônica. Hoje, fazemos a integração dos dois conhecimentos, Acupuntura e Medicina Chinesa, por isso precisamos orientar os pacientes desde o calçado que está usando, postura, alimentação e até mesmo vestuários.”
Discussão
Ao final das apresentações, houve um tempo para debate. Respondendo sobre dores nociplásticas, Telma Zakka explicou que são episódios de dores sem lesões, traumas ou fraturas. “Apesar de não apresentar condições físicas, neste tipo de dor tem-se uma percepção aumentada. Um dos exemplos de dor nociplástica é a fibromialgia, em que se tem dores por todo o corpo, cansaço, fadiga e insônia. Entretanto, realizando exames, não será diagnosticado nada.”
Questionado sobre as possíveis complicações da prática da Acupuntura, André Tsai respondeu que, infelizmente, podem ocorrer. “Complicações ocorrem principalmente quando a prática é realizada por pessoas não habilitadas. Assim como comentei anteriormente, a Acupuntura é o ramo cirúrgico da Medicina Chinesa, e quando não praticada da forma correta, pode atingir pleura, peritônio e até mesmo o intestino”, salientou o especialista.
“Assim como outras áreas, a Acupuntura também sofre com a invasão de não-médicos. Alguns não entendem a complexidade e a necessidade de se ter um conhecimento amplo da Medicina para poder exercer uma especialidade médica”, finalizou João Sobreira.
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