Canabidiol ajuda a combater bactérias resistentes a drogas

Pesquisadores brasileiros testaram composto presente na maconha associado a antibiótico, com resultados promissores.

O que diz a mídia

Pesquisadores brasileiros testaram composto presente na maconha associado a antibiótico, com resultados promissores.

Pesquisadores brasileiros descobriram um novo potencial para o canabidiol, ou CBD: o combate às su- perbactérias. Um estudo conduzido pelas Faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCFRP) e de Medicina (FMRP), ambas da USP em Ribeirão Preto, em parceria com a UNESP de Araraqua- rae o Instituto Ramón y Ca- jal de Investigación Sanita- ria. da Espanha, demonstrou que a combinação do canabinoide presente na maconha com o antibiótico polimixina B é capaz de tratar bactérias resistentes.

O trabalho mostrou que a associação funciona até para as bactérias que não respondiam ao medicamento separadamente. Os resultados. que foram publicados na revista Scientific Re- ports, do grupo Nature, levantam mais uma possível aplicação do composto, que não tem efeito psicoativo e apresenta diversas propriedades medicinais.

—O canabidiol tem muitas propriedades, especialmente ansiolitica, antipsicótica. anti-inflamatória. analgésica e neuroprotetora. Já existiam indicativos sobre o efeito sobre bactérias. Mas a novidade é que ele teve impacto em superbactérias que nào respondem a antibióticos e também teve efeito sobre algumas bactérias que nào tinham sido analisadas anteriormente —explica o psiquiatra José Alexandre Crippa, Erofessor da FMRP, que cola- orou com o estudo.

A resistência bacteriana é caracterizada pela capacidade das bactérias em tolerar a ação dos antibióticos. O resultado é o aumento da dificuldade em tratar doenças infecciosas, causando um prolongamento da infecção, incapacidade e até morte.

De acordo com os pesquisadores. a combinação do CBD com o medicamento se mostrou promissora até mesmo contra bactérias que também eram resistentes à polimixina B, antibiótico já utilizado nos hospitais para o tratamento de infecções hospitalares graves.

— O grande destaque do nosso trabalho é mostrar que a combinação de CBD com a polimixina B funciona contra boa parte das bactérias resistentes ao antibiótico. Por que esse já era um remédio usado como um dos últimos recursos terapêuticos. O aparecimento de bactérias resistentes a ele deixava esses pacientes quase sem opção de tratamento —explica Leonardo Neves de Andrade, professor da FCFRP-USP, biomédico e coordenador do estudo.

De acordo com o pesquisador, o conhecimento mi- crobiológico por trás desse resultado é de imensa importância para o campo científico. Os primeiros dados sobre o potencial antibacteriano do CBD mostravam que a substância tinha efeito apenas contra bactérias de um grupo, as chamadas gram-positivas. Entre as gram-negativas, ele não era eficaz porque elas têm uma membrana externa adicional que impede a ação do composto. O principal problema é que as superbactérias são segundo grupo.

AÇÃO CONJUNTA

No novo estudo, eles descobriram que, em associação com a polimixina B, o canabidiol tem efeito contra essas superbactérias.

— O mais interessante é que nós conseguimos provar que quem mata a bactéria é o canabidiol. mas o remédio desestabiliza essa membrana extra, o que permite que o CBD exerça a atividade anti- bacteriana —diz Andrade.

O CBD sozinho também teve ação contra outras bactérias, como Staphylococcus, que pode causar de faringite e endocardite; Enterococcus, que pode afetar o aparelho digestivo e urinário; Strepto- coccus. que pode provocar faringite, escarlatina, febre reumática, pneumoniae meningite; Micrococcus, que afeta o equilíbrio da microbi- ota da pele; Rhodococcus sp., relacionado com infecções respiratórias; Mycobacie- ríurn sp.. Neisserui sp. e Mora- xella sp., que podem causar infecções nas vias aéreas e sexualmente transmissíveis.

— Decidimos estudar o canabidiol com quase todas as bactérias que causam infecções em humanos, coisas que não tinha sido feita antes, e tivemos resultados muito promissores —afirma Andrade.
Para Crippa, os resultados indicam que, no futuro, o CBD pode ser adicionado a antibióticos já consagrados para melhor combater bactérias. Além disso, seu efeito anti-inflamatório, ncuropro- tetor e antioxidante torna o canabinoideumaopção interessante para o tratamento de infecções que estão associadas a processos inflamató- rios que têm impacto no sistema nervoso central, como quadros infecciosos generalizados ou de meningite.

Fonte: O Globo